“Porta-voz dos índios Guarani-Kaiowá recebe título de doutor pela UFRJ”

 

Tonico defendeu a tese no final de fevereiro Foto: Arquivo Pessoal
Tonico defendeu a tese no final de fevereiro Foto: Arquivo Pessoal

Ana Carolina Pinto – Extra

Tonico Benites é um dos principais nomes à frente da luta dos índios Guarani-Kaiowá, atuando como porta-voz dos povos indígenas. Desde criança, ouvia os mais velhos falando sobre um tal “antropólogo”, um não-índio capaz de valorizar e respeitar suas práticas culturais, sobretudo a crença, o modo de ser e viver dos índios. A curiosidade e a mobilização levaram o jovem a enveredar pela área e, no final de fevereiro, Tonico galgou mais um passo na sua caminhada acadêmica, iniciada em 2001. Ele conquistou o título de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Formado em Pedagogia pela Universidade Federal da Grande Gramados, Tonico conta que o contato direto com profissionais da área e textos sobre Antropologia foram decisivos para sua escolha.

– Esses debates recorrentes sobre a valorização de diversidades culturais indígenas e dos não-indígenas do Brasil me incentivaram definitivamente a enveredar para o campo da Antropologia. Na condição de porta-voz, representante e tradutor da assembleia geral (Aty Guasu) dos povos Guarani e Kaiowá, considero que, a princípio, o resultado de minha investigação vai ajudar na compreensão da história das expulsões e a dispersão forçada de várias comunidades indígenas Guarani e Kaiowá de suas terras tradicionais ao longo do século XX – afirma.

A ideia de Tonico é publicar a tese e seguir para o pós-doutorado Foto: Arquivo Pessoal
A ideia de Tonico é publicar a tese e seguir para o pós-doutorado Foto: Arquivo Pessoal

A tese analisa, sob a ótica indígena, o processo de reocupação de terras tradicionais pelos indígenas Ava Guarani e Ava Kaiowá, no estado do Mato Grosso do Sul, ao longo das três últimas décadas, assim como os conflitos fundiários envolvendo indígenas e não-indígenas.

– A tese explicita que, ao longo das últimas três décadas, há evolução dos diferentes atores envolvidos neste processo da demarcação das terras indígenas. Busquei classificar os diferentes atores envolvidos, indicando a evolução das posições e ações dos fazendeiros, do governo e poder judiciário. Concluí que o processo da demarcação de terra indígena pode durar mais de três décadas. Essa demora da demarcação das terras indígenas gerou e gera ainda diversas violências contra os indígenas, promovidos pelos fazendeiros, colocando em risco iminente as vidas do povo Guarani e Kaiowá.

A aprovação na banca deu incentivo para a publicação da tese. Além do livro, Tonico pretende seguir nas pesquisas e ingressar no Pós-Doutorado. Com o título, ele espera garantir mais espaços para debater a remarcação das terras indígenas e denunciar a situação em que vivem atualmente milhares de índios no Brasil.

De acordo com o levantamento feito por Tonico, o povo Guarani e Kaiowá tem hoje uma população de 46 mil pessoas, espalhadas por alguns estados, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e principalmente na região Centro-Oeste, no Mato Grosso do Sul.

Comments (1)

  1. Caro amigo Tonico, tenho acompanhado com orgulho sua trajetória brilhante. Com todas as dificuldades que se apresentam principalmente de falta de recursos materiais, uma força interna o faz ir oara a frente. Um ideal o move, ajudar seus parentes em todo o Brasil.
    Parabéns amigo, todos estamos orgulhosos pelo seu sucesso.

    Abraços

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