BA – Ambientalista assassinado se reuniu com deputados pouco antes de crime

Empresário e ambientalista morto em Salvador. Foto: Reprodução/TV Bahia
Empresário e ambientalista morto em Salvador. Foto: Reprodução/TV Bahia

Encontro com Comissão do Meio Ambiente foi na Assembleia Legislativa. Empresário fez denúncias contra empresa que fabrica óxido no Litoral Norte.

G1 BA

A morte do empresário e ambientalista Ivo Barreto Filho, de 48 anos, assassinado [ontem, 19,] no bairro de Nazaré, em Salvador, ocorreu quase cinco horas depois dele ter participado de uma reunião a convite da Comissão de Meio Ambiente, Seca e Recursos Hídricos, da Assembleia Legislativa da Bahia. O deputado Leur Lomanto Jr. (PMDB), presidente da comissão, explicou, em conversa na tarde desta quinta-feira (20), que ele fez denúncias sobre uma indústria que produz óxido de titânio no Litoral Norte. Foi aprovada a realização de uma audiência pública sobre o tema, ainda sem data definida.

“Ele apresentou uma pauta com perguntas para sejam esclarecidas questões como renovação ambiental, as condicionantes para a renovação da licença, denúncias de crimes ambientais. Ele tinha filmagens subaquáticas mostrando que o fundo do mar estaria comprometido e uma série de outras coisas”, relatou o parlamentar sobre as acusações à empresa.

O encontro foi intermediado por Heraldo Rocha, vice-presidente estadual e presidente do diretório municipal do DEM. Segundo o ex-deputado, Ivo Filho entrou em contato com ele pelo Facebook. “Ele veio na minha casa, conversou comigo. Conheci ele como ambientalista e ele me disse que tinha esse estacionamento. Ele é um idealista. Tomei um choque com o assassinato, ele estava sempre muito tranquilo. Nunca fez queixa e nunca me pediu nada”, afirmou.

Heraldo Rocha acompanhou o depoimento dele na Alba e conta que a denúncia feita na ocasião foi investigada pelo Ministério Público da Bahia, por meio do promotor de Justiça Luciano Pita. O MP-BA informou que Pita está de férias e só poderia comentar o assunto quando retomasse as atividades. “Ele [Ivo] me pegou em casa e fui com ele no carro, orientando como ele deveria falar na comissão. Disse que deveria implantar uma ONG e que ele centralizasse o relato na questão da empresa. Vou acompanhar até o fim esse processo”, conta.

O sepultamento do empresário ocorreu no cemitério Jardim da Saudade. Três testemunhas já foram ouvidas pela delegada Mariana Ouias, destinada à investigar o caso pelo Departamento de Homicídios. De acordo com a delegada, ainda é cedo para precisar se foi latrocínio ou homicídio. Mais pessoas devem prestar depoimento. Imagens da câmera de segurança foram solicitadas para ajudar a localização do autor dos disparos.

Enterro de ambientalista e empresário em Salvador. Foto: Reprodução/TV Bahia
Enterro de ambientalista e empresário em Salvador. Foto: Reprodução/TV Bahia

O crime
“Estávamos eu, ele, a esposa dele e um funcionário sentados no estacionamento, quando ele pediu que eu fosse pegar a carteira dele no carro. Foi quando ouvi os disparos”, relata Rodrigo Figueiredo, sobrinho de Ivo Filho.

Segundo o sobrinho da vítima, ele foi buscar o objeto no carro que estava estacionado em frente à residência da mãe do ambientalista, que fica na região de Nazaré. “Depois que ouvi os tiros, saí correndo para ver o que tinha acontecido e ele estava sentado, caído na cadeira e com vários disparos”, relatou. ,

Rodrigo Figueiredo informou que o empresário chegou a ser levado para o Hospital Santa Izabel, na capital baiana, mas não resistiu aos ferimentos. A 2ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) foi acionada, mas chegou ao local depois que o socorro já havia sido prestado pela família da vítima.

O sobrinho ainda relatou que os disparos foram efetuados por um homem que levou o celular do funcionário do estacionamento e alguns objetos da família. “Ele era uma pessoa do bem. Não fazia mal a ninguém e não tinha inimigos”, disse. O ambientalista Ivo Barreto era casado e tinha uma filha de 15 anos, que mora com a mãe, ex-mulher do empresário.

A vítima
Ivo Barreto mantinha um site para denunciar crimes ambientais. Além das acusações sobre a empresa que estariam poluindo praias da Linha Verde, ele fez denúncias sobre a retirada de areia do Parque do Abaeté.

Amigos da vítima vinham alertando sobre a causa de Ivo, alegando que ele poderia correr riscos pelo trabalho desempenhado. “A gente dizia para ele que era muito perigoso o que ele fazia e pedíamos para ele se afastar, mas ele sempre dizia que não, que ele fazia o que ele gostava”, disse João Ferreira, um dos amigos do empresário e ambientalista.

Essa é a segunda vez que dona Beloína Couto, 73 anos, mãe de Ivo, perde um filho. “Ele era um menino bom, que amava as pessoas, amava os animais, os rios, os oceanos e as árvores. Ele queria melhorar os humanos, melhorar a terra”, disse a mãe da vítima.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Zuleica Nycz.

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