Retrospectiva 2013 no Brasil: mais um ano para se esquecer (Parte 1)

LutoCentenas de índios mortos e jurados de morte. Racismo aberto em todos os cantos do Brasil. Um ano a mais de desgosto social e de desigualdade animada. O ano de 2013 mostrou mais uma vez a face do problema e a dificuldade que teremos para resolvê-lo. 

Por Eustáquio José, em Um Brasil de Verdade

Entre as perdas que somamos está a situação indígena no país. A tal da bancada ruralista conseguiu povoar a comissão da demarcação em todos os níveis (inclusive na presidência, o que não é novidade para um país que permite um racista e homofóbico presidir a comissão dos direitos humanos e das minorias sociais na Câmara dos Deputados mostrando o porquê da descrença total de mais de 90% dos brasileiros em políticos/partidos) e o índio ficou mais uma vez preso às promessas de uma presidente e ao gargarejo populista de um ex-presidente que não evitou que a situação do índio chegasse até a penúria que se encontra. A população indígena, inferior a um milhão dos quase duzentos milhões de brasileiros, sofre por redução política de sua representatividade. Deveras nós estamos com um ou outro político atentando às causas genuinamente indígenas, e o resto está preocupado em despovoar as terras para aumentar o lucro do agro-negócio. Enquanto pseudo-ambientalistas estão mais ocupados, como a presidenciável Marina Silva, em defender um agronegócio sustentável – o que me parece uma calamidade só sugerida por alguém que acha que o mundo está sustentado por meias-verdades e por uma acomodação de discurso de conveniência, prova de sua amizade próxima e conceitual com Al Gore, por exemplo -, os índios parecem não ter mais espaço na realidade social. Chico Mendes que morreu há 25 anos atrás teria um desgosto profundo em enxergar a odiosa cor da bandeira que se pinta em defesa da natureza.
Outro momento turvo de nossa história é a falácia de igualdade racial e social no Brasil perpetuada por mais um ano. Em especial no aniversário simbólico de Casa Grande e Senzala nós pudemos ver que a simpática e falseada forma de ver o negro como cordato à escravidão e resignado social continuou anexada a uma ideia macabra na qual o negro é suspeito e culpado de tudo. A postura horrenda da polícia em três casos pareceu sintomática do que dizemos aqui e agora. Amarildo é o caso mais emblemático. Negro, pobre, trabalhador. Foi torturado e não resistiu à tortura. Não adiantou a comoção popular em torno do caso, pois a família não poderá enterrar seu ente já que o corpo não foi encontrado até hoje. As UPP’s servem de fachada para o comum da polícia: reprimir o miserável, o excluído e o negro em geral que ocupa essas camadas, e fazer vistas grossas perante o restante da sociedade, a elite social que goza dos privilégios de jamais ser suspeita pelos desmandos que ela mesma comete.
Douglas, mais um negro de comunidade carente, ainda teve tempo de perguntar porque levou um tiro no peito de um policial que julgou que ele fosse bandido. E mais recentemente o único ainda preso desde as manifestações, também negro, e acusado de portar coquetéis molotov que ele nem sabe o que é. O trabalhador da garrafa de pinho sol também é caso verídico de que com esse tipo de racismo das instituições não iremos para frente hora alguma.
Devido a esse tipo de ação e ao deslize, por exemplo, da FIFA ao dizer que não teria o casal negro apresentando para agradar aos patrocinadores e ao seu “público” (lembrando que a última copa do mundo antes da copa do Brasil foi na África do Sul de Mandela, de saudosa memória que falarei em outro post mais à frente). Assim, amigas e amigos, eis aí a face terrível do que não se quer ver nesse país: racismo é a palavra de ordem. Racismo contra o índio, contra o negro, contra o pobre, contra o miserável e agora o começo de um processo de higienização urbana que parte do princípio estético que pobres e pessoas que não tenham lugar para morar enfeiam a cidade, sobretudo em época de exposição mundial como a que teremos em 2014, com a superfaturada e desproporcional copa do mundo.
Oxalá eu morasse num lugar melhor e num país mais consciente. Mas as pessoas param diante das televisões não para assistir aquilo que realmente mereça atenção – como as declarações de um Cabo Anselmo ao programa Roda Viva da TV Cultura, mesmo que com a pertinência de uma emissora tucana perto das eleições majoritárias do ano que vem – e se engalfinham para ver qual é “a voz” que nem chegará a ser conhecida ou será datada para que nós estejamos ocupados demais com o que acontece no litoral de nossa sociedade e não na periferia ou no centro que estamos concentrados.
Mesmo assim não se pode deixar de falar nem de se preocupar com as questões sociais mais prementes. A retrospectiva nesse blogue não é nem sensacionalista nem, muito menos, oportunista como as que vemos todos os anos. Não é jornalismo de conveniência, que, ainda bem, é quebrado com o jornalismo independente de uma sociedade que se sente saturada com a enganação de cada dia dos grandes veículos de informação de massa no Brasil. A terrível lógica social envergonha demais a situação do país. Mas poucos se dão conta disso e a Amazônia vai sendo dizimada pelo que a Marina Silva irresponsavelmente chamou de urgência e importância da pecuária em detrimento da pasta que ela mesma ocupou quando ministra do Meio Ambiente que é a preocupação ambiental que deveria ser regra e não consequência em sua fala. Quem dera eu tenha coisas melhores a comentar aqui nesse blogue ano que vem, mas por enquanto são monstrengos sociais o que vemos por aí. Sinceramente é decepcionante.

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