ASA CE escuta comunidades rurais de Sobral e denuncia muitas dificuldades

Queremos no semiárido
Terra livre do patrão
Água descentralizada
Servindo à população
Estocando o que comer
Todo mundo irá viver
Sem seca e sem precisão

ASA Brasil

Reunidos no dia 19 de abril de 2013, com a participação, de 12 municípios, o Fórum pela Vida no Semiárido da Microrregião de Sobral se manifesta profundamente contra a forma pela qual o governo vem tratando as ações paliativas e emergenciais em relação à seca enfrentada na nossa região e no nosso estado.

A escuta da realidade dos municípios demonstram que:

– A produção de legumes será de perda total por falta chuvas ou irregularidade das mesmas;

– Os recursos propagados pelo governo não estão chegando às comunidades que enfrentam escassez de água e de alimentos para os animais e as pessoas;

– A aquisição do milho distribuído pela CONAB tem sido uma verdadeira humilhação para os agricultores/as, pois a maioria dos que estão cadastrados não receberam e aqueles/as que tiveram acesso foram mal atendidos;

– Há um número muito pequeno de aprovação de projetos (PRONAF estiagem) através do Banco do Nordeste bem como a demora para a liberação dos recursos;

– As demandas de poços profundos que já foram alocados não têm atendido à real necessidade da população e, ao mesmo tempo, existem muitos poços que precisam apenas de consertos de bombas e isso não é feito;

– Os carros-pipas que ainda são poucos e, às vezes, chegam atrasados, levam água pra o consumo humano por vezes imprópria para o consumo e ainda falta água pra lavar roupa, tomar banho e pra os animais beberem;

– Tem carro pipa parado por que não recebem pagamentos de serviços prestados e têm famílias comprando uma carrada de água por R$ 180,00;

– Há politicagem com carro-pipa para atender mais aos cabos eleitorais que estimulam a violência, as intrigas e divergências entre as famílias camponesas e isso é um reforço da indústria da seca;

– Os municípios de Marco, Morrinhos, Bela Cruz, Senador Sá e Uruoca não estão segundo o Ministério da Integração Nacional dentro do Semiárido Legal, mas estão vivenciando as mesmas realidades de escassez de outros municípios, portanto reivindica-se que possam ser contemplados com as medidas emergenciais.

– Os alimentos básicos que os camponeses produzem (farinha, feijão e milho) estão caros e acima do poder de compra;

– Somos contra e lamentamos a imposição do governo em impor a oferta de cisternas de plásticos em dois municípios (Alcântara e Meruoca) da nossa região. Uma vez que o valor de da cisterna de plástico é três vezes maior do que as cisternas de placas, considerando ainda que não existe mobilização social com as famílias e nem gera empregos para agricultores/as pedreiros/as das comunidades;

– Os programas sociais (Bolsa Família, Brasil Carinhoso, Seguro Safra, Bolsa Estiagem) não dão conta da garantia de direitos básicos das famílias a sobreviverem frente ao período de seca existente e ainda existem famílias em situação mais graves, pois não recebem estes benefícios;

– As áreas dos perímetros irrigados estão nas mãos dos fazendeiros ou comerciantes e precisa-se se fazer um recadastramento pelo DNOCS para que os mesmos fiquem para os agricultores/as familiares;

– Os reservatórios de grande porte (açudes, barragens) ainda estão com um aproximadamente de 35% de suas capacidades, portanto são águas centralizadas;

– A demanda por Cisternas de placas para consumo humano ainda é grande, principalmente para segunda água (água para produzir).

– As cisternas de placas facilitaram e muito a vida da população, pois tem sido os únicos reservatórios para receber água fornecida pelos carros pipas;

– Precisa-se ter um programa de incentivo ao trabalho de preservação das sementes crioulas através da implantação de casas de sementes comunitárias à luz de onde já existe.

Repudiamos o termo “combate a seca” usado pelo governo, que é impróprio, pois as ações e tecnologias de Convivência com o Semiárido implementadas pela Articulação Semiárido Brasieliro – ASA já demonstrou para toda sociedade, inclusive para o governo que a seca não é dragão para se combater e sim um fator climático propriamente do Semiárido e desse modo, exige-nos um novo olhar e a construção de iniciativas para convivermos com ele.

Por isso, entendemos que a situação de pobreza não é causada pelo fator climático, mas principalmente pela falta de uma política contextualizada que possa trabalhar os potenciais locais, descentralizar a terra e a água, pensar o desenvolvimento a partir das vocações existentes e, acima de tudo, compreender as que ações estruturantes de Convivência com o Semiárido criando uma nova cultura de condições sustentáveis para nossa região.

Nesse sentido as cisternas de placas para consumo humano, cisternas-calçadão e enxurradas para produção, barragens-subterrâneas, quintais produtivos, tanque de pedra, bomba d’água popular, barreiros-trincheiras, mandalas, sistemas agroflorestais, casas de sementes, poços profundos, olhos d‘água, hortas comunitárias, criação de pequenos animais, plantação de forrageiras têm sido meios que os agricultores/as relatam estarem servindo e garantindo uma vida melhor nos sertões da região de Sobral.

Reivindicamos uma resposta concreta para suprir a realidade desde o compromisso político até as comunidades serem beneficiadas pelos programas paliativos e ressaltamos que o compromisso do nosso Fórum é lutar para que as ações emergenciais possam dar continuidade na forma de políticas institucionais permanentes que garantam segurança hídrica e alimentar, incentivando o uso de tecnologias adaptadas à realidade climática da nossa região em vista de um semiárido democrático e sustentável para todos/as.

Sobral, 19 de abril de 2013
FÓRUM PELA VIDA NO SEMIÁRIDO DA MICRORREGIÃO DE SOBRAL

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