A violência da “Copa das Remoções”, em Fortaleza, na denúncia pungente de Lucas Moreira Victor e Elitiel Guedes

Um velho. Um velho curvado puxando um colchão. Um velho curvado, uma toalha ao ombro, um pé de uma havaiana, um saco pequeno, contendo pequenas coisas para outros com certeza sem valor, mas preciosas para ele. Um velho curvado, carregando sua vida sob os olhos da polícia. Mas olhando em frente…

Foto: Lucas Moreira Victor
Foto de Elitiel Guedes. Todas as demais são de Lucas Moreira Victor

 

Lucas Moreira Victor, sobre a foto abaixo:

Copa da remoção: Cenário triste aqui na comunidade do Alto da Paz que está sendo brutalmente removida, nenhum respeito aos direitos humanos e muita repressão com quem não tem onde morar. Moradores tentam salvar os pertences que conseguem, mas os tratores passam por cima de tudo, derrubando barracos e casas. Lembrando que o direito a moradia é constitucional. Um esquema foi montado pelo Batalhão de Choque, Guarda Municipal de Fortaleza, Bombeiros… a ação deixou muitos feridos, na foto essa senhora desmaiou depois de ser mordida por um cachorro do Batalhão de Choque.

Fortaleza - expulsão 2

 Angeline Carolino foi buscar em  Drummond a expressão de sua revolta:

“Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.”

Fortaleza - expulsão 3

E eu a acompanho, no mesmo Sentimento do Mundo, nestas fotos finais:

“Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis”.

Fortaleza - expulsão 7

Fortaleza - expulsão 4

Mas retomo:

Um velho. Um velho curvado puxando um colchão. Um velho curvado, uma toalha ao ombro, um pé de uma havaiana, um saco pequeno, contendo pequenas coisas para outros com certeza sem valor, mas preciosas para ele.  Um velho curvado, carregando sua vida sob os olhos da polícia. Mas olhando em frente…

Comments (8)

  1. Stéphan Bry
    Eu sou brasileira, e concordo com você, sou um ser vivo e um ser humano, é isso que somos… a injustiça e a violência é sim um problema meu também … em qualquer parte do mundo. Obrigada por compartilhar de nossa dor … desde que esse tal de Roberto Claúdio entrou na prefeitura de Fortaleza, que estamos passando por uma violência e injustiça atrás da outra. Sofremos muito de vê-lo mandar a polícia bater em professores, antes mesmo de ser prefeito. E desde que ele assumiu como prefeito que dissolveu a secretaria de ação social, derrubou 7.000 metros quadrados com árvores enormes, que caiam doendo nas nossas almas, pra botar um viaduto dentro do ecossistema manguezal, matando a vida de árvores e animais e substituindo por escavadeiras e concreto armado. Cortou creches de crianças e mandou a polícia receber as mãezinhas que foram tentar resolver o problema, mandou também a polícia para receber servidores que reivindicam seus direitos trabalhistas, e agora… fez esse absurdo com idosos, homens, mulheres e crianças que tinham seu cantinho pra morar e agora estão sem teto… estamos todos sofrendo e felizes por ter outras pessoas que compartilham desse sofrimento conosco. Obrigada!

  2. Considero seriamente adotar a cidadania brasileira.
    Nasci francês, foi por acaso, não escolhi.
    Vivo no Brasil e compartilho o sofrimento e a revolta deste povo que amo. Quero ter o direito de lutar aqui por mais justiça sem que ninguém venha me falar que não é problema meu.
    Sou um ser humano antes de ser francês, brasileiro, ucraniano ou venezuelano, a injustiça e a violência é sim um problema meu, em qualquer parte do mundo.

  3. Estas fotos falam mais do que um tratado de sociologia. É muito difícil conter a indignação diante de um tal aviltamento da condição humana, provocado por pessoas que se consideram defensores da justiça e da democracia. Diante deste quadro só nos resta juntar forças com os defensores do movimento: “Não vai ter Copa!”

  4. E inconcebivel ver este tipo de coisa nos dias de hoje, onde o capital continua sendo prioridades em relação a vida, quando sera que conseguiremos ter um mundo mais justo. mais vamos em frente porque a luta continua.

  5. Aí eu sinto como se todo o trabalho deste blog estivesse fracassando, Daniel. Porque a ideia aqui é divulgar o que costuma ser ocultado pelas mídias, para que pessoas sensíveis como você se indignem, e lutemos, junt@s, para mudar este estado de coisas.
    Apesar de tudo, o velho curvado olhava para a frente…
    Um bom dia para você,
    Tania.

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