Argentina: Indígenas wichís presos iniciam segunda greve de fome por liberdade

O Prêmio Nobel da Paz argentino, Adolfo Pérez Esquivel, manifesta seu apoio à causa dos presos wichís
O Prêmio Nobel da Paz argentino, Adolfo Pérez Esquivel, manifesta seu apoio à causa dos presos wichís

AditalAvelino Tejada, presidente da Associação Civil Satuktes, que compreende todo o território de San Martín, no oeste de Formosa, juntamente com seus irmãos wichís Esteban, Manuel, Rogelio e Ricardo iniciaram uma segunda greve de fome para reclamar sua liberdade. Segundo informações do blog Librerita, doentes e agredidos, os cinco estão presos na Prefeitura de Las Lomitas há um mês e nunca receberam tratamento médico, mas lhes dão, sem nenhum controle, medicação para as dores.

O governo é acusado de atacar a Comunidad Wichí Cacique El Colorado. Os irmãos Tejada vinham denunciando há anos as intromissões, mas nunca prestavam atenção em suas denúncias, segundo expressaram membros da comunidade. Em 28 de julho passado, o grupo privado que ameaçava invadir o território indígena se encontrou com a resistência dos irmãos Tejada. Ocorreu, então, uma forte repressão policial e os indígenas foram presos.

Avelino já fez uma greve de fome, tem dores nas costas e, possivelmente, pelo que comentaram familiares que o visitaram, infecção urinária. Em 28 de julho, quando foram atacados em sua comunidade por 70 policiais guiados, segundo relatam as testemunhas, por um funcionário do Instituto de Comunidades Aborígenes (ICA), Moisés Fernández, e outras duas pessoas civis, María Ortíz e Jerson Paulos, os irmãos foram agredidos juntamente com suas mulheres e filhos, trataram de levar um bebê recém-nascido e destruíram as casas. Ricardo Tejada teria recebido tantos golpes e balas que ficou internado por três semanas acorrentado à cama, no Hospital Central de Formosa, e depois de operá-lo, o levaram para passar seu pós-operatório na prisão.

Os indígenas wichís defendem que o ICA deve passar por uma intervenção, assim como o Instituto Nacional de Assuntos Indígenas (INAI). Suas autoridades e funcionários estariam percorrendo as comunidades de todo San Martín, sem sua presença consulta nem autorização, violando Tratados Internacionais, a Constituição e Leis, guiados por um representante do governo, Isaías López.

Econía Álvarez é um ancião Wichí, que vive com sua família, umas 10 pessoas, às margens de Pilcomayo, na zona de San Martín Viejo, que, em determinadas época é inundado e a maioria das pessoas abandona o local, mas, em todos os verões, na lua das colheitas, elas voltam para viver com o rio e colher. Já várias vezes sofreu atentados, querem matá-lo porque não permite que colonos se aproximem. Ele denuncia que funcionários do ICA e INAI percorrem a zona com a desculpa do levantamento territorial, para gerar uma demarcação expulsadora das comunidades.

As mulheres e os filhos dos irmãos Tejada detidos são obrigados a mendigarem por comida, porque não têm o que comer. “Quando soube que os atacaram fui ao lugar com algo de comida, não levei leite, as crianças choravam de fome, a mãe pegou um saquinho de açúcar e com uma colher misturou com água e deu às crianças, esse foi o leite” contou a tia dos presos.

No Congresso da Nação, há três semanas, foi realizada uma Audiência Pública, pelo que está acontecendo com essa comunidade; funcionários e deputados se comprometeram a ir à zona, mas a realidade é que um mês depois do ataque, as famílias continuam sem comida, as crianças sem atenção médica. Somente o advogado dos irmãos Wichí, Daniel Cabrera, juntamente com outros advogados que o acompanham, apresentaram recursos de Habeas Corpus pelas vítimas, mas teriam sido fraudulentamente rejeitados.

Uma campanha está sendo levada a cabo pedindo a liberdade dos irmãos Wichí presos. Fotos com o cartaz pedindo liberdade eles estão circulando. Os organizadores da campanha pedem que o material seja traduzido, impresso e distribuído. Orientam que as pessoas liguem para a Prefeitura de Lomitas (telefone 03715 432900), para perguntar pelos irmãos. “Sair à rua para informar os demais, pedir que se somem, inundar as redes, exigir apoio dos meios que se dizem comunitários e alternativos”. A campanha afirma ademais que o caso dos irmãos Tejada não é policial, é um caso testemunho do plano sistemático de extermínio indígena, expulsão de territórios, apropriação e concentração da terra para sua exploração devastadora.

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