No Dia dos Pais, Anistia Internacional organiza protesto na Rocinha, em solidariedade à família de Amarildo

família de Amarildo
A família de Amarildo participa do ato de solidariedade organizado pela Anistia Internacional na Rocinha. Foto: Paula Giolito (Agência O Globo)

Por Simone Candida para O Globo

RIO – A Anistia Internacional realizou neste domingo, sob a passarela da Rocinha, um ato em solidariedade aos filhos do ajudante de pedreiro Amarildo de Sousa, desaparecido há 28 dias. Eles colocaram faixas no local com a pergunta: “Onde está Amarildo?” e muitas pessoas usaram camisetas com a mesma frase estampada. Após a manifestação, a família de Amarildo seguiu para a casa na favela, acompanhada do deputado estadual Marcelo Freixo, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj.

Diretor executivo da Anistia Internacional, Átila Roque disse que a manifestação tem o objetivo de cobrar do Estado um posicionamento sobre o caso, e também apoiar os filhos do Amarildo, que não poderão passar o Dia dos Pais com ele.

– Não podemos viver nesse estado de exceção, no qual as favelas não são tratadas da mesma maneira do resto da cidade. Estivemos reunidos com o governo federal e pedimos que o caso seja acompanhado de perto- afirma Roque, acrescentando que a Anistia Internacional vai convocar outros atos de apoio à familia de Amarildo, inclusive nas portas das embaixadas do Brasil ao redor do mundo.

As atrizes Paula Lavigne, Fernanda Paes Leme e Thaila Ayala também participaram da manifestação, assim como parentes de outras vítimas de violência, como a família da juíza Patrícia Acioly. Um primo de Amarildo, William Roberts, de 43 anos, disse estar indignado coma versão divulgada pela Policia Civil, de que o pedreiro teria envolvimento com o tráfico de drogas:

– É tudo calúnia. Moramos em uma região onde não podemos falar para ninguém saír da porta das nossas casas. Dentro da casa do Amarildo ninguém cometia nenhum crime – revolta-se Roberts, que também lamenta a ausência de Amarildo ao lado dos filhos na data de hoje.

A mulher de Amarildo, Elizabeth Gomes, também participou do ato, e comentou o sofrimento da sua família:

– A pessoa que derramou o sangue do meu marido, derramou também o sangue dos nossos filhos. Eles estão passando o primeiro dia dos pais longe dele e estão sofrendo muito, principalmente a Milena, a mais novinha.

Elizabeth afirma, ainda, que a família não descansará enquanto não obtiver informações sobre o paradeiro do pedreiro. Ela diz que o ato de hoje ajuda seus seis filhos a enfrentarem a data especial sem o pai.

– Eu queria, pelo menos, os ossos pra enterrar o meu marido – declara Elisabete, que está recebendo doações para sustentar os filhos.

Anderson Gomes, de 21 anos, também disse estar revoltado com a versão apresentada pela polícia:

– Falaram que nossa era rota de fuga.Lá em casa, muito mal cabe minha irmã de 6 anos. Se pular, cai de cabeça na vala. E nem quintal nós tem.

Já o deputado Marcelo Freixo convidou a família de Amarildo para participar de uma audiência pública na Alerj na próxima terça-feira.

– Esta tentativa de desviar do foco é uma violência ainda maior que se faz contra a família. São muitos os Amarildos pelo Rio de Janeiro: 5.550 desaparecidos por ano. Por isso, nesta próxima terça-feira, na Alerj, vamos fazer uma audiência pública com a presença de representantes da secretaria de segurança pública, da polícia civil, de familiares de desaparecidos, para discutir este problema – afirmou.

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