Aldeia Maracanã promete ato cultural-religioso a partir das 16 horas de hoje: “Não vamos sair, e a nossa resistência será cultural”. Prazo judicial termina às 23:59h

Caio Lima* – Jornal do Brasil

Mesmo com prazo para desocupar o prédio do antigo Museu do Índio se expirando às 23h59 desta quarta-feira (20), o clima dos indígenas da Aldeia Maracanã nesta terça-feira (19) é tranquilo. Em atmosfera amena e pacífica, eles prometem realizar um ato cultural nesta quarta (20), às 16h, que deverá se estender até a chegada dos policiais e representantes do governo do estado.

“Não vamos sair e a nossa resistência será cultural. É possível que venham com violência, mas a nossa ideia é que quando eles chegarem aqui, nós estejamos fazendo nossa ação cultural-religiosa. Não queremos mostrar luta e sangue na nossa aldeia, mas a nossa cultura”, afirmou um dos integrantes da Aldeia Maracanã, Ivano, da etnia Assurini.

Outro indígena da tribo, Kaiah Waiwai endossa o pensamento de Ivano: “Estaremos aqui preparados, com nossos maracás (chacoalho indígena) e todos os instrumentos para mostrar à população que o governador Sérgio Cabral está destruindo a cultura indígena”.

Kaiah Waiwai afirma que não aceita nenhuma proposta do governo que os tire do terreno onde já estão. “Minha ligação é com este lugar, um lugar de todos os povos indígenas do Brasil. Gostaria que fizessem daqui uma espécie de embaixada indígena, onde pudéssemos ser representados”, ressalta o indígena.

Companheira de Kaiah, Marcia Guajajara está mais tensa com a situação e lembra que a aldeia não possui nenhuma alternativa de moradia, caso sejam obrigados a deixar o terreno do antigo Museu do Índio.

“Alternativa nossa, não temos. O governo não mostrou nenhuma proposta segura. O fato é que não podemos deixar o que é nosso. Quem não fica com medo de sair de um lugar que é seu, para ir para o nada?”, questiona Marcia Guajajara, ao ressaltar que lutará até o final pela aldeia e pela construção de um museu que preserve a cultura indígena.

Mais transparência

Segundo o índio Tobi, tupi-guarani da região do Amazonas, o que poderia resolver o imbróglio seria mais clareza por parte do governo.

“Essas propostas de nos botar, por exemplo, na Quinta da Boa Vista, não dizem nada para nós. Não existe dinheiro no mundo que pague a história desse prédio para os índios. Não é o físico, mas sim o valor histórico espiritual que nos interessa” afirma Tobi, que lembra a passagem de Marechal Rondon pelo terreno.

O imbróglio

Na última sexta-feira (15), a Justiça Federal determinou um prazo de 72h para os índios saírem do local, que se esgotaria na última segunda-feira (18). No entanto, na interpretação do juiz da 8ª Vara Federal, Renato Cesar Pessanha, esse prazo só começou a ser contado a partir de segunda (18), primeiro dia útil após a determinação de despejo.

A decisão que determinou a desocupação do imóvel foi ordenada pela Justiça Federal, pois o governo do Rio havia entrado com um mandado de imissão de posse do prédio, comprado da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Diante da ordem, o defensor público da União, Daniel Macedo, ingressou no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) com um recurso de agravo de instrumento, pedindo mais 15 dias de prazo, além das 72h estipuladas pela Justiça Federal. Porém, ainda não houve resposta para o recurso e o prazo para o índios deixarem o terreno continua até as 23h59 desta quarta-feira (20).

*Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.