Mulheres e indígenas ainda são sujeitos invisíveis nas candidaturas eleitorais

2014_09_mulheres_indigenas_eleicoes_reproducaoNatasha Pitts – Adital

Buscando promover um debate sobre as disparidades no processo eleitoral e no sistema político brasileiro, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em parceria com a Plataforma pela Reforma do Sistema Político, SOS Corpo e o Cfemea, apresentam as candidaturas às eleições deste ano, com análises do perfil dos candidatos a partir das estatísticas de raça, cor e sexo. Os dados estão no documento “Perfil dos Candidatos às Eleições 2014. Sub-representação de Negros, Indígenas e Mulheres: desafio à democracia”.

Carmela Zigoni, assessora política do Inesc, destaca os quatro pontos principais do relatório. O primeiro é a sub-representação das mulheres. Apesar delas serem maioria, em 2014, os partidos só conseguiram atingir o que é exigido por lei, ou seja, 30% do total de postulações. Do total de candidatos, de 25.919, apenas 8.008, o que equivale a 30,90%, são mulheres, e 17.911, ou seja, 69,10%, equivalem a homens. O resultado que surge desse quadro é que, predominantemente, o parlamento segue composto por homens brancos. Segunda Carmela, em 2010, os partidos nem mesmo conseguiram atingir os 30%.

“De partida, vê-se que a sub-representação de gênero na política já se faz presente no pleito: apesar de representarem 51,04% da população brasileira total, as candidatas mulheres correspondem a menos de um terço do total. A distribuição por partido, em geral, acompanha esse expressivo desequilíbrio; a maior parte dos partidos apenas cumpre a definição legal de cotas mínimas de 30% para mulheres”, destaca o documento.

O segundo ponto é a inexpressividade das candidaturas indígenas, são apenas 83 no Brasil inteiro. Destes, 27 são mulheres. Com relação aos cargos, os/as candidatos/as indígenas estão mais concentrados/as nas vagas para deputado/a estadual (51) e federal (24). Para cargos a Presidente da República, vice-presidente e governadores/as, não há nenhum indígena e, para o Senado, apenas três candidaturas.

O terceiro tópico destacado é que os jovens (até 29 anos) representam apenas 6,8% das candidaturas, quando sua proporção na população é de 51%. “Apesar disso, essa porção apresenta mais equidade de raça e gênero, pois entre os jovens 45,4% dos candidatos são negros (pretos e pardos) e 52,3% são mulheres”, destaca Carmela.

A assessora política do Inesc revela o quarto ponto: a candidatura de negros e negras. “Pode-se dizer que o número de candidatos/as negros/as nas eleições de 2014 é razoável, pois representam 44,20% das candidaturas. Dentro desse universo, são 30% homens e apenas 14,20% mulheres, mostrando, novamente, a sub-representação feminina”, aponta.

De acordo com Carmela, o relatório elaborado pelo Inesc mostra uma fotografia oficial da questão étnico racial no Brasil. “Esses dados refletem o retrato de uma sociedade preconceituosa, machista e patriarcal. Se as candidaturas de mulheres, indígenas, jovens e negros são reduzidas não é por falta de vontade de se impor no cenário político do país, mas porque essas candidaturas são as que recebem menos apoio e financiamento dos partidos”, revela.

Leia o documento na íntegra aqui.

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