Desabafo (mais um) por um país de verdade

Aos brasileiros que como eu querem um país melhor

Esutáquio José – Um Brasil de Verdade

Dão-nos 514 aproximados anos de história. Mas nós temos muito mais. Milhares de anos habitamos enquanto índios essas terras, essas praias, esses igarapés, essas falésias, essas ribanceiras e chapadas. Por milhares de anos fomos milhões e agora nos dizimam dia a dia, mas resistimos, porque somos fortes e fortes continuamos. Brava gente brasileira! Brava é toda a gente brasileira, sem demagogia, sem segregação, sem falso bairrismo. Somos bravos porque resistimos com nossa simplicidade, nus com a natureza e dela parte, resistimos sempre. Apesar do genocídio que sofremos, nós somos fortes, ariscos e não deixamos dominar. Somos agora miscigenados, mas mantemos a nossa cultura, a nossa força, a nossa esperança, madeira de lei que cupim não rói.

Viemos aos milhares como escravos desde a África. Éramos mortos, sofríamos e vivíamos como objetos. Criaram para nós a senzala, o proibido, o menos que humano. Mas nós também resistimos. Criamos quilombos, fugimos e lutamos. Fizemos revoltas do norte ao sul, éramos bravios e tínhamos e temos sangue guerreiro. Não fugimos à luta. Lutamos sempre. Não fomos omissos nem nos aquietamos nas senzalas. Fomos mais astutos e crescemos mais bravos. Somos ainda milhões, e milhões todo enfrentamos o racismo, o preconceito, a segregação. Não podemos ir a todos os lugares, por anos ocupamos apenas os morros e encostas, nos jogaram à margem. Mas resistimos e por nossa força foram nascidas as ruelas, os edifícios, a cultura, a força, a arte, a educação e a grande sensação de luta que esse país tem. Apesar de todos os males somos fortes.

Vivemos hoje o descompasso de uma história de opressão e mortes. Vivemos várias ditaduras e morremos por essa pátria. Somos tantos os mortos quanto são os que não tiveram nem o conhecimento do fim. Desaparecemos, saímos corridos e morremos longe de nossa pátria. Foram épocas de chumbo, cobre, sangue, dor. O luto caminha por nossas veias, mas nem por isso deixamos um segundo sequer de resistir. Nossa valentia sai justamente da falta de medo, da falta de covardia, da esperança e da crença na possibilidade. Somos fortes porque estamos juntos. Quem disse que nos vencerão? Os dias de cálice cessarão e alguns de nós ainda gritarão liberdade ainda que tardia. Inconfidentes, revoltos, insurgentes, revolucionários, somos e fomos aos montes. Estamos sob esse céu e esse sol com tanta galhardia que brilharemos até enquanto um pingo de injustiça existir.

Se somos poucos, cada vez menos? Não importa. A consciência da luta não afasta e o temor da derrota não intimida. Vamos sempre à frente e vamos sempre brigar pelo que é nosso. Por mais que nos deixem longe da força que queremos, nós iremos e nos veremos vencer. Uma vitória pequena, uma batalha conquistada, entre mil perdidas, já é um alento para quem quer ver ideais sociais realizados. Chamem-nos de utópicos, de iludidos, de sonhadores, mas não nos neguem o título pelo qual lutamos vida inteira, vidas inteiras, de brasileiros.

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