Por que é importante NÃO assinar a Petição sobre “colocar no debate presidencial a pauta indígena”

petição rede globoTania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

Está correndo na internet um pedido para que se assine Petição com o título “Rede Globo – Central Globo de Jornalismo: Rede Globo, coloque no debate presidencial a pauta indígena”. O texto que defende a assinatura tem três frases curtas e diretas. As duas primeiras denunciam a situação absurda na qual se encontram os Povos Indígenas. A terceira me impediria de assinar, caso o próprio título não tivesse provocado, já, a minha reação. Assim, embora considerando que as intenções – tanto de quem criou, como de quem enviava a Petição – eram respeitáveis, respondi negativamente antes mesmo de acessar o link e ver o texto que reproduzo abaixo:

Por que isto é importante

Há décadas os índios brasileiros sofrem com a invasão ilegal de suas terras, mesmo as demarcadas, ou são expulsos delas à força, devido [a] ame[a]ças de fazendeiros, madeireiros e pistoleiros contratados, com aval dos governos. O agronegócio tem se expandido sem respeitar o meio-ambiente e assassinando índios, ou deixando-os suicidarem-se em consequência de depressão causada pelo descaso e falta de condições dignas. Queremos que a Globo questione os DOIS candidatos à presidência sobre como irão cumprir suas promessas ao agronegócio sem prejudicar os índios, que políticas de proteção aos índios irão praticar e como resolverão o impasse entre índios x setor ruralista.

Não me limitei a responder com a negativa, entretanto. Expliquei, em uma linha, que “não assino por um motivo para mim muito importante: não concedo a esses canalhas o direito de ‘colocar no debate presidencial’ pauta alguma”. Espero que a pessoa não tenha ficado ofendida e, ao contrário, pare para refletir a respeito, da mesma forma que gostaria que também o fizessem as outras 102 pessoas que já haviam assinado, acrescidas provavelmente de outras tantas, na velocidade com que as coisas giram na internet.

Acho que boa parte do problema talvez tenha por causa exatamente isso: esse turbilhão de informações, das quais muitas vezes lemos o título e julgamos desnecessário ler o resto, antes de passar adiante. Com isso, perdemos não só a chance de descobrir o teor da informação (que nem sempre corresponde ao título, aliás) como, acima de tudo, abrimos mão da chance de parar, refletir, opinar, criticar. Pior: ajudamos a construir aberrações, quando não legitimamos outras já existentes.

Não tenho dúvida de que as 103 assinaturas existentes na Petição pertenciam a pessoas críticas com relação ao que vem acontecendo com os povos indígenas, incluindo tudo o mais que está bem sintetizado nela: a ação do agronegócio, os ruralistas e seus jagunços, a inação dos governos. Suponho que muitas têm igualmente informações sobre o funcionamento do sistema de concessões e as regras que estabelecem as responsabilidades que deveriam ser respeitadas e cumpridas pelos barões da mídia. Sabem, assim, que eles têm a obrigação de informar, e não de deformar; de fazê-lo de forma democrática, e não tendenciosa; de respeitar a liberdade de expressão e de opinião, e não de manipulá-las descaradamente.

Se as leis e as regras de concessões fossem respeitadas pelos meios de comunicação, a cobertura das campanhas e da eleição seriam totalmente diferentes. Os ‘debates’ não seriam simulacros pasteurizados, realizados em cenários surreais quando se pensa na realidade brasileira, nos quais apresentadores engomados, que se julgam representantes desse pseudo quarto poder, autoritariamente determinam as regras do jogo (e é jogo mesmo!) e ‘concedem’ isso ou aqui.

No entanto, é assim que as coisas acontecem. E, sendo assim, como vamos pedir aos responsáveis por essa farsa que falem em nosso nome e questionem candidatos à presidência da República (ou a outros postos) sobre esse ou qualquer outro assunto? Será que a Rede Globo “nos representa”?

Na minha opinião, não podemos contribuir de qualquer forma para legitimar o que só não chamo de palhaçada porque, primeiro, respeito os palhaços e, segundo, porque se trata na verdade de crime. Crime contra as leis que regem a comunicação e as concessões; crime contra o nosso direito de sermos devidamente informados, e não manipulados; crime contra este Povo-Nação – e aqui incluo prioritariamente os povos indígenas – que tem seus direitos de cidadania cada vez mais desrespeitados por um capital do qual essa mídia é ao mesmo tempo participante, agente e porta-voz.

Ontem foi o Dia Nacional da Luta pela Democratização da Comunicação. O Fórum Nacional que defende a regulamentação mais que urgente dos artigos da Constituição referentes ao tema só conseguiu até agora 100 mil das 1.4oo mil assinaturas necessárias para levar a questão ao Congresso.  A Lei da Mídia Democrática precisa da nossa assinatura, essencial para exigirmos a plenitude do nosso direito à comunicação. Que tal, em lugar de legitimar a Rede Globo, contribuirmos para impedir, por exemplo, que políticos sejam donos de empresas de rádio e de televisão e as usem para controlar as informações que recebemos? O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação pode ser acessado AQUI.

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