Carolina Gonçalves, Repórter da Agência Brasil
Brasília – A pequena índia tinha apenas 12 anos quando não resistiu às promessas de uma vida melhor e deixou a aldeia no interior de Goiás para seguir viagem com um grupo de ciganos. Quase sete meses depois de seu desaparecimento, ela foi encontrada em Minas Gerais. Nenhuma promessa foi cumprida pelo grupo que, ao contrário, violou vários direitos da jovem, segundo relatos de representantes do programa de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas de Minas Gerais, um dos responsáveis pela solução do caso.
Não ficou confirmada a exploração sexual da jovem, mas ao longo desses meses ela sofreu agressões verbais e físicas.“É um caso muito comum de tráfico doméstico de pessoas. Oferecemos atenção para a garota e articulamos a rede com os órgãos de Goiás, porque temos que garantir que as pessoas sejam assistidas da forma mais correta”, contou a psicóloga Ariane Gontijo Lopes Leandro,diretora do programa mineiro de enfrentamento ao crime.
Ariane que comanda o núcleo na capital mineira, onde estão sendo analisados outros 15 processos como esse, explicou que as instituições não estão preparadas para lidar com o problema. “Há muita desinformação e temos que ter cuidado para a vítima não sofrer retaliações. Os inquéritos, hoje, não são feitos com cautela”, disse ela. Segundo a psicóloga ainda existem profissionais que não reconhecem o crime, “não acreditam que existe tráfico de pessoas e dizem que elas [as vítimas] escolheram ir”.
A situação dificulta ainda mais as estatísticas sobre tráfico de pessoas no país. Um levantamento divulgado recentemente pelo governo, mostrou que, entre 2005 e 2011, houve 475 vítimas do tráfico de pessoas e quase todas (337) sofreram exploração sexual. Representantes do governo sinalizam que os números podem estar subestimados já que o registro desse tipo de crime é deficiente, principalmente, porque as pessoas não querem se expor ou sequer se veem como vítimas.
A maioria das vítimas (25%) não tinha sequer 20 anos de idade, era solteira e tinha baixa escolaridade. Ainda que especialistas e representantes do governo evitem apontar tendências sobre os alvos preferenciais desse tipo de crime, profissionais como Ariane destacam fatores que explicariam o perfil da maioria das vítimas.
“É fato que as mulheres são mais vulneráveis pelo poder da estrutura patriarcal de violência que ainda é cultural e tem subgrupos mais vulneráveis, pelas condições de acesso [econômico]. Não é qualquer pessoa que se torna vítima. Tem que ser alguém suscetível à vulnerabilidades”, disse.
Para Ariane, mulheres das classes A e B poderiam, por exemplo, viajar para o exterior para fazer intercâmbio ou para turismo. “As mulheres das classes C, D e E, como vão conseguir arcar com o custo e as dívidas de uma viagem e da passagem? É assim que elas entram no circuito que viola cotidianamente seus direitos, porque têm que cumprir com os compromissos e querem aproveitar para dar boas condições para a família que ficou no Brasil”.
O levantamento do governo mostra que a maioria das vítimas brasileiras procura como destino os países europeus: Holanda, Suíça e Espanha. Pernambuco, Bahia e Mato Grosso do Sul são os estados onde se registram mais casos de vítimas. Especialistas ainda acreditam que alguns estados são mais visados pelos aliciadores, entre eles, Goiás.
Em Águas Lindas, município de Goiás, o movimento feminista conhecido como Promotoras Legais Populares, que capacita mulheres em serviços de apoio à população, está concluindo um projeto de disseminação de informação entre jovens. “A gente entende que é a idade ideal para começar a ter esse conhecimento. É uma população que tem mais vulnerabilidade. Quando você é jovem, é mais fácil se deixar levar por promessas, e expectativas de vida”, explicou a advogada Cíntia Mara Dias Custódio, uma das promotoras legais do Distrito Federal.
Alunos de duas escolas do município de Águas Lindas de Goiás, devem começar a participar de oficinas quinzenais nos próximos meses. Segundo Cíntia Mara, as promotoras da região vão definir, até o final do mês quais as escolas que vão receber os grupos. “Serão dois grupos para fazer o trabalho. Vamos tratar questões como cidadania, raça e outras relacionadas às classes sociais até chegar ao tráfico de pessoas”.
Edição: Tereza Barbosa
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Enviada por José Carlos para Combate ao Racismo Ambiental.
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