Justiça reconhece que quilombolas ribeirinhos usados como cobaias por ‘cientistas’ dos EUA no Amapá têm direito a indenização. E os culpados?

omunidade no interior do Amapá: ribeirinhos foram pagos para receber picadas do mosquito da malária
Comunidade no interior do Amapá: quilombolas ribeirinhos eram pagos para receber picadas do mosquito da malária

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

Embora essa história já tenha sido noticiada e venha se arrastando desde 2006, salvo erro, quando o primeiro escândalo explodiu, é impossível não nos perguntarmos como tudo isso foi possível, a cada vez que ela é mencionada.

Que tipo de ‘cientista’ paga de R$12 a R$20 reais para que cerca de dez seres humanos (um deles de 65 anos) aceitem expor seus corpos às mordidas de 100 mosquitos, duas noites por ano, durante dois anos, para adquirirem malária – e ainda contaminarem familiares, amigos e a própria comunidade?

Que tipo de universidade (nesse caso, dos EUA, mas a pergunta vale para qualquer país, inclusive o nosso) concebe se aproveitar da pobreza de quilombolas ribeirinhos da Amazônia, cinicamente classificando-os de “voluntários”, para realizar uma “pesquisa” sobre a Heterogeneidade dos vetores da malária no Brasil? 

Que funcionários da área de saúde, estaduais e federais, aceitam se associar e ajudar a viabilizar essa desumanidade? O que aconteceu a eles? E a Alan Kardec Ribeiro Galardo, especialmente?

Finalmente, quem é responsável por essa 2ª Vara Federal do Amapá, que teve a capacidade de negar o pedido de reparação feito pelo MPF para as vítimas?

Decididamente, tudo isso é torpe demais para terminar assim, mesmo que a 5ª Turma do TRF1 tenha tido a dignidade de fazer justiça e reformar a decisão ultrajante.

A notícia curta segue abaixo, mas com certeza essa história não pode terminar aí! Há muita responsabilidade a ser investigada, e muita gente para ser posta na cadeia.

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Justiça irá indenizar pessoas que eram usadas como cobaias no Amapá

TRF1 reconhece tortura em pesquisa sobre mosquito da malária e assegura reparação a ribeirinhos do Amapá

Por Ana D’Angelo , no Correio Braziliense

A 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) reconheceu ontem, por unanimidade, que ribeirinhos de comunidades do interior do Amapá que serviram de isca para mosquitos transmissores da malária, em testes realizados entre 2002 e 2003, têm direito à indenização por danos materiais e morais. O TRF1 reformou a sentença da 2ª Vara Federal do Amapá, que havia negado o pedido de reparação feito pelo Ministério Público Federal em nome das vítimas.

Patrocinada por duas universidades norte-americanas em parceria com a Secretaria de Saúde do Amapá e coordenada pelo servidor da Fundação Nacional de Saúde Alan Kardec Ribeiro Galardo, a pesquisa foi suspensa, em 2006, pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) por desvio do seu objeto e por violação de princípios éticos e da dignidade humana. Galardo estava cedido, na ocasião, à secretaria do Amapá.

De comunidades pobres, os ribeirinhos que participaram da pesquisa — em torno de 10, um deles com 65 anos — foram cooptados por Galardo e por um pesquisador dos Estados Unidos, mediante pagamento de R$ 12 (depois elevado para R$ 20) para cada uma das nove noites de trabalho. As cobaias humanas recebiam picadas e alimentavam, com o próprio sangue, 100 mosquitos, duas vezes por ano. Todos contraíram malária, que se espalhou na comunidade. O trabalho de campo da pesquisa, intitulada Heterogeneidade dos vetores da malária no Brasil, iniciava com a colocação na perna ou no braço dos voluntários da borda de um copo contendo 25 mosquitos por vez.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por  Suanny Semblano.

Comments (2)

  1. a justiça tem que ser feita, são décadas que a população do norte e nordeste são feitos de cobaia para vários estudos dos americanos. Achei que o governo Lula ia rever estes abusos, mas vejo que continua sem solução.

  2. o uso da populaçaõ pobre,no norte e nortdeste do Brasil sempre houve,mas nehumA AUTORIDADE, se deu conta da maldade que fazem com essa comunidades, vamos continuar denunciando e abrindo os olhos para que a justiça seja feita.

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