“Pequeno guia prático para manifestações”

MPLPor Rodrigo, no Blog doSalgado

De fato, a primeira pessoa a se “agradecer” na noite de (ante)ontem é Geraldo Alckmin. Sem seu ímpeto fascista, muita gente teria ficado em casa. Obviamente isso é uma figura retórica e não é ele que tem que ser cumprimentado. Merecem nossos cumprimentos todos os que caminharam por uma cidade mais justa, mais igual.

Por isso, é importante apontar aqui que apesar de toda a diversidade do maior ato que vi na vida, existem os que têm lado: o lado do povo.

Essas pessoas sabem que revistas semanais e colunistas quinta-coluna não fazem parte dos anseios da população. Quem está do lado do povo sabe que redes de televisão beneficiadas na ditadura não enganam mais. Elas estão sempre ao lado do dinheiro, e eles, do povo.

Esse pessoal está acordado há anos. Na verdade, há décadas eles não dormem. Estão nas ruas, nas favelas. Estão combatendo a opressão de raça, de gênero. Eles têm lado na luta de classes. Eles estavam defendendo o Pinheirinho. Estavam contra a reforma da previdência ou lutando pela reforma agrária. E o melhor: fazem tudo isso dentro ou fora de partidos. Em movimentos, ONGs, sindicatos e coletivos.

Por isso, se você está chegando agora ao mundo da disputa democrática, aqui vai uma pequena lista de informações.

• Primeiro, vá ao site do MPL (http://tarifazero.org/mpl/) e entenda o que é a luta do passe livre. Entenda que o que discutem é o direito à cidade. Discutem o destino dos impostos. Coisas simples, do tipo: Se tem dinheiro para pagar juros da dívida, por que não tem dinheiro pro transporte? Quem são e quanto ganham os empresários do setor?

• Quer entender por que nossa mídia é controlada pelo capital e como ajudar a reverter isso? Visite www.intervozes.org.br

• Quer entender como evitar que partidos como o PT se tornem imobilizados pela disputa eleitoral e vivam de alianças que não levam a lugar nenhum? Estude o financiamento público de campanha. Ainda, entenda que é a sua participação que muda os partidos, não a proibição deles.

• Procure entender que se fecharmos o Congresso e acabarmos com os partidos, acabaremos com a democracia. Só ditaduras vivem sem o Poder Legislativo.

• Se você se impressionou (e com razão) com a violência policial em São Paulo (na quinta) e no Rio de Janeiro (anteontem), vá a qualquer entidade de defesa de direitos humanos. Você vai ver que com a população pobre, as armas não têm bala de borracha.

• Vá se inteirar sobre a corrupção. Nossos políticos não são importados do Paraguai ou da Suécia. São todos brasileiros. Ao mesmo tempo, dedique um pouco mais de tempo para entender como funcionam as eleições do legislativo. Ano que vem votaremos para deputado estadual, federal e senadores. É um bom momento para entender que eleição não é a festa da democracia e sim parte de uma disputa de projeto.

• Acha que o PSOL, PSTU e outros partidos são radicais? É a vida. A democracia não é o consenso e sim a organização do dissenso. Querer eliminar alguma ideologia que você discorda é ato típico de ditaduras. Você não quer democracia?

• Se você acha que todas essas manifestações mundo afora são contra os políticos, vá entender que elas são na verdade contra a política que esses políticos praticam. E não é só a corrupção. Veja que todos os países onde as manifestações se aprofundam, houve corte de gastos, diminuição da participação do Estado e desregulamentação da economia. O MPL, assim como outros movimentos, quer mais controle da sociedade sobre as empresas e o Estado, não a liberdade das empresas.

• Se você acha que Lula e o PT são o câncer do país, vá ler Raymundo Faoro. O livro “Os Donos do Poder” vai te explicar que quem manda aqui, manda desde as capitanias hereditárias. Se quiser, comece com “As Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano.

• Se você acha que o problema é a “roubalheira”, entenda que ela acontece onde não há fiscalização do povo. A coisa fica pior quando temos uma concentração de renda igual a nossa. Além de mais fiscalização, precisamos de um país economicamente mais justo.

• Se você quer passe livre e um país sem impostos, mude de mundo. O dinheiro que financia esse tipo de coisa vem dos impostos.

• Aliás, se você acha que temos um sistema tributário ruim, você está certo. Mas possivelmente pelo motivo errado. Nosso sistema tributário é injusto porque privilegia o rico em detrimento do pobre. Leia sobre o assunto.

• Se você acha que apartidarismo é não-partidarismo, foi mal. Não é. O MPL e esta manifestação são DE ESQUERDA. Quer mais poder para o povo e não para as elites. A briga é com quem tem grana e não contra o Estado. Nós queremos o controle social do Estado, não seu fim.

• E finalmente, se você acha que o mundo se muda na rua, bem vindo! Amanhã tem mais!

Enviada por Rodrigo de Medeiros para Combate Racismo Ambiental.

Comments (1)

  1. Estou muito orgulhosa da juventude brasileira. Apoio o movimento.
    Só não entendi o PRECONCEITO COM A RAÇA GUARANI (PARAGUAY). “NOSSOS POLÍTICOS NÃO SÃO IMPORTADOS DA SUÉCIA OU DO PARAGUAI OU DA SUÉCIA”. Porque a comparação…? Dá uma conotação de que no Paraguai só só existe “coisa que não presta” e fa comparação com o “dito primeiro mundo” (Suecia). Isso não e preconceito? Por favor, revejam essa frase. Pega mal! O resto está ótimo. AVANTE!

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