Survival condena retrato que o fotógrafo Jimmy Nelson oferece dos povos Indígenas

2014_07_survival_fotos_indigenas_survival_2Adital – O trabalho do famoso fotógrafo Jimmy Nelson, criador do livro de grande formato “Before they pass away” (Antes que eles desapareçam), foi recebido com críticas pelo diretor da Survival Internacional, Stephen Corry, por meio de um artigo publicado no Rl Huffington Post, em que condena a imagem falsa e prejudicial que apresenta dos povos indígenas.

Nelson explica que seu recente livro de “retratos” de pessoas indígenas, a venda por 128 euros, surgiu motivado pelo desejo de “buscar as antigas civilizações (…) e documentar sua pureza em lugares onde ainda existem culturas inalteradas”. As “culturas” que encontra supostamente permaneceram “sem mudanças durante milhares de anos”.

Mas Corry qualifica esse trabalho como uma fantasia do fotógrafo, que tem pouca semelhança, tanto com a aparência que esses povos apresentam na atualidade, como com a que alguma vez tenham tido.

Nas fotografias das meninas huaronis do Equador, por exemplo, elas são retratadas desprovidas da roupa que, habitualmente, a tribo veste e, em seu lugar, usam folhas de figueiras para esconderem as partes íntimas, algo que nunca foi feito (gerações anteriores de mulheres huaoranis somente usavam uma corda ao redor da sua cintura). Corry expõe que Nelson não só apresenta um retrato fictício dos povos indígenas, como ignora a violência genocida a que estão submetidas muitas das tribos fotografadas e, inclusive, vai mais além e pretende que, pelo mero feito de retratá-los, esses povos indígenas podem ser “salvos” da “inevitabilidade” “do desaparecimento”.

Segundo declarações do diretor da Survival Internacional: “dada a enorme publicidade que o livro de Jimmy Nelson recebeu, penso que é importante expor o trabalho da prejudicial fantasia que implica, porque ignora os crimes que estão sendo cometidos contra os povos indígenas e tribos em ‘nome do progresso’. Na descrição da tribo mursi da Etiópia, por exemplo, não existe menção alguma sobre os deslocamentos forçados, as agressões, assaltos e desaparecimentos a que este povo está sendo submetido”.

“Não menciona, na descrição dos tibetanos, a brutal opressão que sofrem por parte da China. Não menciona os aproximadamente 100.000 papúas que morreram desde que se produziu a implacável ocupação indonésia. Não, as tribos, simples e inevitavelmente, estão ‘desaparecendo’. Isso é charlatanismo perigoso, com o qual jogam todos aqueles que querem que ‘desapareçam’ tão rápido quanto seja possível”.

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