Xapuri ainda conserva lembrança de Chico Mendes, 25 anos após morte do seringueiro

ABr111213VAC_5622Ivan Richard* – Agência Brasil
Enviado Especial

Xapuri (AC) – A identificação na entrada da cidade é uma referência clara da luta dos seringueiros. “Xapuri, Cidade de Chico Mendes”. Com pouco mais de 16 mil habitantes, o município localizado na região do Alto Acre, a cerca de 180 quilômetros da capital Rio Branco, ainda conserva as características do interior.

A cidade natal de Chico Mendes tem ruas estreitas, a maioria de blocos de pedra. Poucas são asfaltadas. Seu filho mais ilustre é lembrado em praticamente todos os cantos. Logo na entrada, está a fábrica de preservativos masculinos Natex, construída em parceira pelos governos estadual e federal. Criada para escoar a produção do látex, atualmente a empresa  não garante plenamente o retorno financeiro aos antigos soldados da borracha, que recebem pouco mais de R$ 7 pelo quilo do produto.

ABr111213VAC_5676Perto do centro, a casa onde Chico Mendes viveu e morreu virou um ponto de cultivo à memória do seringueiro. Ao lado, foi erguido o Museu Chico Mendes, que abriga fotos, textos e objetos usados pelo líder sindicalista. A cidade também guarda traços dos conflitos que há 25 anos provocaram a morte de Chico Mendes e líderes sindicalistas.

Ao longo dos ramais, como são chamadas as estradas de chão batido que dão acesso às propriedades rurais – as colocações – é constante o cenário de áreas desmatadas para criação de gado. E os números confirmam: nos últimos 15 anos, o rebanho bovino no Acre saltou de 900 mil cabeças para mais de 3 milhões de animais.

“Hoje a questão da pecuária adentrou as comunidades rurais dos antigos seringais em função das necessidades. Na época, junto com Chico Mendes, os seringueiros defendiam a posse da terra, mas não estava definido que tipo de atividade econômica ia ser eterna. Naquele momento, era o extrativismo, porque propiciava o básico do básico do que se consumia na época”, disse a vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Xapuri, Dercy Teles.

ABr121213VAC_6356Sentado à frente da casa de Chico Mendes, como costuma fazer quase todos os dias, o ex-seringueiro Luiz Targino de Oliveira, 81 anos, teme pelo futuro da floresta. “Quero ver daqui a alguns anos, quando não tiver mais nenhuma árvore e a seca comendo. Porque a briga é pelo dinheiro. O fazendeiro não está satisfeito em possuir mil cabeças de gado, quer possuir 5 mil e destruir. Porque, para ele criar muito gado, ele tem que destruir a natureza. Onde tem o único pulmão de floresta é na Amazônia”.

No Seringal Cachoeira, onde Chico Mendes viveu boa parte da vida, a criação de gado e a retirada seletiva de madeira fazem parte do dia a dia dos extrativistas. Os longos percursos, antes feitos a pé, hoje são desbravados por motos. A escola idealizada por Chico Mendes evita que os filhos dos homens da floresta precisem ir até a cidade para estudar.

“Ninguém produz riqueza, mas vive com a barriga cheia e corpo coberto. Hoje, vemos nossos filhos ir para a escola e voltar porque a escola está aqui na casa dos seringueiros. A cada três horas de caminhada tem escola e também temos ônibus escolar. Então, é suficiente para a gente viver com a barriga cheia, corpo coberto e tranquilidade. Hoje, boa parte [das pessoas] tem geladeira e televisão. É uma vida que nem se compara com a vida que nós tínhamos aqui há dez, 20, 50 anos”, disse Raimundo Mendes de Barros, primo de Chico Mendes.

*Edição: Marcos Chagas

Comments (1)

  1. Sempre tive interesse em conhecer a luta de Chico Mendes, a sua defesa e o seu combate. E o que ele defendia?… um mundo melhor para os povos da floresta e o fim da exploração e destruição do homem e da natureza pelos seringalistas.

    É verdade que a maldade de muitos é maior que as forças dos aliados da natureza. E tanto é verdade que Chico Mendes morreu e os seus assassinos andam por aí esgravatando os dentes e com pilhérias ao dizer que Chico Mendes se matou; que criminoso é aquele que força alguém a puxar o gatilho.

    E é bom que mesmo se reconhecendo que o mundo atual e a própria floresta amazônica, por conta da luta empreendida por Chico Mendes, estejam bem melhores hoje, é verdade também, que a floresta continua sendo devastada pelos criadores de gado e aqueles que querem mais terra desmatada para especulação.

    Não se pode contentar que as pessoas hoje têm mais televisor, mais celular e outras parafernália, até porque isso é do interesses dos capitalistas e da classe dominante que pretende passar para o povo as suas mentiras.

    A luta de Chico Mendes precisa continuar, mas, no combate aos mesmos inimigos dos povos da floresta e da floresta em si.

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