Advogado e militante, Onir Araújo é detido pela BM após ato pelo Dia da Consciência Negra

Onir Araújo relata que não foi comunicado do motivo de sua detenção até chegar na delegacia | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Onir Araújo relata que não foi comunicado do motivo de sua detenção até chegar na delegacia | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Débora Fogliatto – Sul21

Após ato pelo Dia da Consciência Negra, comemorado nesta quarta-feira (20), um grupo de pessoas ligadas à Frente Quilombola do Rio Grande do Sul se reuniu em uma área do largo Zumbi dos Palmares, onde foram abordados pela Brigada Militar. Na ocasião, o advogado e militante Onir Araújo foi detido e encaminhado à delegacia na rua Fernando Machado. Ele denuncia que não foi comunicado a respeito dos motivos de sua prisão e que foi abordado de forma truculenta. A Brigada Militar justifica que ele foi detido por não querer se identificar.

Onir relata que um grupo de cerca de quinze pessoas estava em uma roda, com alguns tocando violão, em frente ao Zumbi Bar, quando foram abordados pela Brigada Militar. “Chegou um brigadiano do meu lado e se dirigiu a uma pessoa que tocava violão, dizendo que havia reclamações por causa do barulho”, conta. A BM confirma que foi até o local por ter recebido uma denúncia de “perturbação da ordem”. Onir, então, teria questionado os policiais sobre a origem da reclamação. “Eu perguntei quem havia reclamado, porque ali na frente é um estabelecimento comercial, estávamos numa praça. De onde pode ter vindo uma reclamação?”.

Nesse momento, ele conta que levou uma pancada e uma chave de braço por parte de algum dos brigadianos. As pessoas que estavam em volta tentaram protestar, mas Onir foi algemado e levado à delegacia por quatro policiais. Até então, o advogado diz que não sabia o motivo de estar sendo detido. Quando chegou no posto, que pertence ao 9º BPM, os policiais alegaram que Onir havia recusado se identificar. “Eles não falaram nada na hora. Lá na delegacia, disseram que eu havia recusado me identificar, mas como eu ia me identificar se nem deram tempo de eu falar nada?”, relatou Onir.

Segundo a Brigada Militar, após a denúncia de perturbação, policiais se dirigiram ao local e pediram identificação de todos os presentes. Onir, por ter sido o único que teria se recusado a mostrar identificação, foi encaminhado à delegacia.

Ricardo Bordin, músico que estava no bar no momento da prisão, conta que viu Onir ser levado no carro da Brigada. “Eles não disseram o motivo da prisão, só descobrimos depois”, afirmou. Ele disse que, apesar de não estar próximo suficiente para ouvir a conversa, avistou Onir sendo imobilizado pelo braço e colocado pelo pescoço dentro do carro.

Após mostrar sua carteira da OAB na delegacia, Onir relata que um policial pediu para ele assinar um termo, ao que ele se recusou. Nesse momento, outros advogados chegaram ao local, e ele foi liberado por volta das 3h30 desta quinta-feira (21). De acordo com a BM, ele teria ficado cerca de uma hora na delegacia. “Pela manhã, eu fui no Palácio da Polícia, fiz a ocorrência policial, fiz exame de corpo de delito. Estou com uma escoriação grande na parte das costelas, nas costas”, contou.

Onir encara o acontecido como uma “clara tentativa de intimidação”. “A truculência foi uma coisa absurda, as pessoas não podem nem ficar em praça pública, nem confraternizar”, lamenta. No Facebook, postagens na página da Frente Quilombola do Rio Grande do Sul chamam atenção para o significado simbólico da prisão ter acontecido exatamente no dia da Consciência Negra. Onir também acredita que não seja coincidência isso ter ocorrido em uma situação em que a maioria dos presentes eram negros. “Isso me lembra o que o meu pai falava lá no Rio de Janeiro, que era complicado o pessoal sair à noite com violão para tocar em praça pública porque negro, portando um violão, na praça, na rua, é suspeito”.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ney D’dãn.

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