Dentre os 21 listados pela Pastoral da Terra, 18 são índios. Ameaças de morte são frutos de conflitos no campo em 2012.
Renê Dióz, do G1 MT
Um levantamento anual realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontou que 21 pessoas sofreram ameaças de morte ao longo do ano de 2012 devido a conflitos no campo em Mato Grosso e 18 destas vítimas são índios das etnias Xavante e Myky. Além deles, a lista de vítimas inclui o bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, e o ex-prefeito de Alto Boa Vista (município a 1.064 km de Cuiabá), Wanderley Perin.
Em 2011, a CPT identificou em Mato Grosso um total de 10 pessoas ameaçadas de morte por envolvimento em casos de disputa por terras. Três eram líderes indígenas da região da reserva Urubu Branco, em Confresa, a 1.160 km da capital.
Já o novo rol de ameaçados contém um total de 21 pessoas. Embora não mencionados nominalmente pela CPT, 15 são índios da etnia Myky, residentes da aldeia Japuíra, na terra indígena Menkü, perto de Brasnorte (a 580 km de Cuiabá). Os myky reivindicam a inclusão de uma área de quase 100 mil hectares. A alegação é de que a demarcação em 1987 não contemplou o trecho.
Em disputa judicial, produtores rurais da região de Brasnorte defendem-se afirmando que estão na região há mais de 30 anos e que a ampliação da reserva indígena seria ilegal.
Os demais indígenas constantes da lista de ameaçados são um cacique xavante da reserva de São Marcos e os também xavantes Mário e Damião Paridzané, ambos originários das terras de Marãiwatsédé, no nordeste do estado. Até o ano passado a área era ocupada por posseiros quando teve início, entre dezembro de 2012 e o início deste ano, operação policial de desintrusão após mais de 20 anos de disputa judicial.
Embora contatada pela reportagem do G1, a Fundação Nacional do Índio (Funai), em Brasília, não se pronunciou até o fechamento desta reportagem a respeito dos indígenas ameaçados de morte.
Suiá Missú [sic]
Além dos Paridzané, a lista da CPT inclui o ex-prefeito de Alto Boa Vista, Wanderley Perin, e o bispo Casaldáliga como vítimas de ameaças em decorrência da disputa pelos mais de 165 mil hectares de Marãiwatsédé, antiga gleba Suiá Missú.
Perin contou que recebeu ameaças de morte direta e indiretamente, por meio do falatório na região, durante as manifestações dos posseiros da terra indígena ao longo do ano passado, quando estava à frente da Prefeitura de Alto Boa Vista.
Desde então ele se declarava contra a permanência dos fazendeiros na área demarcada. Um dia, em um dos bloqueios realizados pelos fazendeiros em protesto, um manifestante chegou a lhe apontar uma arma de fogo, sendo logo impedido por um outro. Porém, não cessaram as ameaças veladas e o medo, relata o ex-prefeito. “Minha família se mudou para Goiás. Hoje, ainda não é igual uma vida normal, como era antes. Não vamos dar chance ao azar, né. É uma coisa que não acabou”, lamenta.
Já o bispo Casaldáliga precisou até se mudar temporariamente de São Félix do Araguaia no final de 2012, quando começaram os trabalhos de desintrusão da terra indígena, com atuação da Força Nacional de Segurança, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e do Exército. Após a conclusão do despejo dos não-índios, porém, o sacerdote nunca mais recebeu qualquer ameaça e, segundo o padre Paulo Santos, que trabalha com o bispo na cidade, o catalão de 85 anos está tranquilo hoje em dia.
O último nome constante da lista da CPT é o de um líder de trabalhadores rurais da gleba Nhandu (Fazenda Cinco Estrelas), no município de Novo Mundo (a 791 km de Cuiabá).