Se você pudesse fazer uma pergunta para Dilma e Aécio, qual seria?, por Leonardo Sakamoto

Leonardo Sakamoto

Ao longo dos debates entre Dilma Rousseff e Aécio Neves na TV, torci para que os dois engatassem uma discussão de profundidade sobre uma série de problemas e desafios do país. Mas os marqueteiros não deixaram.

Debate profundo sobre a reforma política ou o combate à homofobia e ao racismo? Ninguém sabe, ninguém viu. Ao invés disso, um diálogo esquisito e insuficiente, em que um lado perguntava sobre frutas e o outro respondia a respeito da largura de legumes. Ou em que um perguntava sobre torresmo e o outro falava sobre a suavidade do amaciante de roupas. Noves fora a baixaria.

Pedi para jornalistas e professores que me enviassem a pergunta que gostariam de ver respondida pelos candidatos no debate desta sexta (24) à noite, o último da campanha presidencial. É claro que essas questões não esgotam os temas importantes, mas isto é um post, não um almanaque.

Muito provavelmente vocês não verão muitas dessas perguntas na TV. Mas não significa que não tenham que ser cobradas do vencedor ou da vencedora por jornalistas e pela sociedade. Porque quem ganhar, não vai governar só para a parcela que recebeu seus votos.

Às perguntas, portanto.

***

Depois de protagonizarem uma campanha de poucas propostas e muitos ataques, que dividiu o país ao meio, vocês serão capazes de adotar uma agenda conciliadora e governar também para a metade do país que não os elegeu? Como?

Raquel Landim, repórter especial do jornal Folha de S.Paulo

***

Desde 2006, a lei brasileira garante o acesso de pacientes a cannabis medicinal, mas essa lei nunca é regulamentada, por causa do profundo desinteresse da dos órgãos técnicos de Brasília e da classe política, inclusive do seu partido. O assunto não avança e, enquanto isso, famílias são devastadas por doenças que seriam facilmente tratáveis – por exemplo, o menino Gustavo Guedes, de 1 ano e 4 meses, morreu recentemente enquanto sua família lutava para se desvencilhar do cipoal burocrático da Anvisa. Você promete que, nos termos da lei, seu governo garantirá com urgência que pacientes médicos tenham acesso a remédios de que precisam, mesmo que a matéria-prima desses remédios seja maconha?

Denis Russo Burgierman, diretor da revista Superinteressante, autor de “O Fim da Guerra” e produtor associado do documentário Ilegal, que está em cartaz nos cinemas.

***

Como você pode ajudar a construir uma polícia que respeite os direitos humanos?

Laura Capriglione, é blogueira do Yahoo e e uma das criadoras do site Ponte.

***

Estimativas apontam que cerca de 800 mil abortos ilegais são realizados por ano no Brasil. A maioria em condições bastante precárias, como mostrou reportagem recente da TV Globo. Ainda que, por vezes, a polícia estoure clínicas clandestinas, isso não é suficiente para inibir a prática. Qual a solução?

Maíra Kubik Mano, jornalista, blogueira da revista Carta Capital e doutoranda em Ciências Sociais na Unicamp, onde pesquisa questões de gênero.

***

Junho de 2013 teve início com uma revolta nacional contra o aumento dos preços das passagens de transporte público. Embora, naquele contexto, a maior parte das médias e grandes cidades tenha reduzido o valor das passagens, muito pouco se avançou para resolver estruturalmente o problema do custo e da qualidade dos transportes. Você defende uma tarifa social ou uma tarifa zero para os transportes públicos? Em termos concretos, pretende, caso eleito(a), oferecer apoio federal para reduzir o custo dos transportes públicos, seja municipalizando a Cide (que incide sobre a gasolina e permitiria aos prefeitos subsidiarem os ônibus), seja criando um fundo federal para este fim?

Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, coautor de “Vinte Centavos: A Luta Contra o Aumento”

***

Você se compromete a adotar metas de redução de homicidios no Brasil?

Bruno Paes Manso é blogueiro do jornal Estado de S.Paulo, faz pós-doutorado no Núcleo de Estudos da Violência da USP e é um dos criadores do site Ponte.

***

Como pretende lidar com a perda de relevância do Mercosul, um processo iniciado no governo Lula?

Diogo Schelp, editor executivo da revista Veja

***

Os ataques aos direitos indígenas nos últimos anos partiram, sobretudo, da bancada ruralista, que representa quase metade do Congresso. Sabemos que esse grupo estará na base governista no governo dos dois. Vocês pretendem apoiar ou frear essas iniciativas ruralistas anti-indígenas no Congresso?

Spensy Pimentel, jornalista e professor de Antropologia na Universidade Federal da Integração Latino-Americana

***

A qualidade da educação é diretamente proporcional à qualidade de seus professores. Seu programa de governo é vago quanto à remuneração docente e plano de carreira. A negligência é preocupante pois salário dos professores é cerca de 60% de carreiras com formação semelhante. Como você pretende atrair – rapidamente – os melhores estudantes para a docência?

Rodrigo Ratier, gestor da plataforma Gente que Educa, da Fundação Victor Civita, e mestre e doutorando em Educação pela USP. 

***

Que papel o governo federal poderia ter na reestruturação do futebol no país?

Murilo Garavello, gerente-geral do UOL Esporte e mestre em comunicação pela USP

***

Considerando que a Constituição Federal proíbe o monopólio nos meios de comunicação de massa, proíbe que deputados e senadores sejam donos de empresas concessionárias de rádio e TV, determina que o país tenha um sistema público de comunicação (além do sistema comercial) e que a programação das emissoras respeite os direitos humanos, que medidas concretas você adotará para garantir que a Constituição Federal seja respeitada pelas empresas de comunicação e para que a população seja ouvida sobre a qualidade do serviço de rádio e TV que recebe?

Bia Barbosa, jornalista, mestre em Políticas Públicas pela FGV-SP, integra a coordenação do Intervozes e do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

***

O Brasil é líder mundial de cesarianas (52% dos partos). No contexto de políticas de saúde pública, o que é possível ser feito para atingir o índice recomendado pela Organização Mundial da Saúde (15%)? No fim de março, no Rio Grande do Sul, Adelir Lemos de Goes foi obrigada por liminar da Justiça a ter seu bebê por cesárea. Na sua opinião, o Estado detém o poder de definir o parto por uma mulher?

Juliana de Faria, jornalista, uma das fundadoras do Olga, think tank dedicado a debater a feminilidade, e responsável pela campanha Chega de Fiu Fiu, sobre o assédio sexual em locais públicos

***

Por que vocês se orgulham tanto do apoio de artistas escritores, mas em nenhum dos debates anteriores sequer mencionaram temas ligados à cultura?

Haroldo Ceravolo, diretor de redação do Opera Mundi e presidente da Liga Brasileira de Editoras (Libre)

***

O que esperar do seu governo em termos de políticas de imigração? Pode-se esperar mais legalizações, mais assistência? Como pretende combater o abuso e a discriminação contra imigrantes vindos de países africanos e de países mais pobres do hemisfério?

Pablo Uchoa, jornalista da BBC em Londres, ex-correspondente em Washington e mestre em Politica Latino-Americana no Institute for the Study of the Americas em Londres

***

Em 2007, o Equador realizou uma auditoria sobre a legalidade ou legitimidade da dívida externa que anulou 70% dos pagamentos que seriam destinados aos credores internacionais (95% destes aceitaram a decisão). Neste ano, 2014, o Coletivo por uma Auditoria Cidadã da Dívida da França conclui um estudo que aponta que 59% da dívida francesa é ilegítima. Se o Brasil fizesse investigação semelhante, parte dos gastos com a dívida, que hoje ultrapassam 40% do orçamento e vão para os setores mais favorecidos da população, poderiam ser transferidos para saúde, educação, transportes, cultura, ciência e tecnologia, habitação, meio ambiente etc, etc. A auditoria da dívida está prevista na Constituição de 1988 e até hoje não foi realizada. Por que não realizar uma auditoria da dívida brasileira?

Luís Brasilino é editor do Le Monde Diplomatique Brasil.

Comments (3)

  1. Ótima iniciativa! E gostaria de acrescentar mais uma pergunta:
    O que V.Excia, como President@, fará em relação à questão climática, especialmente, sobre a SECA que agora atinge também o Sudeste?

  2. Ou seja: se o Spensy não estivesse lá… Já as comunidades tradicionais e a juventude negra, por exemplo…

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.