Reunião das lideranças do Povo Indígena Munduruku na Aldeia Sawre Maybu

Lideranças Munduruku - Foto: Telma Monteiro

Uma comissão de aproximadamente 40 lideranças indígenas Munduruku do Alto e do Médio Tapajós foram à aldeia Sawré Maybu localizada no Médio Tapajós, em Itaituba, para prestar apoio e consolidar a aliança de todo o povo Munduruku localizado ao longo do rio e da bacia do Tapajós. A FUNAI/Itaituba e o CIMI foram convidados. 1 pessoa da fundação e 2 missionárias do conselho acompanharam a reunião

Edilberto Sena* – IHU

Os Munduruku resolveram se unir frente às ameaças do governo brasileiro de ataque da Polícia Federal, Rodoviária Federal e das Forças Armadas destacadas à região para a Operação Tapajós. De acordo com nota da AGU, retirada do ar, a operação Tapajós foi destinada à região de Itaituba para iniciar a partir do feriado de semana santa e tem como objetivo garantir a realização de estudos nas terras Munduruku para viabilizar a implantação de barragens no rio Tapajós.

Nenhum pesquisador ou estudioso, no entanto, foi encontrado na região. Nem na área urbana de Itaituba, no trecho da transamazônica até o porto Buburé, nas terras indígenas da região de Itaituba e no rio Tapajós, mas apenas as forças armadas. Por isso, os Munduruku estão convencidos de que a finalidade da operação é na verdade para reprimir, coagir e em caso de reação à intimidação, atacar o povo indígena.

Intimidação e ameaça Policial na região

O acesso à aldeia Sawre Maybu é feito através da Transamazônica (quilômetro 70), e posteriormente o percurso é feito através de ramal que vai até o rio Tapajós, com saída por um porto denominado Buburé.

A polícia federal, a polícia rodoviária federal, a força nacional e exército estão circulando pela região urbana de Itaituba até essa região desde 27/03/2013 por via aérea, rodoviária e fluvial. Há policiais e forças armadas espalhados nos principais pontos deste percurso: perímetro urbano de Itaituba e terras indígenas próximas, na transamazônica região do Médio Tapajós, no quilômetro 70 da transamazônica, onde está o ramal de acesso ao porto Buburé e área portuária e no rio Tapajós.

Os policiais e militares estão ostensivamente armados, com equipamentos e se transportando através de helicópteros, voadeiras, pick ups/carros 4X4. Desde o dia 27/03/2013 os Munduruku e outras pessoas convidadas para ir à terra Sawre passaram por constrangimento e intimidação das forças armadas no trajeto de ida, durante a reunião, na saída e no caminho à Itaituba. Houve entrada de policiais federais nos ônibus dos indígenas na transamazônica, com tentativa de forçar escolta. Além de interrogatório das pessoas que estão em circulação neste trecho, registro de fotos, sobrevôo às terras indígenas da região e passagem de várias voadeiras pelo rio em frente à aldeias, principalmente da Sawre Maybu.

Os Munduruku sentiram-se humilhados sem motivo e tratados como bandidos pelos agentes do governo.

Recado dos Munduruku à Presidência da República

Os indígenas estão se sentindo traídos diante do descumprimento da palavra da Secretaria Geral da presidência da República e do governo sobre esperar a realização da reunião dos caciques Munduruku no dia 10/04 para manifestação sobre como querem o processo de consulta prévia à barragem de São Luis do Tapajós. Além disso, a não comunicação prévia aos indígenas e à Coordenação Regional da Funai de Itaituba sobre início da Operação Tapajós, somadas às humilhações e intimidações das forças armadas no território Munduruku, pioraram esse sentimento entre as lideranças de toda a bacia. Por isso, os Munduruku fizeram um documento onde pedem para anexar ao processo sobre a UHE São Luís do Tapajós em andamento na na justiça federal. Também declaram que deve ser entregue ao governo, às autoridades competentes e à sociedade denunciando o que está acontecendo na região, comunicando a sociedade e exigindo providências, principalmente a saída imediata das forças armadas de suas terras.

Em conversa no fim da manhã do dia 30/03/2013 com Tiago Garcia, representante da SGRepública que vem interagindo e assumindo compromissos do governo com parte das lideranças sobre a usina de São Luis do Tapajós, os Munduruku expressaram o sentimento de descrédito neste representante e no governo após o não cumprimento da palavra, as humilhações e desrespeito dos agentes armados. Por isso, mandaram o seguinte recado ao governo:

“Se o governo quiser diálogo com Munduruku tem que parar a Operação Tapajós e mandar tirar as forças armadas de nossas terras. Nós não somos bandidos, estamos nos sentindo traídos, humilhados e desrespeitados com tudo isso. O governo não precisa da polícia e da força nacional para dialogar com o povo Munduruku. Nós queremos diálogo, mas só falaremos com o governo depois que todos os caciques do alto, médio e baixo conversarem e tomarem sua decisão. É nosso último aviso. Se a Operação não parar, não vai ter mais diálogo com os Munduruku, vamos acionar os caciques e vai ter guerra.”

Além disso, lideranças Munduruku deram entrevista à imprensa local.

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