Homem torturado em público na ditadura militar tem identidade revelada

A Comissão da Verdade de Minas Gerais pode estar prestes a esclarecer um dos maiores mistérios envolvendo a ditadura militar e a população indígena
A Comissão da Verdade de Minas Gerais pode estar prestes a esclarecer um dos maiores mistérios envolvendo a ditadura militar e a população indígena

Por Redação Correio do Brasil, com Conexão Jornalismo

A Comissão da Verdade de Minas Gerais pode estar prestes a esclarecer um dos maiores mistérios envolvendo a ditadura militar e a população indígena.

A descoberta de um vídeo mostra um homem sendo carregado por dois índios em um pau de arara, instrumento de tortura, durante uma parada militar nos anos 70, em Belo Horizonte. As imagens foram encontradas no Museu do índio, no Rio de Janeiro, em 2012, pelo pesquisador Marcelo Zelic, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais/SP.

O registro foi deixado pelo brasileiro descendente da Alemanha Jesco von Puttkamer. O fotógrafo, que já foi preso pela Gestapo, integrou uma expedição em busca de tribos indígenas isoladas no Brasil. Essa viagem lhe rendeu 43 mil slides, 2.800 páginas de diários de campo e 330 km de filmes na bitola 16mm.

Uma das gravações mostra a formatura da primeira turma de alunos da Guarda Rural Indígena (Grin). A unidade de segurança era uma estratégia do regime militar para continuar seus planos de expansão ao interior das reservas amazônicas e pantaneiras sem ceder às pressões externas. Já havia, na época, grupos que denunciavam mortes e até genocídio de indígenas pela ditadura. Na ocasião, 84 índios, originados dos povos xerente, maxacalo, arajá, krahô e gaviões aparecem, no vídeo de Jesco, desfilando em uma parada militar.

A cena mais misteriosa do material recuperado desvenda um fato não noticiado pela imprensa na época: soldados indígenas, visivelmente desconfortáveis com os uniformes, carregando um homem pendurado em um pau de arara. A cena ocorre diante de milhares de pessoas. O sujeito até então era desconhecido. A Comissão da Verdade de Minas Gerais, criada em setembro de 2013, pode estar próxima da resolução desse mistério.

Em texto na Internet, o fotojornalista Rodrigo Dias disse: “Com a palavra Márcio A. Lima: “Caro Aloísio Morais. A partir da imagem pesquisei e localizei que cena é esta. Não menos terrível do que se parece, trata-se na realidade de uma demonstração de como torturar. Fez parte da Formatura da Guarda Rural Indígena montada pela ditadura em Belo Horizonte em 1970. A festividade teve a presença do Governador Israel Pinheiro, do vice-presidente José Maria de Alckimim e do Ministro do Interior Costa Cavalcanti. Esta foto faz parte do vídeo do documentarista alemão Jesco von Puttkamer (1919-94) e doado em 1977 ao IGPA (Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia), da Pontifícia Universidade Católica de Goiás”.

Estupros

O movimento policial indígena do Grin não durou muito tempo. Consta, em documentos, que alguns líderes indígenas acabaram acusados de estupro, assassinatos e roubos.

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Comments (2)

  1. Esta foto faz parte do Relatório Figueiredo. É um corte de uma imagem do desfile de formatura de uma das maiores monstruosidades perpetradas pela ditadura: a criação de uma Guarda Rural Indígena, com treinamento inclusive de tortura, como mostra a inacreditável foto, onde eles são mostrados levando um parente pendurado no pau de arara.

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