Vítima de racismo nas Olimpiadas de Londres, Rafaela Silva é a primeira medalha de ouro feminina na História do judô brasileiro

Da Cidade de Deus ao topo do mundo, Rafaela supera racismo e trauma
Da Cidade de Deus ao topo do mundo, Rafaela supera racismo e trauma

Geledés* – Rafaela Silva conquistou nesta quarta-feira o ouro do peso leve do Mundial de Judô e atingiu o melhor momento em sua breve carreira. O título é também uma recompensa por sua árdua trajetória até chegar ao topo do mundo. Nascida na Cidade de Deus, a judoca teve no esporte um meio para se desenvolver e é campeã mundial um ano depois de sofrer uma pesada derrota na Olimpíada de Londres.

A carioca encontrou o judô por meio do Instituto Reação, mentalizado pelo medalhista olímpico Flávio Canto, e escapou das tentações das ruas humildes – ela chegou a ver um primo seguir para o tráfico de drogas. Atualmente, Rafaela mora em Jacarepaguá e estuda psicologia.

“A mãe dela a colocou no judô por que dava muito trabalho em casa. Ficava o dia inteiro na rua soltando pipa e aprontando. Ia até ser expulsa da escola. Mas o judô tirou ela dessa vida ruim. E hoje ela é uma campeã na vida e no esporte. E ainda cursa o primeiro período de psicologia. É una vencedora”, afirmou Geraldo Bernardes, primeiro técnico da atleta.

Rafaela, 21 anos, já havia sentido o gosto de disputar uma final e Mundial de Judô. Em 2011, em Paris, a carioca foi superada pela francesa Automne Pavia e ficou com a prata da competição. Mais tarde, em Guadalajara, ela também ficou na segunda posição do pódio do Jogos Pan-Americanos de Guadalajara ao ser derrotada pela cubana Yurisleidys Lupetey.

Em 2012, a brasileira chegou à Olimpíada de Londres como um das favoritas a medalha, mas não passou além das oitavas de final. Rafaela enfrentava a húngara Hedvig Karakas tentou golpe que inicialmente lhe rendeu um wazari, mas, depois de averiguação dos juízes, resultou em eliminação por conta de golpe ilegal.

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Além da dor por conta da derrota precoce, a carioca enfrentou um baque inesperado.Rafaela foi alvo de ofensas racistas disparadas por torcedores brasileiros por meio do Twitter, além de outros comentários que contestavam sua capacidade como atleta. A vitória neste Mundial serve também como resposta.

“Essa medalha é uma resposta para o pessoal que me criticou e que falou que lugar de macaca não era no judô, que eu tinha que caçar outra coisa para fazer. E hoje estou aqui mostrando que não depende da cor, nem do dinheiro, de nada. Depende é da garra e da vontade que você tem para ir buscar essa medalha”, desabafou Rafaela.

“Quem acompanha sabe que essa medalha estava engasgada. Eu estou sem voz. Mas ela merece muito. Ela é uma vencedora. Todas aquelas pessoas que falaram tantas besteiras, agora está vendo, que é a Rafaela. Essa guerreira de tatame e da vida. É a nossa campeã mundial”, gritou Rosicleia Campos, treinadora da Seleção.

*Fonte: Terra

Comments (1)

  1. A medalha,
    Tirar do peito as medalhas,
    E ofertar a Palmares,
    Para servir de mortalha
    Aos que o podium é negado.

    O choro,
    Choram filhos – dão-me mil beijos,
    Lambuzam o meu rosto com a lágrima da glória,
    Choram filhas… tua mãe? – sô teus desejos;
    Choram filhos!… choram filhas:
    SÓ CHORA QUEM TEM HISTÓRIA
    ………………………………
    Exclama o poeta, em AS MEDALHAS, por uma mãe negra

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