Professores Cariocas, a luta pela política

Policiais usaram spray de pimenta contra manifestantes. Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia / Estadão Conteúdo
Policiais usaram spray de pimenta contra manifestantes. Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia / Estadão 

Igor Vitorino da Silva*

Por que tanta truculência policial contra os professores que ocuparam o prédio da Câmara Municipal de Rio Janeiro? O que os sprays de pimenta, as bombas de efeito moral, choques elétricos, balas de borrachas buscavam desmontar? Podemos sugerir que seja pela ousadia da categoria de denunciar ausência da política na Casa que deveria representar o povo, pela audácia em dar visibilidade ao dissenso num lugar transformado em mesa de negócios que passam ao largo dos interesses populares.

Ao ocuparem a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, os professores deram materialidade ao discurso Essa Câmara não nos representa, exigindo serem ouvidos nas decisões que interferirão nas suas vidas. Denunciavam a crise de representação que vive nossa Democracia e o descompromisso dos Governos com os interesses populares, tais como promoção de uma educação gratuita e de qualidade.

Esses professores, ao fazerem ecoar pela opinião pública uma fala “não autorizada” ou a tentarem restituir a política (debate e discussão) na vida pública, transformam-se em seres perigosos para um Governo que se alimenta pelo ‘decisionismo’, tornam-se bandidos políticos, já que ousam colocar o contraditório numa mesa em que não foram convidados.

O que temem os governos e os políticos? Eles temem a política. Por quê? Porque ela exige a presença do contraditório, do divergente! E isso impõe que eles exponham as razões das suas decisões, quase sempre bem distantes das intenções anunciadas. Os professores cariocas, ao exigirem política e se organizarem, irritam um governo que há anos abandonou a política e faz da truculência e da repressão militar a resposta para aqueles que ousam se opor a decisões e projetos, os quais, às vezes, não contribuem para melhorar a vida dos cidadãos, mas sim de uma pequena e privilegiada parcela da população.

* Historiador e professor de História do Campus Nova Andradina/IFMS.

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