Eu também vi e senti o horror e vos acuso!

Projeto Minas-Rio (Reprodução)
Projeto Minas-Rio (Reprodução)

Nota: Este depoimento emocionado de Patrícia Generoso se refere à concessão de licença de operação concedida pelo governo de MG à mineradora Anglo-American, conforme denúncia da Articulação da Bacia do Rio Santo Antonio em A uma semana das eleições, Anglo manda e governo de Minas obedece.  A respeito divulgamos também, ontem, o forte texto de Andréa Zhouri, aqui citado indiretamente: Eu vi o horror e vos acuso!. E juntamos nossas vozes às delas, no total repúdio a esses atos inequívocos de desumanidade e de racismo ambiental. (Tania Pacheco)

Por Patrícia Generoso

Acuso sem ter lavado as mãos, “com toda a certeza que não permite vacilação”.

Acuso com a certeza que Dona Maria  da Consolação denunciou sem vacilar: minha nascente secou, os peixes morreram, a água está contaminada.

Acuso  os técnicos que mesmo depois de terem sido alertados  que o exame toxicológico da água comprovou a contaminação por amônia, mantiveram irredutíveis na declaração de cumprimento da  condicionante que garantia a retomada dos usos d’água  tradicionalmente desenvolvidos pela comunidade da Água Quente.

“É UM CRIME”!

Acuso aquele que  em sua manifestação repudiosa  apontou para as rugas da Dona Eleonora, uma trabalhadora rural da comunidade da Água Quente, como se ela fosse um exemplo do “atraso”.

Acuso aqueles que reconheceram a dignidade do trabalho dos funcionários uniformizados e marginalizaram o trabalho do Sr. José Pepino, do Sr. José Vigia, lavradores que descreveram a impossibilidade de  produzir a rapadura e  o doce de goiaba com água contaminada.

Acuso aqueles que fizeram com que as denúncias de escassez de água que assola os atingidos fossem transformada em  uma “leve suspeita” manifestando o  convencimento que esta escassez de água é um “problema nacional”, sem qualquer  preocupação  com as especificidades do caso e o conhecimento da realidade, e sem a mesma certeza que não permite vacilação e que fez a Dona Maria da Consolação, a Dona Rita, a Cleusa, a Celeste, o João Rodrigues, o José Pepino e a Vilma denunciar que a água secou.

Acuso aqueles que  fizeram os empregados uniformizados acreditar que seus empregos estavam ameaçados caso a licença de operação não fosse concedida.

Eu acuso aqueles que acreditaram nesta mentira e que permaneceram cegos por esta manipulação inescrupulosa mesmo depois de ter ouvido o depoimento de tantos outros trabalhadores rurais,  honradíssimos, que denunciaram a impossibilidade de  continuar mantendo o seu trabalho e o sustento de suas famílias em razão das violações que sofreram.

Eu acuso aqueles que mesmo não acreditando nas campanhas enganosas veiculadas na imprensa EcoWashing, lavaram as mãos.

“É UM CRIME”.

Eu acuso com a certeza da Dona Rita que foi impedida por seguranças da empresa  de adentrar na propriedade de sua família.

Eu acuso com a certeza do Sr. Ari que teve sua propriedade retalhada por obras da adutora de água,  linha de transmissão e mineroduto, permanecendo invisível até mesmo para a justiça que reconheceu a servidão em favor do empreendedor e  determinou a  emissão de posse  da sua  propriedade com mandado judicial em nome de terceiro.

Eu acuso com a certeza de Dona Natalína, octogenária,  aviltada com um mandado de despejo.

Eu acuso com  minha certeza que não permite vacilação: os peixes morreram, a água está contaminada, nossa produção inviabilizada. Somos todos massacrados!

“É UM CRIME”!

E não há como ignorar um crime que ameaça  nossas vidas e nosso  direito de melhoria contínua de condições de vida.

Não se pode viver sem perspectiva de vida! Não se pode viver ameaçado e aterrorizado.

Eu vos acuso porque tenho vos alertado durante estes 8 últimos anos e fizestes ouvidos moucos.

É meu direito  denunciar para garantir nossa existência!

É meu dever denunciar!

É um crime!

Patricia Generoso Thomaz Guerra
Atingida pelo projeto Minas-Rio


Enviada para Combate Racismo Ambiental por Andréa Zhouri.

Comments (1)

  1. è um absurdo em pleno século 21 permitir que terceiros tomem posse do que pertence a brasileiro poluir rios e ficar impune com o governo fazendo vistas grossas; isso é o mesmo que dizer aqui quem manda é quem é de fora, os nativos são apenas moradores do local e portanto não tem direito nenhum.
    ISTO É BRASIL!!!!!!

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