Pedro Rotterdan – Hoje em Dia
Alunos do curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) podem ser expulsos da instituição após realizarem um trote de cunho racista e com apologia ao nazismo. Essa é uma das penalidades previstas pela Comissão de Sindicância criada nesta terça-feira (19) para apurar o caso.
“A pena será decidida pela Comissão, que ouvirá todos os envolvidos. Caberá à universidade aplicar a punição, conforme recomendado pela Comissão, cuja decisão tem como base o Regimento Interno da UFMG. Dependendo do encaminhamento da apuração dos fatos, a Comissão pode ter o prazo prorrogado por mais 30 dias”, anunciou a vice-reitora da UFMG, Rocksane Norton em nota. Integram a comissão os professores Hermes Vilchez Guerrero, Maria Tereza Fonseca Dias e Yaska Fernanda de Lima Santos.
Na segunda-feira (18), duas imagens do trote foram postadas na Internet. Em uma delas é possível ver três universitários fazendo saudação nazista, ao lado de um quarto estudante que está amarrado em uma pilastra. Na outra foto, uma jovem com o corpo pintado de preto tem as mãos acorrentadas e é puxada por um rapaz. Ela carrega no pescoço uma placa com a frase: “Caloura Chica da Silva”.
Repúdio
Segundo a Executiva Nacional da Anel, Juliana Rocha, a primeira reunião aconteceu na Escola de Direito e a segunda na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). O objetivo dos encontros foi conscientizar a classe universitária em relação aos temas dos trotes e pedido de punição aos alunos que praticaram uma saudação nazista.
“Nós repudiamos o trote e os acontecimentos. As letras machistas cantadas pelos estudantes, o fato de chamarem uma caloura de Xica da Silva, por ter sido rebelde, e a saudação nazista feita por alguns alunos são atos vergonhosos. A escravidão e o holocausto mataram milhões de pessoas no mundo e jamais deveriam ser lembrados”.
A Anel e a Unegro vão pedir a abertura de uma sindicância para que a faculdade puna os envolvidos. “Queremos pelo menos uma suspensão de três meses para esses estudantes. Sou negro e calouro de Ciências do Estado na Escola de Direito e não gostei do que fizeram. Eles premeditaram tudo. A UFMG anunciou antes que trotes machistas e racistas estavam proibidos. Mesmo assim, fizeram o que eles chamaram de brincadeira”, disse o presidente da Unegro, Alexandre Braga.
Entre os alunos do curso de Direito as opiniões são diferentes. Alguns enxergaram o ato como brincadeira outros acham que a punição tem que ser feita. “Achei exagerado toda essa repercussão. Ninguém na faculdade de Direito apoia o nazismo ou a escravidão. Fomos mal compreendidos. Não é isso que queremos. Tudo não passou de uma brincadeira”, disse uma aluna do 4º período que pediu para não ser identificada.
Durante a reunião que aconteceu na parta da manhã, um grupo de alunos chegou a aplaudir quem organizou o evento. “Temos que apoiar sim. Foi brincadeira. Na próxima a gente muda o jeito de agir. Não era pra ser isso tudo não”, afirmou outro aluno.
Juliana Rocha disse que o que os alunos consideraram brincadeira atingiu diretamente muitas pessoas. “Isso deixa judeus abalados, negros e mulheres tristes. Falam que foi brincadeira, porque não doeu neles”, afirmou.
A escolha dos estudantes é ficar no anonimato para não sofreram algum tipo de represália. “Essa minoria que fez esse ato vergonhoso não representa todos os alunos do curso de Direito. Foram nazistas sim, foram racistas e machistas também. Vou lutar para mudaram as letras da charanga e o comportamento. Os alunos que são contra também devem se manifestar. Caso contrário, o nome do nosso curso vai ser jogado na lama”, disse uma aluna do terceiro período.
O Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP), que fica na Escola de Direito, também se manifestou contra a ação dos estudantes.
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Enviada por José Carlos para Combate ao Racismo Ambiental.
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