Mais uma liderança camponesa foi assassinada: Cleomar Rodrigues

Cleomar Rpodrigues em foto da Liga dos Camponeses pobres do Norte de Minas e Bahia
Cleomar Rpodrigues em foto da Liga dos Camponeses pobres do Norte de Minas e Bahia

Nesta quarta-feira, 22 de Outubro de 2014, em Pedras de Maria da Cruz/MG, mais uma liderança camponesa foi assassinada em meio à conflitos e lutas envolvendo latifundiários que, violentamente tentam calar vozes que, no sertão norte mineiro, gritam por uma urgente Reforma Agrária!

CPP

Nós, Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP, lamentamos a morte de Cleomar Rodrigues, liderança lutadora pela Reforma Agrária, militante da Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Bahia (LCP) que foi brutalmente assassinado na noite de ontem, em Pedras de Maria da Cruz/MG.

Manifestamos nossa solidariedade aos familiares e companheiros de Cleomar e externamos nosso reconhecimento à sua luta junto aos trabalhadores do campo em prol da democratização da terra e dos direitos dos camponeses no sertão Norte Mineiro.

Ao nosso entender, o assassinato do Cleomar não é um ato isolado. É muito provável, que este crime esteja diretamente vinculado às ameaças e atos violentos de fazendeiros nas mediações do território da comunidade pesqueira de Caraíbas e acampamento da Liga Camponesa, atos denunciados desde 2009. O Cleomar tem numerosas denúncias registradas na Promotoria Publica da Comarca de Januária, a respeito de atos de violência de Marcos Gusmão, conhecido por Marquinhos, gerente da fazenda Pioneira e Boa Vista, de propriedade do Sr. Antônio Aureliano.

No dia 09 de Outubro/2014, em audiência Pública, realizada pelo Ministério Público Federal, em Pedras de Mª da Cruz, para tratar de conflitos referentes à comunidade pesqueira Caraíbas, o Cleomar esteve junto com as várias organizações fazendo denúncias dos diversos casos de violência na região envolvendo fazendeiros, inclusive, a fazenda Pioneira e Boa Vista.

Na tarde de ontem, pelas 17hs, o Sr. Zezinho, pedreiro, 58 anos, que pratica também a pesca de subsistência, acompanhado de seu irmão, chegou à lagoa marginal Boa Vista, cercada dentro da fazenda Boa Vista e encontrou ali, segundo narração sua,  o Marquinhos que pescava com dois homens. Sem nenhuma discussão, o Marquinho mandou estes dois senhores matá-lo a golpes de facão. Após alguns golpes, deixaram o Sr. Zezinho que conseguiu se escapar. Quando este estava no Hospital, o Marquinho chegou à portaria do mesmo, proferindo “desaforos” e disse que em Pedras de Maria da Cruz não tem polícia que se importa com nada e que ele sempre fez isso. Foi, também, na noite de ontem, que o Cleomar foi assassinado.

Conforme, nota pública que divulgamos, no dia 22 de Setembro/14, quando a Comunidade pesqueira de Caraíbas tentou reabrir sua estrada tradicional, à margem do rio São Francisco, Marquinho interrompeu o mutirão das famílias, trouxe a policia militar e na presença destas disse que iria desfazer o trabalho do mutirão, o que efetivou no dia seguinte. Em seguida, espalhou boatos na cidade, dizendo, segundo moradores locais, que entre aquele povo “iriam morrer umas 03 pessoas”. Informamos que os fazendeiros e seus grupos, sempre se referem às famílias da Liga Camponesa e às famílias pesqueiras de Caraíbas, como um mesmo movimento, apesar de serem organizações diferentes.

Apelamos às autoridades competentes para investigarem, se o assassinato do Cleomar não consiste na 1ª vítima desta ameaça de Marquinhos. Seja quem for o autor e/ou mandante do crime, reafirmamos que este crime, certamente, não é um fato isolado.

A tensão aumenta e já chegou ao ápice! Vamos esperar que mate quem mais?

É inadmissível, que os órgãos do Estado, na esfera federal e estadual, tratem estes casos, de um mesmo conflito,  “a longo prazo” e de forma isolada, permitindo que vidas sejam ceifadas pelos latifundiários que vão fazendo sua própria justiça ignorando a competência do Estado. Tememos que esta situação conflituosa em Pedras de Maria da Cruz, esteja caracterizando, cada vez mais, fragilidade do Estado e força crescente do poder paralelo do latifúndio.

Desde o ano passado, inclusive, nos últimos 30 dias, temos efetuado denúncias relacionadas a tais conflitos, junto a diversos órgãos envolvidos neste processo, como Ouvidoria Agrária, Nacional, Polícia Federal, Civil e Militar, SPU (Superintendência do Patrimônio da União), INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e Ministério Público Federal. Já havíamos alertado quanto à iminência de tragédia como esta. Lamentamos muito!

Denunciamos e exigimos dos órgãos competentes do Estado que se faça valer a justiça!

Que se faça urgente a reforma agrária justa e digna neste país!

Que sejam demarcados os territórios de direito das comunidades tradicionais…

E que se ponha fim à violência no campo e na cidade!

Buritizeiro, 23 de Outubro de 2014.

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