Indígenas dão adeus aos mortos neste fim de semana no ritual Kuarup

Foto: Roberto Stuckert Filho
Repassado de geração em geração, o mito conta a história do pajé Mavutsinim, que preparou um ritual com seis troncos da árvore Kuarup para ressuscitar seis pessoas (Foto: Roberto Stuckert Filho)

Stephanie Ferreira, EBC

Nesta sexta-feira e sábado (15 e 16), no Alto Xingu, chega ao fim mais um Kuarup, manifestação cultural indígena realizada anualmente no período de estiagem e que marca a passagem dos mortos para o outro mundo. É na aldeia dos Yawalapiti, que famílias que perderam seus entes queridos se reúnem com amigos e visitantes para dizer o último adeus.

Nesse ritual indígena do Alto Xingu, os troncos da árvore Kuarup representam os mortos. No centro da aldeia anfitriã, os troncos são erguidos e enfeitados com ornamentos. Em torno deles, parentes e amigos choram até a tristeza “secar”, pois acreditam que as almas dos mortos estão ali presentes. Ao fim da celebração, neste sábado (16/8), os guerreiros lutam a tradicional huka-huka e os troncos são jogados no Rio Xingu para que cada alma siga o seu caminho no outro mundo.

A origem desta prática remonta o mito sobre a busca pela ressurreição dos mortos. Repassado de geração em geração, o mito conta a história do pajé Mavutsinim, que preparou um ritual com seis troncos da árvore Kuarup para ressuscitar seis pessoas. Segundo a lenda, enquanto o pajé rezava, os troncos Kuarup começaram a ganhar vida. Mas pararam de se mover quando um homem, que havia tido relações com sua esposa, saiu de casa para vê-los. Imediatamente, o pajé Mavutsinim determinou, para todo o sempre, que os mortos nunca seriam ressuscitados. Só as almas.

Dança em frente ao tronco, ritual do do Kuarup, na aldeia Kamayurá em 2004. Foto Marcello Casal Jr./ABr
Dança em frente ao tronco, ritual do Kuarup, na aldeia Kamayurá em 2004. Foto Marcello Casal Jr./ABr

Ritual de morte, mediação da vida

Na cultura alto-xinguana, o Kuarup é mais que um ritual funerário, engloba também diversos aspectos da cosmologia dos povos que lá habitam, como os Kalapalo, Matipu, Nafukuá, Kuikuro, Waurá, Aweti, Kamayurá, Meynako e Yawalapiti.

Os mitos de criação da humanidade, a classificação hierárquica dos grupos, a iniciação dos jovens e as relações entre as aldeias são apenas alguns dos aspectos da sociedade xinguana envolvidos nesta celebração.

Comments (2)

  1. Não temos, Valquíria. Mas até onde sei ele trabalhava para a EBC, na Presidência da República.

  2. Gostaria de saber se vocês tem o contato desse fotógrafo, gostaria de utilizar a imagem em um livro.

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