Índios relatam medo e dizem sofrer ameaças de população no Sul do AM

Índios Tenharim durante reunião com Exército em aldeia (Foto: Larissa Matarésio/G1 AM)
Índios Tenharim durante reunião com Exército em aldeia (Foto: Larissa Matarésio/G1 AM)

Líderes indígenas dizem que orientação é para evitar confronto. Conflito entre indígenas e moradores começou após sumiço de três pessoas.

Larissa Matarésio, do G1 AM

Após 22 dias do desaparecimento de três homens que foram vistos pela última vez na BR-230, próximo à aldeia Tenharim, o conflito entre índios e não-índios continua no Sul do Amazonas. Segundo o líder indígena Ivanildo Tenharim, as ameaças são constantes e os índios temem por novos protestos.

Ivanildo Tenharim disse que os índios da região estão vivendo sob constantes ameaças. “Nos protestos anteriores queimaram os pedágios e tentaram invadir a aldeia. As lideranças foram avisadas para não revidar, mas o medo ficou”. No dia 27 de dezembro, madeireiros e fazendeiros atearam fogo em instalações dos Tenharim, em protesto ao pedágio que era cobrado para passagem na Transamazônica, que corta a reserva.

Ivanildo Tenharim falando ao exército sobre o medo nas aldeias (Foto: Larissa Matarésio/G1 AM)
Ivanildo Tenharim falando ao exército sobre o
medo nas aldeias (Foto: Larissa Matarésio/G1 AM)

Segundo Tenharim, se os conflitos chegarem novamente à aldeia a primeira orientação é para que todos evitem o confronto. O líder disse que estão preparados para isolar a reserva caso haja algum ato de vandalismo. “Em último caso, o que faríamos para evitar um confronto é isolar a região, cortando as pontes de acesso”, explicou.

Um dos líderes dos Matuí, Bosco Matuí, etnia que também vive em uma reserva que é cortada pela BR, comentou os dias de conflitos na região. “O que aconteceu aqui não foram protestos, foi vandalismo. As nossas mulheres e crianças estão com muito medo. A minha mãe, uma senhora de idade teve que correr para dentro da mata e acabou machucada. Tenho dois filhos especiais que estão sem receber atendimento médico porque temos medo de sair da aldeia”, contou Bosco.

Os indígenas se pronunciaram durante visita da comitiva do comandante-geral do Exército na Amazônia, general Villas Bôas, do procurador do Ministério Público do Amazonas, José Roque, e de outros oficiais do Exército, nesta segunda-feira (6) na reserva indígena. Também estiveram presentes na reunião as lideranças das etnias Jiahui e Matuí.

Durante a visita da comitiva, os índios avisaram que o pedágio voltará a ser cobrado a partir do dia 1º de fevereiro. O general Villas Bôas ressaltou que o momento é de pacificação e recomendou que os pedágios não voltem a funcionar na BR-230.

Buscas
Os trabalhos de buscas aos homens desaparecidos estão concentrados no trecho que fica entre o km 136 e 150 da Transamazônica (BR 320), em uma região de mata fechada. Ao todo, cerca de 400 homens do Exército, Polícia Federal (PF), Força Nacional, Polícia Militar (PM) e Polícia Rodoviária Federal (PRF) foram enviados ao local.

De acordo com o Comando Militar da Amazônia (CMA), o Exército foi enviado ao Sul do Estado para prestar apoio logístico à região do conflito, com o transporte de alimentos e pessoas.

Lideranças indígenas e Exército estiveram reunidos na segunda (Foto: Larissa Matarésio/G1 AM)
Lideranças indígenas e Exército estiveram reunidos na segunda (Foto: Larissa Matarésio/G1 AM)

Conflitos no Sul do Amazonas
A região onde a reserva está localizada é palco de conflitos, que começaram no dia 25 de dezembro, após o desaparecimento de três pessoas. A terra indígena é cortada pela rodovia Transamazônica (BR-230). Desde então, a área localizada no Sul do Amazonas vive dias de instabilidade por conta de protestos violentos que já resultaram na depredação de prédios e bens públicos de órgãos e autarquias federais relacionados a políticas públicas voltadas aos povos indígenas, além de ameaças a um grupo de indígenas que estava na cidade para tratamento de saúde.

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