Tornado causa destruição na Mata Atlântica de Santa Catarina

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Tornado atinge uma das reservas mais preservadas de Santa Catarina. Árvores ameaçadas de extinção foram derrubadas pela força dos ventos.

Por Germano Woehl Junior 

Um evento climático com características de um tornado causou grande destruição na Localidade Linha Cerqueira, em Itaiópolis (SC). Moradores, famílias de pequenos agricultores, ficaram muito assustados porque ainda não tinham ainda vivenciado um fenômeno climático tão devastador.

Ventos que giravam com altíssimas velocidades destruíram uma faixa de Mata Atlântica primária da RPPN das Araucárias Gigantes, praticamente moendo as árvores centenárias de espécies ameaçadas de extinção como CANELA-SASSAFRÁS (Ocotea odorifera) e CANELA-PRETA (Ocotea catharinensis). Pássaros de várias espécies foram encontrados mortos nas bordas das matas. As plantações de tabaco de 45 pequenos agricultores foram arrasadas, com perda total da maioria das lavouras. Os fortes ventos também destruíram casas de madeira, destelharam e derrubaram até paredes de alvenaria de casas e estufas de secagem de tabaco.

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Elza Nishimura Woehl junto a uma CANELA-SASSAFRÁS (Ocotea odorifera), espécie ameaçada de extinção, derrubada pelo tornado que atingiu uma das partes mais preservadas da RPPN das Araucárias Gigantes, em Itaiópolis (SC).
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CANELA-SASSAFRÁS (Ocotea odorifera), espécie ameaçada de extinção, derrubada pelo tornado que atingiu uma das partes mais preservadas da RPPN das Araucárias Gigantes, em Itaiópolis (SC).

Um evento climático com características de um tornado causou grande destruição na Localidade Linha Cerqueira, em Itaiópolis (SC). Moradores, famílias de pequenos agricultores, ficaram muito assustados porque ainda não tinham ainda vivenciado um fenômeno climático tão devastador.

Ventos que giravam com altíssimas velocidades destruíram uma faixa de Mata Atlântica primária da RPPN das Araucárias Gigantes, praticamente moendo as árvores centenárias de espécies ameaçadas de extinção como CANELA-SASSAFRÁS (Ocotea odorifera) e CANELA-PRETA (Ocotea catharinensis). Pássaros de várias espécies foram encontrados mortos nas bordas das matas. As plantações de tabaco de 45 pequenos agricultores foram arrasadas, com perda total da maioria das lavouras. Os fortes ventos também destruíram casas de madeira, destelharam e derrubaram até paredes de alvenaria de casas e estufas de secagem de tabaco.

Crianças entraram em pânico. Elen Iasmin Govacki, 9 anos, tentava em vão acender uma vela benta dentro de sua casa que estava bem fechada mas não conseguia porque o vento entrava com muita força pelas frestas das portas e janelas. Desistiu e saiu correndo para outro cômodo da casa ao ouvir estrondos e ver pela janela da cozinha duas copas de araucárias sendo arrancadas e arremessadas em sua direção, mas por sorte não atingiram sua casa. Nem a igreja da comunidade escapou da fúria dos ventos, tendo parte do telhado arrancado.

O fenômeno ocorreu no sábado do dia 14/12/2013, por volta das 17 h e durou apenas 20 minutos. Foi bem localizado em uma faixa de 500 metros de largura e estendendo-se por alguns quilômetros. O que estava dentro desta faixa sofreu destruição, mas com intensidade variável. Na parte onde o suposto tornado tocou o solo pela primeira vez foi a mais destruída. As folhas de tabaco foram arrancadas e varridas das lavouras, restando apenas o talo. Muitas araucárias jovens que estavam no caminho do tornado tiveram as copas decepadas e atiradas bem longe.

O tornado veio acompanhado de muito granizo que atingiram também propriedades vizinhas e contribuiu para aumentar os prejuízos dos agricultores, muitos dos quais perderam a única fonte de renda de um ano, já que a metade não fez seguro da lavoura e alguns fizeram seguro parcial. Além disso, eles financiaram máquinas e o custeio das lavouras e, portanto, dependiam da safra para quitarem as dívidas contraídas.

Infelizmente, a RPPN das Araucárias Gigantes estava próxima do ponto onde o tornado tocou o solo pela primeira vez e uma faixa de mata primária entre 30 e 70 metros de largura, a partir da borda das lavouras, foi triturada, ficando apenas o tronco da maioria das gigantescas árvores centenárias, sendo que algumas foram arrancadas com as raízes. Esta destruição foi ao longo de 200 metros da divisa entre RPPN e a área de agricultura, onde o tornado perdeu força ou sofreu um desvio para fora da mata. As gigantescas araucárias da RPPN, que podem ter mais de 500 anos, estão fora desta faixa e nenhuma sofreu qualquer dano.

A Elza e eu chegamos para ver o estrago na RPPN três dias depois. De longe parecia que não era tão grave como nos informaram. Achamos que somente algumas árvores da borda tiveram as copas arrancadas. Quando entramos na área, que era de mata primária, ficamos assustados com o cenário de destruição. Parecia que uma roçadeira gigantesca passou por ali. Não conseguíamos se deslocar de tantos galhos enormes caídos, das copas inteiras das árvores, das quais restaram apenas os troncos. Conseguimos reconhecer algumas das árvores que foram marcantes, como de uma espécie rara que só recentemente conseguimos identificar. No meio dos escombros conseguimos localizar um exemplar de CANELA-SASSAFRÁS (Ocotea odorifera), espécie ameaçada de extinção, que costumamos mostrar para os visitantes. Graças a Deus que a 50 metros da borda não teve destruição, a mata permaneceu intacta. No entanto, descobrimos mais tarde que outra parte de mata secundária da RPPN foi também duramente atingida.

Pinheiros (araucárias) em frente da residência do agricultor Elcio Glovacki tiveram as copas decepadas pelo tornado. Clique sobre a imagem para ampliar
Araucárias em frente da residência do agricultor Elcio Glovacki tiveram as copas decepadas pelo tornado
Copada de uma das araucárias da imagem acima foi parar no meio de uma plantação de tabaco.
Copada de uma das araucárias da imagem acima foi parar no meio de uma plantação de tabaco.

Este é o terceiro evento climático extremo que atinge a região em três anos e meio. A mata ainda estava se recuperando da nevasca ocorrida no dia 22 de julho deste ano e do vendaval e granizo do dia 16 de julho de 2009. Se estes eventos continuarem ocorrendo com esta freqüência teremos impactos significativos sobre as últimas áreas bem preservadas de Mata Atlântica e as atividades de agricultura poderão ficar inviabilizadas. Não há nada que se possa fazer diante da poderosa força destruidora destes fenômenos, a não ser rezar como fizeram os agricultores durante os longos vinte minutos em que estiveram com suas vidas em jogo dentro de suas casas sacudidas pela força dos ventos.

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