Mulher Kaingang é alvo de disparos no Norte do Rio Grande do Sul

Terra Indígena Votouro (Foto: Portal Kaingang)
Terra Indígena Votouro (Foto: Portal Kaingang)

No final da tarde de 06 de maio, ocorreu um atentado a tiros contra uma Kofá (idosa Kaingang) residente na Terra Indígena de Votouro (Benjamin Constant do Sul-RS), conforme denúncia da liderança Kaingang. A TI Votouro fica próxima ao município de Faxinalzinho/RS, local do confronto entre indígenas e agricultores. O atentado a tiros ocorreu no período da tarde, quando Carmen Marcelino, com idade aproximada dos 60 anos, caminhava por uma via nas proximidades de sua casa em direção a um roçado, como cotidianamente faz, quando foi alvo de disparos efetuados por ocupante(s) de uma “caçamba branca”.

Carmem não conseguiu apresentar outros detalhes do veículo, tampouco se o mesmo possuía algum outro tipo de identificação, pois não sabe ler. Os disparos não a atingiram, mas foram muito próximos, conforme o relato “foi possível sentir o cheiro da pólvora”. 

O cacique Deoclides de Paula, afirma que a situação revela a insegurança a qual as comunidades Kaingang e Guarani ainda estão expostas e, também, a possibilidade de que ocorram outros atentados e atos violentos a qualquer momento e contra qualquer membro das comunidades indígenas da região. 

A preocupação do cacique procede, pois não é fato isolado e se configura como retaliações premeditadas contra o povo Kaingang, após o confronto de Faxinalzinho/RS. Na quarta-feira, dia 30 de abril, quatro indígenas, que retornavam da região para uma aldeia em Sananduva/RS, foram abordados e ameaçados por oito policiais da Brigada Militar e quatro policias do BOE – Batalhão de Operações Especiais, todos sem identificação. 

Também há a denúncia de que veículos da Polícia Federal circulam, nas imediações da Comunidade Kaingang do Kandóia, desprovidos de placas e com vidros escuros, monitorando os indígenas. Os veículos acompanham as saídas e entradas na aldeia, bem como as atividades e movimentações dentro da comunidade. Enquanto isso, nas imediações, atentados e abordagens ocorrem, como o acometido contra esta idosa, sem que se tenha nenhum tipo de registro ou investigação da autoria dos mesmos.

O Ministério Público Federal (MPF), em nota, afirma que a situação de atraso nas demarcações e apuração dos fatos, estimula a formação de ‘milícias’, que promovem atentados e ameaças contra o movimento indígena, estendendo-se a toda comunidade indígena, como o ocorrido a esta kofá. O MPF também afirma que a situação decorre da omissão dos órgãos governamentais competentes, especialmente do Ministério da Justiça.

Ontem, em Porto Alegre, representantes do governo estadual, e do Ministério da Justiça reuniram-se “ás portas fechadas” para tratar dos conflitos. As lideranças indígenas não foram convidados para participar desta reunião. Também nenhuma autoridade se dirigiu à região de conflito. A omissão continua sendo a estratégia adotada.

Depois da reunião “às portas fechadas” a imprensa noticiou que o ministro da Justiça, Jose Eduardo Cardozo, pretende reunir indígenas e agricultores em Brasília. Lideranças das comunidades Kaingang expediram nota dizendo que não acreditam nas tais mesas de diálogo e que não irão à reunião proposta,, uma vez que as medidas a serem adotadas pelo governo já foram amplamente discutidas e que cabe, agora, ao Ministério da Justiça a solução dos problemas.

Entidades de apoio aos povos indígenas e da sociedade civil acompanham os acontecimentos e denunciando as práticas de coação e violência contra os povos originários. Reiteram que a solução para a questão é a demarcação das terras indígenas e a plena indenização das famílias agricultoras, ocupantes de boa-fé, que se estabeleceram nestas terras, como indicado nos parâmetros e processos legais, que são de plena ciência entre os responsáveis e com a incumbência de promover a dignidade, a justiça e a paz.

Porto Alegre, 08 de maio de 2014.

Comin-Conselho de Missão entre Povos Indígenas
Cimi Sul-Conselho Indigenista Missionário, Regional Sul

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Onir Araujo.

Comments (1)

  1. Uma grande falta de respeito por aqueles que sao os nativos eos verdadeiros que devem usufrir das terras que lhe foram dadaspor Deus e foram partilhadas pelos seus ancestrais ha muitos Anos . Agora a ganancia e tonta pelo dinheiro que so pensam em expulsar , para poderem ,destruir todo oBem geixado pela nossa Mae natureza , Bem Haja a voces que continuem a lutar ,e defender nossa Mae a Terra, Um grande Obrigado ,lutem pelo que e vosso por Direito,Força.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.