Polícia Federal retoma nesta terça-feira as buscas por desaparecidos na rodovia Transamazônica

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Coletiva Humaitá. Foto: Clóvis Miranda

Por Adriano Silva, em A Crítica

A força tarefa suspendeu na noite desta segunda-feira (30) as buscas pelos três homens desaparecidos há 14 dias na rodovia Transamazônica (BR-230), Sul do Amazonas. O trabalho será retomado na manhã desta terça-feira (31).

A operação realizada pela Polícia Federal (PF), Polícia Militar (PM), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Exército Brasileiro e Força Nacional começou às 16h desta segunda-feira no km 130 da BR-230, sob o comando do delegado federal Alexandre Alves. Eles estão baseados na comunidade de Santo Antonio de Matupi, pertencente ao município de Manicoré, também no Sul do Amazonas.

O delegado Alexandre Alves informou que nos primeiros três dias de trabalho da força tarefa foram realizados vários trabalhos de inteligência em campo, onde conseguiram algumas informações importantes para o início das buscas.

A operação já tem 3 dias de trabalho e não há previsão de retorno até que consigam pistas que levem ao paradeiro de Stef Pinheiro de Souza, Luciano Ferreira Freire e Aldeney Ribeiro Salvador.

“Já fizemos o levantamento de algumas informações durante esses três dias que estamos na cidade e a partir daí, daremos início as buscas. Delimitamos uma área em que o veículo teria sido visto pela última vez e no início da tarde de hoje (ontem) estaremos retornando a reserva, sem ter previsão de retorno, inicialmente estamos contando com 36 horas de buscas intensas”, revelou.

Alves disse também que não tinha conhecimento da decisão da Justiça Federal que determinava o retorno dos índios para suas aldeias e que na manhã de domingo a força tarefa reuniu com as lideranças indígenas que estavam no 54º Batalhão de Infantaria de Selva, juntamente com representantes da Funai, onde foi lavrada uma ata com algumas decisões.

“Nós não fomos notificados sobre qualquer decisão judicial, mas os índios que estavam no batalhão pediram para retornar a suas casas, pois queriam ter notícias dos familiares que por lá ficaram. Hoje (ontem) logo cedo atendemos esse pedido e realizamos esse transporte com segurança”, declarou.

Pedágio indígena

O delegado informou que os índios assumiram o compromisso de suspender a cobrança de pedágio durante as buscas dos desaparecidos. “Eles assumiram este compromisso comigo e a partir de hoje (ontem) não será mais cobrado pedágio na BR-230, até que a operação acabe. Até porque a partir de hoje a BR-230 está sob responsabilidade da força tarefa, com nosso patrulhamento. Eles também se comprometeram em reunir com as lideranças indígenas para colaborar com as nossas investigações e vão permitir o acesso da nossa força tarefa para realizar todas as buscas que forem necessárias dentro da reserva indígena”, disse.

Desespero dos familiares

“Precisamos de informações concretas do que aconteceu com nossos familiares, não aguentamos mais ouvir boatos pela rua. Estamos sofrendo muito, desgastados física e psicologicamente. O senhor, delegado, precisa nos dar uma resposta, não aguentamos mais”.

Este apelo foi feito na manhã de hoje, por familiares dos três desaparecidos há mais de 13 dias na rodovia Transamazônica (BR-230), nas proximidades da reserva Indígena Tenharim Marmelos, em Humaitá, no Sul do Amazonas, durante entrevista coletiva concedida pelo delegado federal Alexandre Alves e por representantes da Força Tarefa criada para investigar o caso.

Outro apelo feito pelos familiares do professor Stef  Pinheiro de Souza, dono do carro em que os três viajavam, do representante comercial Luciano Ferreira Freire e o técnico Eletrobrás, Aldeney Ribeiro Salvador,  é que sejam os primeiros a ser informados sobre tudo o que está acontecendo. “Delegado, por favor, seja ela qual for, mas queremos ser os primeiros a ser informados sobre tudo o que vocês encontrarem nessas buscas. Não queremos saber e nem ouvir nada nas ruas ou na televisão, temos o direito a essas informações”, explicaram.

Alves se comprometeu em dar segurança a todas as pessoas que utilizam a BR-230 e que não haverá qualquer tipo de manifestação durante este período. “A partir de hoje já estamos realizando o controle de todos os veículos que passam por aqui, assim como o controle de trânsito no local. Não vai ter manifestação no local, nós precisamos de segurança, de tranquilidade para trabalhar”, revelou.

Apelo da Polícia

Para finalizar, o delegado Alves fez um pedido aos moradores de Humaitá. “A única coisa que eu peço pra vocês, estou saindo daqui hoje (30) e estou indo para dentro do mato, eu vou pra selva trabalhar. Eu preciso que a população colabore com nosso trabalho, eu preciso que a população entenda que, cada vez que o distúrbio civil ocorrer nessa cidade, eu terei que desviar o foco do meu trabalho e se eu tiver que desviar o foco do meu trabalho, o primordial aqui que é encontrar essas pessoas desaparecidas vai ser prejudicado”, pediu ele.

Questionado sobre o possível retorno dos índios nas ruas e comércios de Humaitá o delegado aconselhou que isso seja evitado. “Por enquanto não é recomendável, considerando alguns poucos manifestantes que generalizaram a questão e acabam de certo modo agredindo, nem que seja verbalmente, incitando a violência contra eles e eu digo, eles são pessoas normais como qualquer ser humano, eles não podem ser hostilizados pelo fato de um ou dez índios terem cometido um crime”, disse.

As buscas pelos desaparecidos são realizadas a partir do km 130 da Transamazônica, onde teriam sido vistos pela última vez. Além de helicópteros, cães farejadores e navegadores de selva – equipes especializadas em buscas na mata fechada -, uma equipe de peritos acompanhará os trabalhos.

Entenda o caso

O conflito ocorrido entre moradores de Humaitá e os índios começou após o desaparecimento do professor Stef  Pinheiro de Souza, dono do carro em que viajavam também o representante comercial Luciano Ferreira Freire e o técnico Eletrobrás, Aldeney Ribeiro Salvador, supostamente sequestrados e mortos em retaliação à morte do cacique Ivan Tenharim – ele teria caído da moto, mas os índios acreditam que foi assassinado.

No dia do Natal, a população revoltada incendiou a sede da Funai, a Casa de Saúde do Índio, veículos e um barco usado no atendimento às populações indígenas. Dois dias depois, um grupo armado incendiou os postos de pedágio dos índios na Transamazônica. Ao pedido do Ministério de Defesa, uma força-tarefa com 400 homens passou a atuar na região.

Comments (2)

  1. Deixa ver se eu entendi: “pelo fato de um ou dez índios terem cometido um crime”. Quer dizer que o delegado acha que eles cometeram? Quer dizer que ele já sabe, já possui indícios? Que declaração de uma autoridade que foi lá ajudar a justiça! Nem preisa retirar o que está no que está naquele sítio, então, se a própria justiça pensa assim. No more comments.

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