Primeira ministra negra da Itália é alvo de insultos racistas

Cecile Kyenge chega ao gabinete do primeiro-ministro italiano Foto: Gregorio Borgia / AP
Cecile Kyenge chega ao gabinete do primeiro-ministro. Foto: Gregorio Borgia /AP

EXTRA /Roma – A nomeação de Cecile Kyenge como a primeira ministra negra da Itália – o que seria um símbolo da integração racial no país – levou um duro golpe quando Mario Borghezio, parlamentar integrante da Liga Norte, ridicularizou o que descrevia como o novo “governo bunga bunga”. Em uma entrevista à Radio 24, Borghezio afirmou que Cecile tentaria “impor as tradições tribais” do Congo na Itália. A repulsa gerada pelas declarações fez com que o governo autorizasse, nesta quarta-feira, a abertura de uma investigação de páginas fascistas na internet, cujos membros chamaram Cecile de “macaca congolesa”.

Cecile, de 48 anos, nasceu no Congo, país que deixou há três décadas para estudar medicina na Itália. Oftalmologista, ela vive em Modena, com seu marido italiano e seus dois filhos. Foi uma ativa integrante da centro-esquerda local até que conseguiu uma cadeira na Câmara de Deputados nas eleições de fevereiro.

Na semana passada, a médica foi escolhida pelo primeiro-ministro Enrico Letta como ministra de Integração, para formar o governo híbrido formado por ele e que conseguiu na terça-feira seu segundo voto de confiança no Parlamento. A congolesa respondeu aos insultos pelo Twitter e agradeceu aos que saíram em sua defesa.

“Acredito que até mesmo a crítica pode informar se for feita com respeito”, escreveu.

Josefa Idem, ex-canoísta e ministra italiana, pediu uma investigação contra os sites que chamaram Cecile de “Zulu” e “negra anti-italiana”.

– Estou fazendo isso na minha qualidade de ministra da Igualdade, mas acima de tudo como mulher – disse a alemã de 49 anos, que como Cecile se casou com um italiano e tem dupla cidadania.

Em seu discurso de apresentação no Parlamento, Letta descreveu a nomeação de Cecile como “um novo conceito sobre as barreiras que levam à esperança, sobre os limites intransponíveis que criam uma ponte entre comunidades diferentes”. A prioridade da ministra de Integração é o direito à nacionalidade italiana por nascimento. Atualmente a cidadania italiana se determina por filiação (direito de sangue).

– Provavelmente vou encontrar resistência, termos que trabalhar muito para chegar a isto. Uma criança, filha de imigrantes, que nasceu e cresceu aqui, deve ser cidadã italiana – afirmou Cecile.

Comments (4)

  1. Acho que posso me permitir ajudar a estabelecer a comunicação entre o pertinente comentário de Francesco Favara e outras pessoas que acompanham este Blog, traduzindo-o sem traí-lo:

    “Sou italiano e me envergonho de quem, italiano como eu, contesta a nomeação da ilustre Cecile Kyenge. É uma felicidade que tenhamos agora na Itália uma Ministra que possa trabalhar a favor de todas as etnias aqui existentes. Somos muitos, e a maioria de nós aprova a indicação da ilustre Ministra Cecile”.

    Obrigada, Francesco.
    Tania.

  2. I am Italian and I am offended by those who, like me, Italian, challenged by the Honorable Cecile Kyenge. Luckily in Italy now we have a Minister who can work in favor of the many ethnic groups. We are many and we are the majority approving the appointment to the Honorable Minister Cecile. Sorry for my English … I hope it is quite understandable.
    Sono italiano e sono offeso da chi, italiano come me, contesta la nomina dell’Onorevole Cecile Kyenge. Per fortuna in Italia adesso abbiamo un Ministro che può lavorare a favore delle tante etnie presenti. Siamo in molti e siamo la maggioranza che approva la nomina a ministro dell’Onorevole Cecile. Scusate il mio inglese… spero sia abbastanza comprensibile.

  3. O problema, Miro, é que estes núcleos sempre existiram, se fortalecem e se propagam. Veja o que acontece o Brasil.

  4. Na Itália e em outros países da Europa Ocidental ainda há núcleos do fascismo e extremismo.
    A sociedade e os governos desses países tão civilizados devem assumir seus papéis na eliminação total dessa doença social.

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