Aty Guasu socializa Carta dos 5 mil Guarani e Kaiowá de Yvy Katu para Governo, Justiça e sociedades nacionais e internacionais

Delegado Alcídio de Souza Araújo em Yvy Katu ontem, 6 de novembro
Delegado Alcídio de Souza Araújo em Yvy Katu ontem, 6 de novembro

Carta/documento da comunidade Guarani do tekoha Yvy Katu-Japorã, MS

Nós, mais de 5.000 (cinco mil) comunidades Guarani-Kaiowá em manifestação pacífica, somos reocupantes do tekoha Yvy Katu, mais uma vez, vimos por meio deste documento comunicar a todas as autoridades do governo, justiça federal e sociedades que a nossa decisão definitiva é a reocupação total do tekoha Yvy Katu que é nossa terra tradicional, já foi reconhecida e demarcada em 2005.

Hoje, 07/11/2013, desesperados, ameaçados como povo guarani injustiçado, todos nós recomeçamos o nosso protesto por tempo indeterminado aqui no tekoha Yvy Katu e na aldeia Porto Lindo-Japorã-MS.

Estamos em manifestação pacífica nas pontes e nas áreas; a nossa reivindicação é a revogação da ordem de despejo judicial imediata expedida pela justiça de 1ª vara federal de Navirai-MS e homologação imediata da terra indígena Yvy Katu. 
A partir de ontem, 06/11/2013, diante da ameaça de morte coletiva anunciada pelo delegado federal Alcíde de Souza Araújo, nós 5.000 mil indígenas, decidimos nos manifestar pacificamente aqui no tekoha Yvy Katu, repudiando a decisão de despejo judicial imediata da justiça federal de Navirai-MS. 

A princípio, ao longo da história de 513 anos, nós povos Guarani e Kaiowá fomos expulsos de nossos territórios tradicionais, nossas terras foram invadidas pelos fazendeiros. Hoje estamos sendo ameaçados, humilhados e massacrados. Não vamos mais assistir parados e ser massacrados e humilhados pelos fazendeiros e pela justiça local; nós somos povos nativos dessa terra, já vivíamos aqui milhares de anos, antes da chegada dos europeus. Desde 1500, milhares guarani foram mortos de forma cruel pelos pistoleiros. Ao longo da história de 513 anos, fomos humilhados e massacrados e expulsos de nossas terras antigas. 

Nossa tekoha Yvy Katu foi invadida pelos fazendeiros em 1960, por isso desde 1970, lutamos para recuperar o nosso tekoha Yvy Katu, depois de aguardar 30 anos em dezembro de 2003, pela primeira vez reocupamos o nosso tekoha Yvy Katu. Depois paramos para aguardar a decisão do governo e a justiça federal; já passaram 10 anos, não foi devolvido para nós o pedaço de nossa terra antiga já demarcada. Em 10 anos, estamos cansados de esperar, as nossas paciências acabaram. Sabemos esperar sim, por isso os nossos (as) avôs e avós já morreram e as pessoas idosas estão morrendo sem retornar a reocupar o nosso tekoha Yvy Katu. Diante disso, decididos como povos Guarani e Kaiowá resistentes, mais uma vez recomeçamos a reocupar o tekoha Yvy Katu. 

Comunicamos a todas que não vamos mais esperar não! Já esperamos muitos anos enquanto isso idosos (as) e crianças sofrem e estão morrendo.

Comunicamos todas que nós não invadimos. Sim! Reocupamos, sim! Retornamos ao nosso território tradicional; desse território nossos avôs, avós foram assassinados e expulsos pelos fazendeiros, e os fazendeiros invadiram as nossas terras sim. Os invasores de nossas terras Guarani e Kaiowá são os fazendeiros/políticos sim.

No dia 15 de outubro, os fazendeiros contrataram a empresa de segurança particular  Gaspem, isto é, os pistoleiros registrados/autorizados pela justiça do Brasil para atacar e assassinar as comunidades indígenas Guarani, Kaiowá, Terena, Kadweu, etc.

Essa empresa Gaspem faz parte do ataque terrorista dos fazendeiros, são criminosos organizados, realizam ações genocidas há mais de 10 anos, atua na dizimação/extinção dos povos indígenas do MS, sobretudo é permitida pela justiça do Brasil.

Os pistoleiros da empresa Gaspem já atacaram, torturaram e já assassinaram o líder Dorvalino Rocha no dia 26 de dezembro de 2005; Gaspem assassinou o cacique Guarani-kaiowá Nísio Gomes no dia 18 de novembro de 2011; escondeu o cadáver do cacique Nísio. Por isso nós, Guarani e Kaiowá, consideramos essa empresa Gaspem como terrorista e temida, criada formalmente somente para fazer ataque terrorista. Essa empresa é contratada pelos fazendeiros, desde dia 15 de outubro de 2013, os pistoleiros da Gaspem estão aqui bem pertinho em nossa frente, eles carregam armamentos pesados, apontando em nossa direção das nossas vidas.

Nós já decidimos que não vamos recuar das mira das armas dos agentes da Gaspem, sabendo que em qualquer momento, os agentes da polícia federal e os pistoleiros podem lançar as balas em nossas vidas. Não estamos com medo; vamos lutar e morrer pela nossa terra, pois já retornamos em nossa terra antiga, reocupamos a nossa terra, daqui do tekoha Yvy Katu não vamos mais sair e nem recuar; em vez de recuarmos, vamos avançar sim.

Além da polícia federal e os pistoleiros estão aqui bem pertinho com as várias armas apontadas em nossas direções dia e noite (24 horas), mas mesmo assim não vamos recuar não! Já reocupamos e vamos reocupar tudo a nossa terra, essa é a nossa decisão como povo indígena Guarani injustiçado e ameaçado de extinção tanto pelos pistoleiros como pela justiça do Brasil.

É a decisão definitiva de povos Guarani e Kaiowá resistentes que estamos comunicando e já enviamos a todas as autoridades nacionais e internacionais que vamos resistir e morrer todos aqui em nossos tekoha Yvy Katu.

Retornamos ao nosso tekoha Yvy Katu; já estamos aqui em pedaço de nossa terra tradicional Yvy Katu; aguardaremos a decisão da justiça de verdade do governo e justiça do Brasil dentro de nossa terra; não vamos mais esperar fora de nossa terra Yvy Katu.

Atenciosamente,

Tekoha Yvy Katu, 07 de novembro de 2013

Nós povos Guarani e Kaiowá do tekoha Yvy Katu contra o genocídio do estado brasileiro

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Trecho do discurso do delegado federal Alcide de Souza Araujo em Yty Katu (parte1):

Trecho do discurso do delegado federal Alcide de Souza Araujo em Yty Katu (parte2):

Trecho do discurso do delegado federal Alcide de Souza Araujo em Yty Katu (parte3):

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