Juiz suspende despejo de 3.500 famílias sem-terra em Goiás

camponeses silhuetaMais de 300 crianças, inclusive algumas recém-nascidas, junto com idosos que são parte das 3.500 famílias que ocuparam parte do latifúndio do senador Eunício de Oliveira, estavam para ser despejadas, na próxima segunda-feira, 24, do acampamento Dom Tomás Balduino, no município de Corumbá de Goiás

Comissão Pastoral da Terra

O acampamento estava vivendo momentos de tensão, já que na tarde desta sexta-feira, 21, já havia carros da tropa de choque da Polícia Militar de Goiás circulando pela área.

Dirigentes do MST e apoiadores temiam que o despejo desembocasse em uma situação fora do controle, e que pudesse gerar, inclusive, mortes, já que o histórico dos despejos no estado é de violência policial.

A área ocupada é parte das 88 propriedades que o senador declarou à justiça eleitoral nos municípios de Corumbá de Goiás, Alexânia e Abadiana, entre Goiânia e Brasília. Propriedades que foram sendo adquiridas sob muitas formas de pressão, relatadas pelos agricultores que foram retirados da área.

A ocupação da área aconteceu no dia 31 de agosto. E já no dia seguinte, o juiz de Direito da Comarca de Corumbá, Dr. Levine Raja Gabaglia Artiaga, muito próximo ao senador, concedeu liminar de reintegração de posse. Liminar concedida em tempo recorde, pois o juiz recebeu os autos do processo, às 12h38 de 01/09/2014, e um minuto depois, às 12h39, já estavam assinados e remetidos à escrivania. 

A ordem de despejo, porém, não foi executada, dado o período eleitoral. O senador era candidato a governador do Ceará, pelo PMDB, e o governo do estado de Goiás também evitou o despejo, que poderia ter reflexos na campanha pela reeleição do governador Marconi Perillo. O senador foi apresentado à sociedade como o candidato mais rico do Brasil. Na sua declaração de bens registrou um patrimônio de R$S 99.022.714,17.

Agora findo o período eleitoral, uma grande operação para o despejo das famílias já havia sido montada pela Polícia Militar do estado, com um efetivo de 5.000 policiais.

O MST entrou com recurso contra a ordem judicial no Tribunal de Justiça do Estado, recurso esse que foi negado pelo Desembargador Marcos Costa, sob a alegação de que a petição fora feita em nome de uma pessoa que não representava o grupo. Na tarde desta sexta-feira, 21, os advogados do MST deram entrada em outro recurso em nome de pessoa citada na decisão judicial como responsável pela ocupação. E agora a pouco, às 19h20, o desembargador aceitou o recurso e suspendeu o despejo.

Valdir Misnerovicz, da coordenação nacional do MST, acompanhado do bispo de Saltillo, no México, Dom Raul Veras, que visitou o acampamento na manhã de ontem na qualidade de observador internacional de Direitos Humanos, e de Frei Marcos Sassatelli, estiveram nessa tarde com o desembargador Marcos Costa, alertando para a gravidade da situação.

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