Pesca artesanal na Baía de Guanabara entra em crise com morte de milhares de peixes

Foto: Mario Campagnani
Foto: Mario Campagnani

Justiça Global

Há mais de três semanas, uma contaminação inexplicável tem levado a morte de milhares de peixes na Baía de Guanabara, o que também coloca em risco o trabalho dos mais de mil pescadores artesanais da região. Com a morte das savelhas (espécie de sardinha), todo o ecossistema da baía pode entrar em colapso, uma vez que ela também é alimento para outras espécies. Já há registros de tartarugas e até botos encontrados mortos. A Associação Homens e Mulheres do Mar da Baía de Guanabara (Ahomar) tem recebido dezenas de relatos de pescadores que estão encontrando pouquíssimos peixes nas águas, sendo que não conseguem vendê-los, por causa do medo dos consumidores com as mortes.

A ausência dos peixes tem sido justificada pelos pescadores como uma fuga dos animais das águas da baía. As savelhas, que são menores e mais lentas, não estariam conseguindo fugir, o que leva a suas mortes por algum tipo de intoxicação. O presidente da Ahomar, Alexandre Anderson de Souza, vem percorrendo as águas da baía durante os últimos dias, encontrando peixes agonizando, parecendo buscar oxigênio. “É um absurdo que isso venha ocorrendo há semanas, sem que o poder público tome uma providência. Milhares de famílias dependem da pesca e estão passando por dificuldades. Essa é mais uma de uma série de contaminações da água e outras intervenções que vem tentando inviabilizar o nosso trabalho na baía”, disse o presidente.

A pesca na baía tem sofrido grande declínio nos últimos anos, em grande parte por causa da atividade da indústria petrolífera no local, com dezenas de casos de contaminação, seja por vazamentos de tubulações, realizações de obras e limpezas de navios cargueiros, denunciam os pescadores. Ainda não está claro qual é o motivo das mortes, mas há teorias de que ela pode estar relacionada com obras e manobras ilegais de navios. “Vemos dragagens sendo feitas de forma irregular e também a passagem de embarcações muito pesadas por locais nas quais deveriam ser proibidas, como as que levam peças para o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). Com isso, podem estar levantando muitas toxinas do leito da baía”, afirma Antonio Carlos Peneira, de Paquetá.

Os pescadores também reagiram à suposta teoria de que os peixes mortos teriam sido descarte de pesca (esse tipo de sardinha não é comercializado). Para eles, é óbvio que se trata de uma contaminação, não só porque as mortes continuam ocorrendo, mas também pela quantidade. A Comlurb já divulgou mais de 80 toneladas de animais mortos encontrados nas praias, em um período de 10 dias. Apesar da inegável mortandade, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) afirma que não há contaminação na água, o que vem gerando revolta entre os pescadores. “É bem claro que os peixes mortos estão próximos de uma substância que parece um produto químico. É só sair de barco que se percebe”, afirmou Alexandre Anderson.

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