*para Combate Racismo Ambiental
Na casa do meu Avô, no interior de Minas Gerais, ladrões de galinha chegavam à noite em grupo e, dividindo-se, uns iam para o terreiro da sala e, enquanto assanhavam os cachorros na frente da morada, que ladravam enfurecidos, os comparsas passavam pelos fundos e faziam uma limpeza. Levavam mais que galinhas: carregavam rapadura, café, feijão, e tudo que achassem pela frente.
Essa encrenca repetiu-se anos a fio, em geral na época de colheita, com relativo prazo entre uma ação e outra para enrolar a memória. Até que um dia eles foram traídos pelo reconhecido chapéu do chefe do bando que, fugindo às pressas, com cães ao seu encalço, e atordoado com disparos de tiros de espingarda para o alto, foi deixado preso na cerca de bambu. E assim o mistério se desfez.
Algo semelhante à tática dos ladrões de galinha vem ocorrendo na região do Xingu, Amazônia brasileira, distante pelo menos três mil quilômetros da casa do meu Avô. É claro que não há cães nesse negócio aqui, – a não ser no seu sentido figurado -, os ladrões são mais robustos, e, os mecanismos de distração do povo, de entidades e de autoridades públicas, os mais variados.
O desvio de foco é perfeito! Graças a isso, Belo Monte caminha ligeira, apesar dos reclamos de atraso por parte do capital, e de forma extremamente arrogante e violenta, provocando retrocesso em direitos históricos dos atingidos e da classe trabalhadora conquistados com muita luta em outras regiões do Brasil.
Retroceder em direito significa inflacionar ainda mais o negócio das barragens. (mais…)