Comunidades do Vale do Ribeira cobram mudança de posição da Fundação Palmares

mab

MAB – Nesta quinta-feira (23) foi realizada reunião pública no quilombo de João Surá, no município de Andradida (PR), com a presença de aproximadamente 100 pessoas das comunidades do Vale do Ribeira dos estados do Paraná e São Paulo.

Diversas entidades e movimentos organizados na região participaram do evento, como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Ameaçados por Barragens (MOAB), Companhia paranaense de energia (COPEL), Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e Secretaria Especial de Relações com a Comunidade do Paraná, além de um representante da Fundação Cultural Palmares.

O encontro teve como objetivo questionar o posicionamento recente da Fundação Palmares, instituição pública vinculada ao Ministério da Cultura, favorável à construção da Usina Hidrelétrica de Tijuco Alto. Segundo levantamento da própria Fundação, se construída, a hidrelétrica afetará pelo menos 14 municípios e 18 comunidades quilombolas no estado de São Paulo e Paraná.

Natural do quilombo de João Surá e hoje coordenadora do MAB na região, Carla Galvão relembra que a instituição foi criada para representar os interesses das populações quilombolas. “A Fundação Palmares tem como objetivo representar e fortalecer os nossos interesses e esse posicionamento vai contra toda uma luta de anos contra a construção das barragens”, aponta.

Houve diversos questionamentos em relação ao papel da instituição, como também ao relatório do idealizador do projeto de Tijuco Alto. “As informações contidas no relatório da Votorantin são insuficientes e não condiz com a realidade”, afirmou a coordenadora nacional do MAB, Liciane Andrioli.

Depois de questionado, o diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Cultural Palmares, Alexandro Reis, comprometeu-se em rever o parecer e alterar o posicionamento da fundação favorável a licença prévia para a construção de Tijuco Alto.

mab 2

“Apenas com a organização e união do povo de toda a região é que conseguiremos impedir a construção da barragem”, finalizou Liciane.

No término da reunião, Gislaine Neves Galvão Pereira, quilombola natural de João Surá e militante do MAB no grupo de base da comunidade, leu a seguinte carta aos presentes:

“QUAL FUTURO E MELHORIA A BARRAGEM PODERÁ TRAZER PARA COMUNIDADES REMANECENTES DE QUILOMBO?

A barragem promete emprego e melhorias para o lugar, mas quais são as melhorias prometidas?

As pessoas moradoras dos quilombos, poderão ser mandadas embora e ninguém pergunta se elas querem sair de suas terras ancestrais, do lugar onde vivem e onde as avós e bisavós contam suas histórias e ensinam a cultura e as brincadeiras para as crianças no dia a dia do quilombo.

Quilombo é um lugar onde se pode viver tranquilamente, plantar e colher alimentos para sustentar a famílias. Aqui estão nossas plantas de origem africana, o nosso cemitério, as pessoas idosas com toda a sua sabedoria e também os nossos direitos conquistados.

São essas maravilhas que querem tirar da gente para a construção de barragens. Prometem lugar novo e casa nova. Casa é fácil de prometer, mas o lugar onde construímos com muita luta e garra não poderá ser substituído.

Com a barragem o estrago será muito grande, pois quando são abertas as compotas, tudo vai por água abaixo. As casas, os morros e as pessoas vão para as periferias das cidades onde o perigo aumenta, por isso não queremos casa nova em outro lugar. Queremos apenas o direito de permanecer em nossas terras, sem barragens, onde não há perigo e onde a raiz da nossa cultura está.

Nascemos, crescemos e lutamos com força e alegria por nossos espaços territorial e cultural onde construímos nossa história.

Zumbi dos Palmares lutou pela liberdade e o Quilombo de Palmares foi construído como símbolo nacional. Os quilombos do Vale do Ribeira também são patrimônio nacional e precisam ser preservados e defendidos das barragens que não apresentam futuro nem melhorias para essas populações.

Atenção:

FUNDAÇÃO PALMARES SIGNIFICA DEFESA DAS TERRAS QUILOMBOLAS!!!”

Gislaine Neves Galvão Pereira

1º ano- Ensino Médio

Colégio Estadual Quilombola Diogo Ramos

João Surá- Adrianópolis

Movimentos dos Atingidos por Barragens- São Paulo.

Comments (1)

  1. Sidinei Miranda Silva, condenado à 22 anos de prisão por matar Laurindo Gomes, liderança quilombola da Comunidade dos Remanescentes de Quilombo de Praia Grande – município de Iporanga / SP.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.