Associação União das Aldeias Apinajé – PEMPXÀ: Religião e Povos Indígenas

As manifestações culturais Apinajé estão sofrendo interferencias das religiões. (foto: Odair Geraldin. Jul. de 1996)
As manifestações culturais Apinajé estão sofrendo
interferencias das religiões. (foto: Odair Geraldin.
Jul. de 1996)

Historicamente usada pelos colonizadores para dominar e escravizar os povos indígenas, até os dias atuais algumas igrejas e religiões continuam sendo usadas como instrumento ideológico de opressão e manipulação dos povos nativos

Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ

Em 1818, foi fundado o povoado de Boa Vista do Tocantins, hoje, Tocantinópolis em Território Apinajé. No ano de 1840, inicia se um longo e influente contato dos representantes da Igreja Católica, com os Apinaé, na época instala se no povoado Frei Francisco de Monte Santo Vitor, missionário italiano da Ordem dos Capuchinhos, designado por Dom Pedro II responsável pela catequese dos Apinajé. Quase um século depois, em 1936, alguns Apinajé fizeram parte da “força armada” arregimentada e “usada” pelo Padre João Lima, com a finalidade de se apoderar da Prefeitura de Boa Vista.

Nos anos 60, vieram os primeiros Missionários da SIL-Summer Institute of Linguiste para atuar junto ao povo Apinajé. Nesse período a missionária Norte-Americana,Patrícia Ham, chegou à aldeia São José, onde permaneceu até o ano de 1995 prestando voluntariamente serviços humanitários de atenção à Saúde, Educação, além de ministrar Cursos Bíblicos e fazer a tradução da Bíblia Sagrada para a língua Apinajé. Logo depois, vieram os missionários(as) da MNTB-Missão Novas Tribos do Brasil que continuam atuando até hoje nas aldeias São José e Mariazinha.

Na década de 70, em plena ditadura militar, Dom Tomás Balduíno, o Padre Egydio, Schwade, e outros religiosos fundaram o Conselho Indigenista Missionário – CIMI, entidade vinculada a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, com a missão de operar em defesa da causa indígena.   A partir dos anos 80 os missionários do CIMI passaram a atuar de forma permanente na formação política, assessoria jurídica, garantia da terra e apoio à cultura Apinajé. Atualmente essa Pastoral Católica continua atuando, e apoiando as lutas e a causa dos Povos Indígenas.

Com a proposta de pregar a palavra de Deus, “evangelizar e salvar” os índios, a partir de 1997 intensificou se o movimento de Pastores e Missionários (as) da Igreja Assembleia de Deus de Araguatins, nas aldeias Cocalinho, Buriti Cumprido e Palmeiras. Essas visitas foram interrompidas em 2007, depois do conflito com não-índios que levou a desativação dessas aldeias. Entretanto desde 2013, Pastores da Igreja Batista de Tocantinópolis, passaram a adentrar e visitar semanalmente todos os sábados, as aldeias; Cocal Grande, Aldeinha e Areia Branca, com o mesmo objetivo.

CONCLUSÃO

Não temos nada contra as Igrejas, as religiões e/ou crenças. O que questionamos são os métodos usados para impor às comunidades a prática de cultos estranhos e diferentes, como se o povo Apinajé não tivesse sua própria religião. Recomendamos que, ao entrar nas aldeias, especialmente os missionários (as) das igrejas evangélicas, devem atentar-se para a cultura, as crenças, a fé e as tradições da população local. E suas atuações precisam ser reguladas por um diálogo intercultural, ecumênico e respeitoso.

Se a proposta é “resgatar e salvar” os indígenas, o mais correto seria começar logo resgatar e salvar as Vida das pessoas que são reféns e vítimas do alcoolismo e de outras sequelas sociais. Por que não apoiar também as lutas da comunidade pela melhoria da Saúde, Educação, pela garantia da terra e da qualidade de Vida?

Compreendemos que, defender a Vida das minorias étnicas historicamente oprimidas e massacradas, significa adotar se uma postura  verdadeiramente humana, solidária e fundamentada em valores, e princípios cristãos. Nesse sentido, apoiar as lutas individuais e coletivas dos empobrecidos e excluídos pelo Sagrado Direito de Viver, constitui uma atitude racionalmente correta, socialmente necessária e humanamente justa. Esse é um gesto de dignidade que deve ser seguido por todos os povos, etnias, culturas, religiões e/ou igrejas.

Terra Indígena Apinajé, 13 de outubro de 2014

Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ

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