Cacique Xavante sofre ameaça em Marãiwatsédé depois de retirada dos invasores

Por Ruy Sposati, de Campo Grande (MS)

A paz para os Xavante de Marãiwatsédé ainda parece algo distante. O cacique da aldeia, Damião Paridzané, sofreu uma ameaça em público no dia 8 de março, pouco mais de um mês depois de finalizada a desintrusão do território. O território fica situado nos municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia, nordeste do Mato Grosso. Os indígenas lutaram por quase meio século para garantir a permanência na área.

A ameaça aconteceu na área comercial do município de Bom Jesus do Araguaia. O cacique estava na cidade com um grupo de jovens guerreiros Xavante. Num momento em que Damião estava sozinho, foi abordado por um antigo morador de Posto da Mata, uma das comunidades retiradas da terra indígena. “Ele ameaçou e culpou o cacique Damião de ter tirado todos os posseiros de lá”, relata o indígena Aquilino Tsere’ubu’õ Tsirui’a.

De longe, os guerreiros perceberam os gestos exaltados do homem e correram para afastá-lo. “Todo mundo conhece esse homem [que ameaçou Damião]. Ele é um matador. E ele também é genro de um famoso pistoleiro daqui”, denuncia. Os Xavante, então, levaram o cacique de volta para a aldeia.

A essa nova intimidação somam-se duas ameaças ao bispo emérito de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga. Defensor histórico da luta dos Xavante pela retomada de Marãiwatsèdè, dom Pedro foi ameaçado anonimamente de sequestro e morte em dezembro de 2012, e em fevereiro desse ano. Ainda no ano passado, a Polícia Federal (PF) confirmou a veracidade das ameaças, abriu inquérito para tratar do caso e deslocou contingente da Força Nacional para a região.

A terra de Marãiwatsédé foi tomada dos Xavante em 1966 pela Agropecuária Suiá-Missú. Recuperada em 1992 e homologada pela Presidência da República em 1998, os indígenas até sofreram grandes pressões de latifundiários e do poder político local para que suas terras permanecessem nas mãos dos fazendeiros. Até o início da desintrusão, em dezembro de 2012, cerca de 90% da área ainda estava sob o domínio dos invasores, que a utilizavam para gado e plantações de soja e arroz.

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