Ambientalistas estudam medidas para tentar salvar o Rio São Francisco

Ambientalistas falaram de medidas para amenizar problema da seca em nascente (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Ambientalistas falaram de medidas para amenizar problema da seca em nascente (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)

Eles visitaram a principal nascente que secou em São Roque de Minas. A principal medida é baixar a vazão da Usina Hidrelétrica de Três Marias.

Anna Lúcia Silva, do G1 Centro-Oeste de Minas

Representantes de órgãos ambientais e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) fizeram uma visita oficial no último sábado (27) à nascente do Rio São Francisco, que secou dentro do Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas.

Durante a visita ao parque, ambientalistas informaram que estão elaborando propostas para amenizar os efeitos da estiagem e que um documento será enviado em caráter de urgência à Agência Nacional de Águas (ANA) e ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em seguida aos governos federal e estadual.

A diretora da Câmara Consultiva Regional do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Silvia Freedman, informou ao G1 que a principal medida estudada é baixar a vazão da Usina Hidrelétrica de Três Marias, na região Central de Minas Gerais.

A sugestão é que a represa opere com 140 m³/s, sendo que atualmente é de 170 m³/s. O projeto será enviado nesta terça-feira (30). “A medida é de cunho preventivo e visa a armazenar e estabelecer segurança hídrica do rio. Ainda pensando no equilíbrio, vamos sugerir que a vazão passe para 120 m³/s em novembro e que se mantenha assim até dezembro, mesmo se houver chuva, para termos uma margem de segurança”, afirmou.

A Usina de Três Marias é a primeira barragem construída ao longo do Rio São Francisco, que percorre aproximadamente 300 quilômetros até chegar ao município. Atualmente, a usina opera com 4,5% da capacidade útil do reservatório.

Comparando com o histórico do volume do reservatório referente aos meses de julho de 2014 e 2013, divulgado pela ONS, no ano passado a represa estava com 9,47%. O reservatório integra a bacia do São Francisco, que abrange sete estados e 540 municípios, sendo 240 em Minas Gerais, os quais contribuem com 72% do volume de águas superficiais que vertem para o rio.

Segundo a diretora de pesquisa, desenvolvimento e monitoramento do Instituto Mineiro de Gerenciamento das Águas (Igam), Ana Carolina Miranda, atualmente entram na represa de Três Marias 35 m³/s. “A vazão que entra é muito inferior à que sai, por isso estamos criando o projeto que visa essa redução”, disse.

O diretor técnico da Associação Executiva de Apoio à Gestão de Bacias Hidrográficas Peixe Vivo, Alberto Simon, disse que o Rio São Francisco segue em direção ao Nordeste e até lá recebe água de afluentes como o Rio Abaeté, Rio das Velhas, Paracatu e Jequitaí, o que aumenta a vazão do Velho Chico até chegar ao fim do seu curso, em Piaçabuçu.

“Com toda essa água, a represa de Sobradinho recebe uma vazão de 1.100 metros cúbicos por segundo. Uma vazão muito desigual a que temos em Minas Gerais”, afirmou.

Presidente do CBHSF disse que medidas vão amenizar situação (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Presidente do CBHSF disse que medidas vão
amenizar situação (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)

Para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Lessandro Gabriel, outras medidas importantes precisam ser estudadas. “Vamos sugerir um levantamento feito pelo Igam e a ANA para identificarmos o número de outorgas existentes nos afluentes mineiros do Rio São Francisco com o objetivo de sabermos o quanto temos de água utilizada em captações”, explicou.

No documento também constará uma campanha estadual de conscientização para racionalização do uso da água. “Na terça-feira [30] faremos a documentação e encaminhamentos aos órgãos necessários, que são ANA, ONS, Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais, Igam e Ministério do Meio Ambiente”, enfatizou Sílvia Freedman.

Volume morto
O nível no reservatório em Três Marias está bem próximo de chegar ao volume morto, com aproximadamente 4,5 milhões de metros cúbicos. Freedman destacou que uma falha na execução da obra fez com que Três Marias não tivesse descarga de fundo. O que, segundo ela, impediria a utilização do volume morto, que é uma reserva de água que fica no fundo da represa e que, até agora, nunca precisou ser utilizada para abastecer a população.

Freedman disse ainda que a descarga de fundo serviria para liberar água da usina, além de permitir que o volume morto pudesse ser renovado, já que uma quantidade grande de sedimentos se acumula nesta reserva. Ela afirmou que existe a possibilidade de o Rio São Francisco parar de correr fazendo com que o abastecimento humano tenha que ser feito com caminhões-pipa e poços artesianos.

Seca de nascentes secundárias
Vicente de Paulo Faria, chefe substituto do Parque e analista ambiental, contou que as nascentes secundárias também podem secar. Estima-se que, após a seca da principal nascente, pelo menos dois olhos d’água tenham secado. “É preciso que chova ou o ecossistema ficará cada vez mais comprometido”, concluiu.

Principal nascente Rio São Francisco está seca (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Principal nascente Rio São Francisco está seca (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)

Preocupação
Durante a visita dos ambientalistas à Serra da Canastra, o secretário de Meio Ambiente de São Roque de Minas, André Picardi, manifestou preocupação com as mudanças globais que têm provocado a estiagem. “Está passando da hora. A natureza já mandou todos os  recados que ela podia mandar. Não devemos jogar essa responsabilidade para as gerações futuras. Ou agimos agora ou não vai ter água para as crianças daqui a 20 anos”, afirmou.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.

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