A abertura da BR-421, em Rondônia, ameaça povos isolados

Reprodução Cimi
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Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Rondônia

No dia 6 de março, no prédio da Secretaria da Segurança e Cidadania, por solicitação do Ministério Público Federal (MPF), foi realizada uma reunião com a participação de várias instituições governamentais: Procuradoria do Governo de Rondônia, Departamento de Estradas e Rodagem (DER), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Secretaria de Desenvolvimento e Meio Ambiente da Amazônia (Sedam), Ibama, Defesa Civil, Polícia Militar, Secretaria da Segurança, Advocacia Geral da União (AGU), MPF e uns poucos representantes da sociedade civil, com o objetivo de discutir sobre a viabilidade da abertura da BR-421, que ligaria a região central de Rondônia ao Vale do Mamoré, no norte do estado e onde vivem povos indígenas em situação de isolamento e risco de extinção.

No último dia 03 de março, em cumprimento ao mandado expedido pela Justiça Federal numa ação proposta pelo Ministério Publico Federal, o DER retirou do local as máquinas e equipamentos que estavam realizando a abertura da estrada. O governo de Rondônia, através da lei 1193/2014, legalizou a abertura da rodovia na Unidade de Conservação Parque Guajará Mirim com a alegação de que a BR-421 solucionaria a situação de isolamento atual dos municípios de Nova Mamoré e Guajará-Mirim e que, recentemente, se agravou bastante devido às cheias históricas do Rio Madeira.

No entanto, cabe explicitar que existe nesta região um esquema bem montado por fortes grupos econômicos que têm interesses na abertura desta rodovia e, aproveitam a ocorrência das atuais enchentes, para pressionar e organizar a população local para pressionar pela suspensão da liminar que interdita a abertura da BR-421.

Os moradores da região, insatisfeitos com a paralisação dos trabalhos que estavam sendo executados, estão bloqueando constantemente todos os acessos ao distrito de Jacinópolis. Em Nova Dimensão o clima também é de revolta da população. Um grupo de manifestantes obstruiu a única passagem que dá acesso a Guajará Mirim e a Nova Mamoré, pela linha 29, Novo Horizonte, como forma de pressionar a abertura da BR-421.

Além dos interesses econômicos, por se tratar de ano eleitoral, políticos também se esforçam para suspender a liminar da justiça que interdita a abertura da rodovia. A justificativa da Secretária do Desenvolvimento e Meio Ambiente, Nanci Maria Rodrigues, é a de que a abertura da BR-421 já vem sendo pensada há anos e ela facilitaria a fiscalização do próprio Parque Estadual. O MPF contra argumentou que isso deixaria a Unidade de Conservação Parque Guajará Mirim mais vulnerável a invasões de todo o tipo.

A Procuradora da República, Raquel B. P. M. Nascimento, na medida cautelar 22-05-2014.01.0000/RO, afirma “há bastante tempo há interesses políticos e econômicos e também interesses escusos, que levaram, inclusive, às ameaças de vida da juíza sentenciante, na abertura dessa estrada que passa justamente em unidade de conservação, local onde há indígenas silvícolas, reservas minerais e também a consequente facilitação de práticas relacionadas ao contrabando e ao tráfico de drogas”.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) de Rondônia teme que os povos em situação de isolamento e risco de extinção sejam exterminados pela ganância de um modelo de capitalismo para o qual “o que vale é o lucro” e enxerga nestes povos que vivem milenarmente neste território apenas uma ameaça aos milhões que estão em jogo.

Desse modo, a fauna, flora, povos indígenas, populações tradicionais e toda a riqueza natural e cultural destes povos milenares podem desaparecer. Só não se pode admitir é a perda econômica. Para o governo “… não serão meia dúzia de homens primitivos ou meia dúzia de espécies de bagre que vão deter esta euforia de desenvolvimento, temos que crescer para sobreviver”.

O governo brasileiro, por conta de uma catástrofe anunciada, a construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, expôs a população a uma situação de isolamento e desabastecimento. Poucos veículos da imprensa têm responsabilizado a construção das hidrelétricas como o principal fator do isolamento que se encontram os municípios de Guajará Mirim, Nova Mamoré e o estado do Acre. Justificam tal situação como apenas uma questão meramente meteorológica, devido às constantes chuvas, nas cabeceiras do Rio Madeira.

Outro fator que devemos levar em consideração é a construção da hidrelétrica do Ribeirão, na região de Nova Mamoré e Guajará Mirim, prevista no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) II. Uma vez realizada a construção de tal hidrelétrica, colocaria em risco e em total isolamento estes municípios, pelas BRs 425 e 364. Não podemos deixar de relacionar uma ação à outra. No entanto, diante da cheia do Rio Madeira, o estado toma a decisão de abrir a BR-421. Ou seja, vai remendando e causando mais danos à já sofrida região por planejamentos equivocados e que não priorizam o bem estar da população.

Através desta, expomos a nossa preocupação com abertura da BR-421 pois esta compromete a integridade física e cultural dos indígenas isolados que se encontram nesta área e significa um aumento da pressão sobre os territórios e, conseqüente, invasão nas terras indígenas Karipuna, Lage e Ribeirão. Todo este contexto levará ao aumento da violência nesta região, já que o Estado tem sido extremamente ausente em garantir a segurança, a ordem e a cidadania.

Estes povos que estão em situação de isolamento e risco de extinção são portadores de uma cultura milenar, cujo valor a sociedade não tem condições de avaliar. No entanto, diante do processo de extermínio que enfrentam, eles vivem diariamente tentando sobreviver por mais um dia de vida, correndo das atrocidades cometidas pelos que se dizem “civilizados e desenvolvidos”. Por isto, é urgente a defesa da vida dos homens e mulheres dessas culturas, construtoras de relações harmoniosas com a natureza e de uma lógica de reciprocidade orientada para o bem estar de todos.

Comments (5)

  1. Moro em são Paulo mas conheço bem a região. Fui criado lá e os meus pais ainda moram no local. Passei pelo parque ano passado. Esse texto infelizmente manipula como sempre faz a mídia brasileira seja por interesses de um lado ou de outro. Nunca são isentos ou moderados procurando conciliar as coisas.
    Posso afirmar que não há índios onde passará a estrada e quem quiser confirmar o que digo basta olhar mapas da região e verá que a 421 passa dentro do parque e não na reserva indígena. Também, afirmo com convicção que o interesse na abertura da estrada vem de toda a população da região. É claro que há interesses econômicos afinal a região não foi ocupada por mera vontade de morar na floresta não é mesmo? Impactos ambientais haverão, verdade que não tem como esconder. Porém, se for planejado e convocado a população para que a mesma assuma uma responsabilidade junto ao Estado, os impactos serão menores em comparação aos que já vem ocorrendo na clandestinidade da região.
    Trafico de drogas é a alegação mais descabida dessa estória. Traficante quer a região como está hoje. Sem poder publico presente, sem muito trafego de pessoas pois assim controlam quem entra e quem sai. Só cego não vê que para traficante quanto mais isolada for a região melhor será a rota do crime.

  2. POVO DA LUGAR PODE AJUDAR PROTEGER PARQUE…..SABE UMA APENA QUE AS AUTORIDADES NÃO SENTA COM COMUNIDADE LOCAL PARA CONVERSAR…LA TEM POVO POBRE QUE ESTAR SOFRENDO…UMA APENA..VAI LA ESCUTAR POPULAÇÂO..NÃO FICA FAZENDO CRITICAS DE LONGE

  3. Será que povo do CIME CONHECEM BEM MATA DESTA REGIÃO…OLHA DESCULPA PESSOAL DO CIME MUITO INTELIGENTE PARA FAZER MATERIA DESTA….SABE LUGAR DA ABERTURA PARQUE JA PASSOU CARRO POR LA…SABE FALAR QUE TEM INDIOS LA…SABE ESTE TIPOO DE REFLEXÃO NÃO COLA MAIS….PENSA MELHOR EM ESCREVER OUTRA MATERIA

  4. Você tem toda a razão, Camila, e tomamos a liberdade de corrigir o mandado, que deve ter sido um lapso de quem escreveu a matéria.
    Alias, na verdade os parabéns aí cabem ao Cimi. Nós apenas reproduzimos.

  5. No 2o parágrafo creio que o correto seria ‘mandado’ e não ‘mandato’, como foi escrito! Texto excelente! Viva o Combate ao Racismo Ambiental!

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