40 anos do golpe no Chile: Avós da Praça de Maio encontram mais um neto, filho de refugiados desaparecidos

Avós apresentam Pablo, neto recuperado N.109 e filho de refugiados chilenos desaparecidos na Argentina. Foto ACNUR
Avós apresentam Pablo, neto recuperado N.109 e filho de refugiados chilenos desaparecidos na Argentina. Foto ACNUR

ONU Brasil – No dia 11 de setembro de 1973 um golpe militar derrubou no Chile o governo eleito democraticamente do presidente Salvador Allende. O golpe de estado foi seguido  pela repressão das atividades políticas legítimas, e pela prisão de dezenas de centenas de pessoas.

A repressão que se seguiu à instalação da ditadura militar forçou milhares de chilenos ao exílio durante os seguintes anos. Muitos deles emigraram como refugiados a países de América Latina e Europa. Entre os que fugiram para Argentina, que também teve seu governo democrático derrubado por um golpe militar, vários continuaram expostos a graves abusos contra seus direitos humanos.

As diversas investigações judiciais em torno do “Plano Côndor” têm demostrado como a coordenação de ações repressivas entre as ditaduras de Argentina (1976) e Chile conduziram ao assassinato e ao desaparecimento forçado de refugiados que haviam conseguido fugir da repressão.

Entre estes casos se encontra Pablo Athanasiu Laschan, que foi apresentado no último dia 6 de agosto como o neto recuperado n°109 por Estela de Carlotto, presidenta da Associação Civil Avós da Praça de Maio. Em abril, após uma árdua tarefa de investigação, Pablo foi contatado pelos integrantes da associação e concordou em realizar o exame imunogênico que conseguiu determinar sua familiaridade com o sobrenome Athanasiu Laschan.

Pablo nasceu em 29 de outubro de 1975. É filho do casal chileno Frida Laschan Mellado e Angél Athanasiu Jara. Quando tinha só poucos meses de idade, Pablo e seus pais foram sequestrados em uma operação que forças de segurança realizaram no hotel em que moravam na cidade de Buenos Aires, onde haviam chegado fugindo da perseguição em seu país de origem. Pablo foi entregue pelas forças da ditadura e registrado como filho próprio de um casal ligado ao regime militar. Seu sequestrador se encontra preso no marco de uma causa por crimes contra a humanidade. Seus pais, Frida e Angél, continuam como desaparecidos até hoje.

Estima-se que mais de 500 netos foram sequestrados pela ditadura militar argentina, que criou um plano sistemático de roubos de crianças que incluiu o sequestro de bebês, crianças e mulheres grávidas, assim como a instalação de maternidades clandestinas em centros de detenção. As crianças roubadas como “botim de guerra” pela repressão foram registrados como filhos próprios pelos membros das forças de repressão, deixados em qualquer lugar, vendidos ou abandonados em institutos como seres sem nome. Dessa maneira, fizeram-nos desparecer ao anular sua identidade, privando-os de viver com sua legitima família.

A Associação de Avós da Praça de Maio é uma organização não governamental que tem como finalidade localizar e restituir a suas legítimas famílias todas as crianças sequestradas desaparecidas pela repressão política em Argentina, e criar as condições para que nunca mais se repita tão terrível violação de direitos das crianças, exigindo ainda que seus responsáveis sejam sometidos à justiça.

Desde sua criação, as avós conseguiram recuperar 109 crianças desaparecidas. Segundo Abel Madariaga, secretario de Avós de Plaza de Maio, o trabalho e compromisso das Avós respondem a “uma busca coletiva e não individual”.

O caso de Pablo e seus pais trás à tona riscos sérios de proteção e abusos contra os direitos humanos que muitos refugiados passaram nesta região pouco depois de abandonar seu país de origem, em busca de proteção, durante os anos das ditaduras latino-americanas. O caso renova a importância de lutar sempre pelo respeito dos direitos humanos dos refugiados e o estrito cumprimento das normas internacionais para sua proteção.

Não existem números exatos do número de pessoas que fugiram ao exílio nos anos em que as ditaduras militares se apoderaram dos governos dos países do Cone Sul, mas estima-se em várias dezenas de milhares o número total de quem fugiu das ditaduras.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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