MS – Índios se mobilizam para resistir a despejo decretado pela juíza Raquel Domingues do Amaral Corniglion

Índios reunidos na tribo em Caarapó. Foto: Michel Filho/O Globo

IHU – A bandeira vermelha foi hasteada nesta sexta-feira no acampamento guarani-caiová de Pindoroky, em Caarapó, Mato Grosso do Sul. Foi o sinal dado pelos mil indígenas instalados dentro da fazenda de Orlandino Gonçalves Carneiro, de que vão resistir à ordem judicial de reintegração de posse.

A Justiça deu a eles dez dias para desocupar a fazenda e permitir a exumação do cadáver do menino Denilson Barbosa, de 15 anos, assassinado a tiros em fevereiro pelo fazendeiro. Isso revoltou os índios, que estão dispostos a morrer pela posse da fazenda, considerada por eles e pela Fundação Nacional do Índio (Funai) como parte da terra indígena. A reportagem é de Germano Oliveira e publicada pelo jornal O Globo, 13-04-2013.

A reintegração de posse foi concedida anteontem pela juíza Raquel Domingues do Amaral Corniglion, da 1ª Vara Federal de Dourados. A notificação chegou à aldeia ontem, o que faz com que eles tenham de deixar a área até dia 19 de abril, o Dia do Índio. Logo que souberam da ordem de despejo, os índios iniciaram a convocação dos guarani-caiovás de todo o sul do estado, como os vizinhos da reserva Teikuê, habitada por 5.600 índios. Nesta sexta-feira, já estavam no local 2 mil índios.

Aldeia quer reunir cinco mil para evitar a desocupação

Os líderes indígenas prometem reunir 5 mil homens até a semana que vem, para impedir o despejo. Em toda a região, com 26 municípios, moram 45 mil guarani-caiovás. Dezenas de líderes se reuniram nesta sexta-feira em frente à oca principal e, uma a uma, começaram a fazer relatos desesperados da situação em que vivem desde o dia 18 de fevereiro, dia em que o fazendeiro Orlandino Carneiro atirou duas vezes na cabeça de Denilson Barbosa. Foi depois desse crime que eles resolveram ocupar a propriedade e lá enterrar o corpo do garoto indígena.

Ernesto Veron, líder guarani-caiová, de cara pintada para a guerra, disse:

“Vamos reunir todos os nossos irmãos aqui para lutar contra a decisão da juíza. Ela não tem coração. Aqui moram crianças, velhos e mulheres grávidas. Vamos morrer aqui. Daqui não sairemos vivos. Aproveito para dar um recado para a juíza e para a presidente Dilma: a aldeia do Tekuê tem 5 mil índios e todos estão dispostos a resistir. Nosso sangue já foi derramado aqui”, disse, apontando para a cova onde está sepultado Denilson.

‘Isso não é justiça’

Os índios gritavam enlouquecidamente [sic] a cada palavra de Veron, que teve o pai, Marcos Veron, assassinado em 2003 por pistoleiros do fazendeiro Jacinto Honório, em Juti, a 40 quilômetros de Caarapó.

“Isso não é justiça. O assassino do Denilson está em liberdade. Ele matou o menino como se fosse um cão. Pegou o corpo, colocou numa camionete e o jogou na estrada. Depois, confessou o crime. Ao invés da Justiça jogar o fazendeiro atrás das grades, vem esta ordem judicial. Mas não vamos sair. Vamos enfrentar polícia, jagunços do fazendeiro, quem vier. Vamos resistir até a morte”, bradou Ernesto.

Depois, falaram os avós, tios e até os três professores de Denilson. Todos repetiam que vão resistir até a morte e que jamais permitirão a exumação do corpo do garoto. Muitos choraram enquanto falavam, em guarani, como foi o caso de dona Lúcia Barbosa, a avó:

“Não vou sair de perto do meu neto”.

O tio, Odivaldo Barbosa, ameaçou “invadir a cidade de Caarapó” se a reintegração acontecer:

“Não vamos correr. Pode vir batalhão de choque. Se a presidente Dilma não se sensibilizar e não fizer a demarcação das terras indígenas, é melhor que mande abrir grandes valas para nos enterrar aqui”.

Valdelice Veron, líder guarani-caiová, era a mais emotiva e contundente:

Orlandino é réu confesso, mas seus pistoleiros estão com sede do nosso sangue. Vão nos atacar junto com a polícia no dia do despejo, mas vamos morrer aqui lutando pela terra que a Constituição nos garante. Nunca aceitamos ficar no chiqueiro das oito reservas em que nos confinaram aqui no Mato Grosso do Sul. Vamos lutar por nossa terra até o último suspiro”.

MP vai recorrer

Os índios reivindicam uma área de seis mil hectares, incluindo a fazenda de Orlandino como terra indígena.

O procurador da República Marco Antonio Delfino, do Ministério Público Federal de Dourados, não acredita que a decisão da juíza será cumprida no próximo dia 19, como temem os índios. Segunda-feira, ele vai entrar com um embargo contra a decisão da Juíza Raquel Corniglion. Vai alertá-la de que a reintegração pode gerar um conflito de grandes proporções.

“A juíza não levou em consideração que 5 mil índios podem se rebelar. No embargo, vamos lembrar as dificuldades de se retirar tanta gente. Como convencer um índio que ele tem que tirar da terra o corpo de um filho?”, disse Delfino.

“Vamos levar pelo menos dois ou três meses com recursos, tempo suficiente para negociar uma saída para o impasse. A Funai e o MPF estão fazendo estudos antropológicos para considerar o local como terra indígena”.

Pedido de força policial

A advogada Sueli Lima, que representa o fazendeiro Orlandino Carneiro, no entanto, diz que se os índios não deixarem as terras de seu cliente em dez dias, vai requerer força policial para o cumprimento da ordem judicial:

“O Orlandino reconheceu seu erro. Foi à polícia e disse que atirou para assustar. Confessou que atirou, mas não é invadindo suas terras que vão penalizar meu cliente”.

Mais informações em:

MS – Viva a ‘meritíssima’! “Juíza concede reintegração de posse para fazendeiro que matou adolescente” e estabelece multa para indígenas

Comments (2)

  1. quem estava primeiro nestas terras que não era Brasil? é direito pelos métodos capione, meu. quem dá a legalidade para as terras dos povos originários? Isto é uma injustiça. Os povos originários são os donos das terras, meu. invasores são os portugueses, franceses, holandeses, espanhois, enfim, europeus. respeitem os verdadeiros pproprietários.

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