Ajudante negro do Papai Noel gera debate sobre racismo na Holanda

A polêmica ganhou força em outubro, quando uma acadêmica do Alto Comissariado da ONU para direitos humanos enviou uma carta ao governo holandês queixando-se que Zwarte Piet “reforça estereótipos negativos”
A polêmica ganhou força em outubro, quando uma acadêmica do Alto Comissariado da ONU para direitos humanos enviou uma carta ao governo holandês queixando-se que Zwarte Piet “reforça estereótipos negativos”

Raiz Africana – Zwarte Piet é um tradicional personagem do folclore natalino holandês, mas tem despertado críticas de quem diz que ele reforça estereótipos.

Uma antiga tradição popular está gerando debates sobre racismo na Holanda.

A icônica figura do Zwarte Piet (ou Negro Pedro, em tradução livre) é parte das festividades natalinas holandesas e acompanha o Papai Noel na distribuição de presentes e nos desfiles de rua. O personagem costuma ser representado por uma pessoa branca com o rosto pintado de preto e uma peruca afro.

No último final de semana, milhares de pessoas foram às ruas de Amsterdã para assistir ao tradicional desfile que abre a temporada de festas de fim de ano no país, mas parte do público aproveitou a ocasião para protestar, alegando que Zwarte Piet é um símbolo racista, que remete à escravidão em antigas colônias holandesas no Caribe.

A Unesco, órgão de cultura da ONU, disse que a consultora que assinou a carta não estava autorizada em falar em nome das Nações Unidas. Mas o episódio fomentou o debate em um país famoso por promover a igualdade.

Estereótipos

O poeta caribenho Quinsy Gario foi preso em 2011 por ter participado de um protesto durante um desfile natalino. E hoje lidera a campanha pela abolição do personagem, argumentando que ele perpetua estereótipos racistas.

Enquanto ele conversa com a BBC em Roterdã, dois homens passam pela esquina gritando o nome de Zwarte Piet – que, nesta época do ano, é onipresente nas ruas holandesas.

A reportagem pede que os homens se expliquem. “Ele (Gario) nos faz lembrar do Zwarte Piet”, dizem eles, sem parar de caminhar.

É uma contundente ilustração do tipo de discriminação que Gario diz sofrer.

Há algumas décadas, a Holanda deixou de ser um país homogêneo. Após a 2ª Guerra Mundial, chegaram muitos imigrantes da Turquia e do Marrocos, bem como de antigas colônias caribenhas.

Dos cerca de 17 milhões de habitantes, 3,5 milhões são cidadãos holandeses nascidos no exterior ou filhos de imigrantes.

Tradição

Mas as manifestações contra Zwarte Piet – bem como a carta enviada pela ONU – provocaram revolta em muitos que defendem a tradição holandesa.

Jornais fizeram reportagens com leitores de diversas origens étnicas apoiando a prática de pintar o rosto de preto.

Uma página do Facebook chegou a ser criada em defesa do personagem – e mais de 2 milhões curtiram.

Dentro de um estúdio de tatuagem em Roterdã, um artista explica que essa defesa é uma reação à sensação, entre muitos holandeses, de que a cultura tradicional estaria se perdendo com o avanço da imigração.

Uma das clientes do estúdio está justamente fazendo uma tatuagem de Zwarte Piet. “As pessoas têm o direito de expressar e preservar sua cultura”, diz. “Enquanto essa cultura não violar direitos humanos, ela é um direito humano.”

Já Rita Izsak, uma das autoras da carta da ONU enviada ao governo holandês, diz que o racismo “pode ser invisível, mas isso não significa que ele não está lá”.

Fonte: G1

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