O que significa a paz para mulheres vítimas do conflito armado?

Foto: azalearobles.blogspot.com

Óscar Javier Calderón Barragán* – Adital

“Quero a paz, quero-a a cada dia, não mais guerra, não mais matanças”.

Para Concepción, a paz significa necessariamente justiça e reconciliação, e este é o seu mais profundo desejo e esperança.

A história de Concepción reflete a de muitos outros colombianos que se viram obrigados a viajar de um lugar para outro para salvar a própria vida, pois vivem em uma zona de disputa entre os diversos grupos armados que se valem de práticas cada vez mais degradantes.

Concepción, uma humilde camponesa, vivia com sua família na área do Rio Catatumbo, ao norte de Santander, no nordeste da Colômbia. Um dia, ela e seus filhos viram-se prisioneiros da violência. Constantes ameaças e perseguições obrigaram-nos a fugir de sua casa e ir para Cúcuta, na fronteira com a Venezuela. Porém, o pior ainda estava por vir: seu filho “desapareceu” quando ia ao campo trabalhar como jornaleiro agrícola.

Em sua busca pela verdade e justiça, Concepción encontrou-se cara a cara com os algozes, por ocasião dos processos criados no marco da Lei de Justiça e Paz de 2005. Quando, insistentemente, perguntou pelo corpo do filho, um comandante das Autodefesas (grupo paramilitar) reconheceu que o corpo tinha sido jogado no rio, o que eliminava toda esperança de ser encontrado.

Essa dolorosa experiência marcou significativamente a vida de Concepción ao ponto dela “perder o medo”, como expressa. Apesar de compreender claramente o processo de justiça transicional na Colômbia, Concepción sente que esta não é a justiça que quer. Não há indenização ou reparação que lhe devolva seu filho ou seus sonhos.

Porém, suas feridas estão sarando. Há sete anos Concepción e outras mulheres de sua comunidade que, como ela, sofreram as consequências da guerra, reúnem-se uma vez por semana. Através da escuta atenta e respeitosa, bem como da ajuda mútua e da oração, tentam sarar as feridas da guerra. Conscientes de seus direitos, essa mulheres trabalham para evitar que tragédias como a sua se repitam. Após o encontro e como parte deste, saem a caminhar pelas ruas de sua comunidade buscando outras mulheres que ainda não começaram a trilhar o caminho da reconciliação, para partilhar seus anseios de paz.

Muitas pessoas “desapareceram” na Colômbia, vítimas dos grupos armados, que levam décadas em guerra. Entre os desaparecidos há defensores de direitos humanos, sindicalistas, afrocolombianos e jovens das zonas rurais em conflito.

[Os nomes foram trocados por motivo de segurança].

*Coordenador do escritório do Serviço Jesuíta aos Refugiados – Colômbia, em Cúcuta

Enviada por José Carlos para Combate Racismo Ambiental.

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