Protestos adotam tom lúdico para fugir da repressão policial e ameaça de desmobilização

2014_06_foto - protesto em brasília - créd mídia ninjaMarcela Belchior – Adital

Para além de questionar os métodos de organização da Copa do Mundo FIFA 2014 no Brasil, a mobilização social de oposição espalhada por várias cidades brasileiras e estrangeiras tem promovido uma série de atividades de formação, debate e integração entre vários setores dos movimentos sociais. Além dos atos públicos, ações como festival de filmes, bate-papos, jogos de futebol de rua e intervenções artísticas têm provocado debate nas cidades.

Neste domingo, 15 de junho, no primeiro jogo da Copa do Mundo de 2014 em Brasília, capital do país, a questão do investimento no serviço público brasileiro foi a motivação principal de protesto organizado pelo Comitê Popular da Copa do Distrito Federal. Outros movimentos, além da reunião de estudantes e de sindicalistas, se concentraram na Rodoviária do Plano Piloto, longe do aparato de repressão policial instalado no Estádio Mané Garrincha, onde ocorria o jogo Suíça X Equador.

Segundo a Mídia Ninja, coletivo independente de mídia, na rodoviária, local diário de circulação de milhares de pessoas, uma ação simbólica foi construída com futebol e batuques por manifestantes de diversos setores. A intenção foi aproximar cidadãos e transeuntes para promover um diálogo sobre os questionamentos em torno da presença da Federação Internacional de Futebol (FIFA) no país.

Já no no Rio de Janeiro, ativistas em protesto tentaram se aproximar do Estádio Maracanã enquanto ocorria o jogo Argentina X Bósnia e Herzegovina, mas foram impedidos por uma barreira de policiais, que fecharam toda a região. De acordo com o Coletivo Carranca, de mídia independente, um suposto policial chegou a sacar uma arma de fogo contra manifestantes, próximo à arena. Em outras capitais também houve protesto, com menor repercussão.

O que vem por aí

Para os próximos dias, a articulação popular sinaliza criar novos espaços de discussão, priorizando a criatividade e a participação lúdica das pessoas no debate acerca da Copa do Mundo. Nesta segunda-feira, 16, haverá o 2º Futebol Popular Contra a Eliminação do Povo de Rua, na praça Júlio Prestes, em São Paulo.

Organizado pelo Comitê Popular da Copa 2014 em São Paulo, o evento vai promover um “rachão”, batuques e protesto contra o que eles chamam de “Copa das Remoções”, em alusão às milhares de pessoas que tiveram de lutar, nos últimos anos, para não terem suas casas desapropriadas e não serem removidas por obras da Copa. O evento é promovido pelo Coletivo Autônomo dos Trabalhadores Sociais Pastoral do Povo de Rua (CATSO).

Nesta terça-feira, 17 de junho, em Fortaleza, Estado do Ceará, onde ocorrerá o jogo Brasil X México, o ato Chega de Circo! pretende reunir manifestantes a partir das 11h30 em frente ao Mercado de atacado Makro, próximo ao Estádio Castelão. “Vamos comemorar um ano de Movimento e nada melhor pra celebrar a data marcante do que nas ruas”, afirma o convite do evento, nas redes sociais. Duas mil pessoas confirmaram participação.

No mesmo dia, o Comitê Popular de SP chama ao evento na praça do Campo Limpo para uma pelada, um bate-papo “Copa pra quem?”, além da transmissão da partida oficial da Copa em um telão, exibição de filme, mesa de conversa, sarau e a apresentação de uma bateria de samba.

Também dia 17, a partir das 21h, será realizada a 1º Mostra de Curtas FIFA GO HOME, no Laguinho dos Açorianos, na cidade de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, exibição independente de cinema popular, que deverá ocupar ruas, praças e paredes projetando imagens de resistências por todo o país. Em parceria com o Comitê Popular da Copa na realização da campanha nacional “Copa sem povo, to na rua de novo”, a ideia é projetar frases e filmes debatendo abusos e violações cometidos em função do megaevento.

Já para o dia 19 de junho, também em São Paulo, está programado o protesto Não vai ter tarifa!, pela tarifa zero no transporte público urbano da capital. “Tomaremos novamente as ruas para dizer que nossa luta não acaba até destruir a última catraca”, afirma o texto de convite à mobilização, cujo tema rendeu a maior das mobilizações na cidade, nas Jornadas de Junho de 2013. “Há anos, a gente ouve do governo que não tem dinheiro pra tarifa zero. Só que olhando apenas para depois de junho do ano passado, o poder púbico gastou milhões com repressão e com obras para carros”, critica.

No dia em que se completa um ano da reversão do aumento de 20 centavos na tarifa de ônibus no Rio de Janeiro e em São Paulo, a partir das 15h, os manifestantes sairão da Praça do Ciclista e seguirão até a Marginal Pinheiros, onde deverão se concentrar em festa. “Com arte, futebol popular e catracas em chamas para serem puladas à vontade, ocuparemos um símbolo de uma cidade que não é feita para nós”.

Campanha questiona governo

Campanha da Anistia Internacional, denominada Dê a eles o cartão amarelo, está recolhendo assinaturas em petição que repreende a postura do governo federal na organização do Mundial e exige medidas e garantias tanto ao Executivo federal quanto ao Congresso Nacional. Até agora, pelo menos 105 mil pessoas já aderiram ao documento.

“Todas as pessoas têm o direito de protestar de maneira pacífica — exercer seu direito humano à liberdade de expressão e manifestação pacífica — e o governo brasileiro tem a obrigação de garantir que possam exercê-lo. Por isso estamos dando o cartão amarelo ao governo brasileiro!”, expõe o texto da campanha. A Anistia pede garantias ao direito de liberdade de expressão e de manifestação, além da garantia da segurança dos manifestantes.

Exige que as forças de segurança cumpram com a legislação e padrões internacionais para direitos humanos, que recebam treinamento apropriado e efetivo para policiamento de manifestações de massa. A campanha demanda ainda a implementação de mecanismos de responsabilização para a condução de investigações imparciais dos casos onde houver ferimentos ou morte causados pelo uso da força policial. Para assinar, acesse: www.aiyellowcard.org/br.

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