O maior símbolo da UPP à frente da Rocinha

A policial militar assumiu a UPP da Rocinha
A policial militar assumiu a UPP da Rocinha

Itamar Silva – Ibase

No último dia 6, a Polícia Militar do Rio de Janeiro anunciou alteração no comando de 25 Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). O argumento público explicitado pelo coronel Frederico Caldas, comandante geral das UPPs, foi a necessidade de “oxigenação” do programa UPP. Apesar da aparente normalidade, o fato revela, no mínimo, um momento de tensão no âmbito da Secretaria de Segurança Pública do Estado.

Iniciada em novembro de 2008, na favela de  Santa Marta, a experiência contou com o comando da então Capitã Priscilla Azevedo. Personagem desconhecida do cenário da segurança pública do Rio  que rapidamente se tornaria símbolo da nova polícia pretendida pelo governo do Estado. Mulher, negra, elegante, boa oratória, mansidão na voz e delicadeza no trato com moradores, ela contrastaria com a respeitabilidade exercida sobre seus comandados e a firmeza no enfrentamento dos remanescentes do tráfico que permaneciam no território. Respeitada por homens e mulheres, invertia a lógica que construiu a imagem do PM junto aos moradores de favela.

O tempo que comandou o Santa Marta lhe rendeu o estrelato – capa da revista Veja, perfil publicado em vários meios de comunicação, entrevista na televisão como celebridade, prêmio internacional da ONU, reconhecimento do governo dos Estados Unidos e por ai vai. Tanta fama lhe rendeu também a promoção a major e à  Coordenadoria  Geral de Programas Estratégicos das UPPs.

O tempo passa e diminuem as matérias elogiosas, e, por vezes ufanistas, que nos habituamos a  ler e ver na mídia brasileira e internacional sobre as UPPs. Aos poucos foram aparecendo alguns arranhões: maus tratos ao morador, enfrentamentos e mortes culminaram com o desaparecimento de Amarildo há mais de dois meses. Os policiais da UPP da Rocinha estão no centro das investigações como responsáveis (há que se provar) pelo desaparecimento do morador da Rocinha.  A demora em se obter uma resposta está causando “dor de cabeça” no comando da PM. Os principais jornais do mundo como New York Times e o Le Figaro publicaram o desaparecimento do pedreiro Amarildo e a suspeição sobre os policiais da UPP local. Diante de tal fato e da ameaça que isso pode acarretar na próxima campanha eleitoral,  mudar os comandos, de forma a retomar o controle sobre as bases locais, parece ser a solução. No entanto, o ponto deflagrador da crise está na  Rocinha: o que fazer? Para este lugar e nesta circunstância, a PM jogou o seu maior e principal símbolo construído nos últimos quatro anos e meio na tentativa de apresentar à cidade uma nova policia: a agora Major Priscilla.

Com a mesma imagem de mulher, negra, sensível e comprometida com retidão da polícia, a Major Priscila volta a ocupar espaço nos principais veículos de comunicação do país.

A tarefa é desafiadora: Santa Marta é uma favela com seis mil moradores e uma geografia favorável a qualquer controle físico estratégico. Rocinha tem 100 mil moradores, e geografia diferenciada, mais complexa. E para além disso impactada pelo sumiço do pedreiro Amarildo e a queda de braço com o governo do Estado que quer lhe impor um teleférico, como aquele  do Complexo do Alemão. Os moradores querem saneamento básico e um modal que ajude facilite a mobilidade do maior número possível de moradores e estimule o comercio interno. Nesta perspectiva o Plano Inclinado seria a melhor resposta e a mais barata.

Bem, vamos dar tempo ao tempo e acompanhar o desempenho dos vários atores: os que estão em cena e os que estão na coxia.

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