‘Eles não foram só vitimas’, diz historiador sobre índios Náuas

Comunidade Náua - Foto: acervo SEE/AC
Comunidade Náua – Foto: acervo SEE/AC

Atualmente existem cerca de 380 índios Náuas na região do Juruá. Cacique afirma que convivência com os ‘brancos’ foi um prejuízo ao povo.

Por Francisco Rocha e Veriana Ribeiro, do G1 AC, via CR Juruá

Há 109 anos, Cruzeiro do Sul (AC) era uma cidade povoada pelos índios Náuas. A ocupação na região do Vale do Juruá, em que a cidade fica localizada, foi mais lenta devido a resistência desses grupos indígenas. O que, de acordo com o historiador Marcus Vinícius, contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento da região.

“A ocupação dos afluentes do rio Juruá foi mais lenta, o que explica um desenvolvimento mais lento naquela região. Ou seja, os grupos indígenas no Acre tiveram uma influência fundamental na formação da sociedade acreana. Diferente do que a gente normalmente acredita, eles não foram só vitimas, eles determinaram parte desse processo histórico”, explica o historiador.

De acordo com Vinicius, não é possível afirmar que os Náuas eram os primeiros povos a habitar a região do Vale do Juruá. “Antes da ocupação dos índios Panos, que se deu há aproximadamente 2 mil anos, os povos do tronco linguístico dos aruak já haviam passado por aquela região. Mas quando os exploradores chegaram ao local, eram os Náuas que viviam no Vale do Juruá”, explica.

O Acre possui 14 povos indígenas que falam línguas diferentes a partir de três troncos lingüísticos: pano, aruak e arawá. Os Náuas (também escrito como Nawas) são os povos indígenas do tronco linguístico Pano, no qual fazem os grupos com a terminação Nawa, tal como Kaxinawá, Yawanawá, Jaminawá. Outro tronco linguístico com registro de ocupação na região do Vale do Juruá, de acordo com o historiador, são os Aruak, que têm como principais grupos conhecidos os Apurinã, Machineri e Kulina.

O historiador conta que os aruaks  foram expulsos pelos Náuas antes da chegada dos não-indígenas, popularmente conhecido como ‘brancos’. Vinicius explica que há indícios dos aruaks terem contatos com exploradores e peruanos, o que colaborou na relação com os brasileiros ao chegarem no Acre.

Náuas atualmente
De acordo com o representante da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Vale do Juruá, Luiz Valdenir da Silva Souza, hoje a situação dos povos Náuas é mais segura, apesar de ainda não terem seu território demarcado. O grupo que tem cerca de 380 índios, morava em uma comunidade ribeirinha às margens do Rio Môa no município de Mâncio Lima (AC).

Na opinião do representante da Funai, o aniversário da cidade de Cruzeiro do Sul, no final de setembro, foi um momento de reflexão para os povos indígenas.

“Foi um choque muito grande para os povos indígenas ter enfrentado a civilização com violência e ter que se adaptar à realidade dos seringueiros para sobreviver. Muitos desses povos foram extintos, outros expulsos de suas próprias terras, e aos poucos foram formando grupos para continuar sua vida na floresta. Os que não aceitaram viver com os brancos se isolaram na selva”, comenta.

Na opinião do cacique Joel Poyanawa a convivência com os ‘brancos’ foi um prejuízo grande para os povos indígenas. “Se a mudança foi boa para os brancos para nós não foi tão bom assim, muitos povos foram perdendo sua identidade, seus costumes, sua cultura, forma de alimentação, e muitas doenças foram aparecendo, o que eliminou muitos índios”, afirma o cacique.

Segundo Joel Poyanawa, hoje o grande desafio dos povos indígenas que foram afetados de forma agressiva pela civilização é tentar recuperar a identidade e a cultura que foi se perdendo ao longo dos anos.

Mulheres Náua, Nukini e Puyanawa juntas durante o I Encontro Cultural Nukini/Náua Foto: Miriane Teles
Mulheres Náua, Nukini e Puyanawa juntas durante o I Encontro Cultural Nukini/Náua
Foto: Miriane Teles

Comments (2)

  1. Obrigada, Lindomar, pelo comentário e pelas dicas.
    E tomei a liberdade de postar o texto do teu blog.
    Tania.

  2. O governo do Acre, mais uma vez se volta para a região do Juruá especialmente no vale do Rio Môa onde moram os povos indígenas Naua, Nukini e os isolados do Igarapé Tapada. A razão é muito simples: è nesta região que o governo está implementando os projetos de exploração de petróleo e gás e a construção da estrada de ferro que ligará Cruzeiro do Sul e a cidade de Pucalpa, no Peru. Dais projetos atualmente prejudiciais aos povos indígenas, inclusive e principalmente os isolados da região. Foi para viabilizar esses empreendimento que o governo organizou recentemente um encontro entre esses dois povos e mobilizou um batalhão da imprensa vendida, com direito a “historiador” para dar ares de veracidade aos fatos. Na verdade, o governo do Acre é o principal opositor na demarcação da terra dos Naua desde 1999 quando o Cimi tornou pública a existência daquele povo. O mundo precisa saber do golpe que o governo está aplicando contra os povos indígenas no Estado do Acre.

    E olha que ainda não estou falando nos milhões gastos “às escondidas” com pesquisa e lavra do que chamamos de “terra Rara”.

    http://lindomarpadilha.blogspot.com.br/2013/11/exploracao-de-petroleo-coloca-em-risco.html

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