Documento revela monitoramento da Vale a lideranças

Manaira Medeiros, Século Diário

Mais um dossiê relevado pelo ex-gerente de Inteligência Corporativa da Vale, André Almeida, aponta monitoramento a lideranças de 23 “áreas de influência” da empresa no Espírito Santo. Estão incluídos na lista seis sindicalistas e lideranças comunitárias de 11 bairros de Vitória e Serra, e ainda uma de Anchieta, sul do Estado, onde a empresa pretendia construir a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU). Também há relatos sobre ações do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e dos movimentos comunitários de Fundão, Colatina e Baixo Guandu.

O documento é intitulado “Avaliação das Áreas de Influência da Vale no Espírito Santo” – locais e/ou regiões sensíveis às ações dos Movimentos Políticos, Sociais e Indígenas (MPSI).

Além do Espírito Santo, o documento indica monitoramento a 25 áreas no Maranhão; 35 no Pará; 10 no Rio de Janeiro; 12 em Minas Gerais, um em Goiás e seis na Bahia. Somando todos os estados, são ao todo 112 áreas investigadas pela Vale no país.

Todos os relatórios apontam tópicos sobre Tipo do Negócio, Ponto, Descrição do Problema, Principais Lideranças, Município e Outras Informações. A empresa classificava cada área de acordo com seu grau de “Criticidade”, separada pelas cores verde, amarela, laranja e vermelha.

Em Anchieta, sul do Estado, o nome é do ambientalista Bruno Fernandes da Silva, que presidia o Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama), responsável por apontar inúmeras irregularidades na condução do processo de licenciamento ambiental da CSU em Anchieta, denunciado ao Ministério Público do Estado (MPES). Bruno Fernandes não atua mais no Estado.

Em relação aos sindicalistas, o mapeamento indica os nomes de João Batista, do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico do Estado do Espírito Santo (Sindifer); Carlos Alberto Mazzoni, do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários (Sindirodoviários); Alvarenga, do Sindicado dos Seguranças do Estado (Sindseg); Paulo César, do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Sintraconst); Roberto Pereira, do Sindicato dos Metalúrgicos do Estado (Sindimetal) e Kepler Daniel – ArcelorMittal – e Adir Barbosa – Vale, ambos do Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado (Sintec-ES).

Outra informação apontada pela área de Segurança no relatório se refere ao conflito entre índios e a Aracruz Celulose, que culminou com o processo de autodemarcação do território de 11.009 hectares. A Vale demonstrava preocupação: “no levantamento que fizemos com base no mapa da Funai [Fundação Nacional do Índio], as áreas Guarani e Tupiniquim (Terra Indígenas Comboios e Tupinquim – Caieiras Velhas, Pau Brasil e Irajá” incorporariam trecho da EFVM [Estrada de Ferro Minas Vitória], que atende Portocel”.

De acordo o denunciante, os Movimentos Políticos, Sociais e Indígenas (MPSI) tinham como subprodutos o monitoramento de lideranças, a antecipação de ações, a descoberta de planejamento e até incitação contra outras empresas para retirar o foco da Vale. O que era possível com a manutenção de infiltrados nas entidades, contratados por meio de empresas especializadas, principalmente a Network Inteligência Corporativa.

A Diretoria de Segurança Empresarial atuava também com a realização de “case”, que detalhava investigações realizadas pelo setor, envolvendo empregadores próprios e terceirizados, além de fornecedores. Os trabalhos incluíam filmagens, fotografias e gravações. Outro instrumento utilizado pela empresa era os “mosaicos”, relatórios finais de investigação apresentados à diretoria e à presidência da empresa.

A denúncia do ex-gerente de Inteligência Corporativa, que ganhou a imprensa nacional em abril deste ano, aponta ainda para grampos telefônicos, quebras de sigilo bancário, invasão de privacidade, ameaças, subornos, chantagem e coações.

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Enviada por Conselho Pastoral dos Pescadores Regional NE.

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