Revista policial em negros e latinos gera protestos em NY

Manifestantes protestam contra revistas realizadas pela polícia de Nova York, que consideram discriminatórias

Lucas Ferraz – Folha de S.Paulo

Nova York – O americano Sharbeek Terry, 39, diz não se lembrar mais de quantas vezes foi revistado pela polícia de Nova York.

“Calculo umas sete vezes”, disse. Na última delas, conta, foi parar na delegacia. “Me algemaram, me sacudiram e bateram nas minhas pernas. Fui detido com um outro homem, que ficou preso”, afirmou à Folha.

Terry, negro, é um dos 533 mil vítimas no ano passado do chamado “stop and frisk”, as revistas indiscriminadas feitas polícia de Nova York.

A prática do “baculejo” tem gerado controvérsia pela contabilidade dos alvos: 85% são negros e latinos, segundo a polícia. As estatísticas mostram que 90% dos revistados são inocentes.

Grupos de defesa dos direitos civis e humanos dizem que a prática é aplicada de forma preconceituosa e racista, desrespeitando os princípios expostos na Constituição dos EUA –que prevê a revista somente se há suspeitas concretas.

A prefeitura de Nova York defende a estratégia, que considera eficaz no enfrentamento ao crime.

As revistas começaram a ser adotadas nos anos 1970, quando a maior cidade do país vivia forte onda de violência, com as ruas tomadas por gangues e drogas.

A ação da polícia endureceu nos anos 1990, com a aplicação da política conhecida como “tolerância zero”, que foi essencial para reduzir a criminalidade.

Desde a década passada, após o atentado terrorista de 11 de setembro, as revistas se intensificaram.

Conforme números do NYPD (sigla em inglês para Departamento de Polícia de Nova York), a prática saltou de uma média de 100 mil em 2002 para 700 mil em 2011.

A Folha visitou a região do Brooklyn de East New York. Lá, um dos bairros, Cypress Hill, tem o maior número de batidas na cidade.

Área pobre com pouco comércio e escolas, tem predominância de negros americanos e imigrantes latinos.

“É muito comum ver esse tipo de coisa aqui”, conta o vendedor de churros Antonio Castro, 39.

Equatoriano que vive nos EUA há 15 anos, ele não sabe falar inglês. “Parece racismo da polícia, mas pelo menos a situação melhorou. Há cinco ou seis anos, a violência era muito pior.”

O jovem Danny Webb, 25, tem o perfil do americano que costuma ser parado nas batidas: negro, boné, roupas largas e medalhões.

Nascido em Cypress Hill e atualmente trabalhando na construção civil, ele afirma que nunca foi revistado, mas se diz revoltado com o que costuma ver. “É um desrespeito muito grande, aqui não se respeita nenhum direito.”

Muitos casos envolvendo vítimas do “stop and frisk” chegaram aos tribunais americanos. Diferentemente do Brasil, Estados e municípios americanos têm mais autonomia para criar legislações próprias. Mas desde 1968 a Suprema Corte americana vem reiterando que a polícia só pode realizar revistas em pessoas se há uma suspeita evidente, baseada em fatos, e não em um palpite.

“Sim, os meus direitos foram violados. Mas e aí, o que vou fazer?”, questionou Terry, que vive de bicos em Cypress Hill.

Até em áreas de Manhattan onde são minoria, negros e latinos ocupam as primeiras posições nas estatísticas.

Em bairros como Soho e Village, onde eles são apenas 8% da população, 77% dos “baculejos” são contra pessoas que se enquadram em algum dos dois grupos.

Procurado pela Folha, o departamento de polícia de Nova York não quis comentar o “stop and frisk”.

Enviada por José Carlos para Combate Racismo Ambiental.

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